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Como lidar com a ansiedade diante de uma Cirurgia Cardíaca

ansiedade

Por Maria Júlia Búrigo Trento, Psicóloga (CRP 12/09696) e Coordenadora de Gestão de Pessoas, Departamento Pessoal, SESMT e Educação Permanente no Hospital SOS Cárdio.

Nas indicações de cirurgias cardíacas, torna-se comum que paciente e familiares envolvam-se de forma ambivalente. Mesmo quando realizada adequadamente, a cirurgia tem repercussões físicas, psicológicas e sociais, demandando adaptações e mudanças no estilo de vida. Para se ter uma ideia, normalmente a percepção do paciente baseia-se, por um lado, em uma intervenção mágica que o livrará de riscos maiores e, por outro, no medo do procedimento e no receio de sofrer danos irreversíveis. Desta forma, quando um paciente recebe a notícia de que terá que se submeter a um procedimento cirúrgico, na maioria das vezes ficará focado nas implicações deste evento em sua vida.

Mas em situações como essas, algumas fantasias e sentimentos desencadeados são considerados comuns como, por exemplo, sintomas de ansiedade, humor deprimido, medo e expectativas negativas sobre o futuro. Neste sentido, o preparo psicológico de todos os envolvidos tem como maior objetivo favorecer a adaptação ao procedimento além torná-los mais ativos nas decisões. Na maioria dos casos, pessoas preparadas psicologicamente para encarar uma cirurgia apresentam menos sintomas de ansiedade e condutas negativas, se comportando por consequência, de maneira mais colaborativa.

Ansiedade: a emoção mais comum na cirurgia do coração

Dentre os sintomas citados acima, podemos considerar a ansiedade a emoção mais comumente presente. Por este motivo, é preciso dar a este sintoma uma atenção especial. A ansiedade pode influenciar na resposta do paciente frente ao tratamento cirúrgico e acarretar efeitos negativos na recuperação pós-operatória. Um alto grau de ansiedade poderá levar o paciente a se mostrar indiferente, o que ocasionaria dificuldades no momento de compreender as orientações e informações recebidas ou mesmo apresentar resistências em se reorganizar diante desta nova situação vivida. Mas existe uma faixa de ansiedade que deve ser considerada desejável. Níveis moderados de ansiedade pré-operatória podem auxiliar os pacientes a se prepararem para cirurgia e reduzir o estresse da situação, impulsionando-os a agir, fazer perguntas à equipe, relacionarem-se de forma tranquila com os familiares e aceitarem as restrições impostas pelo preparo pré-cirúrgico.

Grande parte dos aspectos causadores da ansiedade diz respeito às incertezas com relação à sua evolução, perda de controle sobre si mesmo, o medo de ficar dependente de alguém, a despersonalização, o medo com relação à vida em si bem como a separação da família, da casa e do trabalho. A distância dos familiares, o ambiente estranho, os procedimentos invasivos, as dores e limitações físicas, normalmente, são fatores que geram bastante sofrimento.

Perceber a presença de mecanismos de defesa e entender como o paciente responde à situação torna-se importante tanto no momento pré como no pós-cirúrgico. Desta forma, o sucesso do procedimento estará diretamente ligado à identificação de como o paciente enfrentará e lidará com a situação de estar aguardando uma cirurgia cardíaca. Com esta identificação, poder-se-á orientar os envolvidos e ajudá-los na busca pelo entendimento e por manejos adequados nas situações que possam vir a surgir antes, durante e após o procedimento.

Relacionamento entre paciente, familiares e equipe médica

Neste sentido, é visto que se deve considerar na análise dos fatores que podem contribuir para a reação do paciente ante a cirurgia, o relacionamento estabelecido da família para com equipe médica e paciente. Isso porque os familiares e/ou envolvidos que irão acompanhar o processo, podem também organizarem-se para apresentarem menor ansiedade frente à exposição do paciente, colaborando assim no tratamento do mesmo, ou seja, a postura dos envolvidos frente ao evento também é de fundamental importância, uma vez que o modo como a família enfrenta a doença interferirá diretamente na vivência do paciente frente ao procedimento. Seguindo a ideia de que quando estes se apresentarem ansiosos poderão também gerar grande nível de ansiedade para o paciente, torna-se muito importante que o preparo psicológico se estenda aos familiares uma vez que as instruções que os mesmos receberão serão importantes para ajudar no enfrentamento do paciente frente às condições adversas da cirurgia e para que apresentem condições de permanecerem menos ansiosos e temerosos.

Paciente e familiares e/ou envolvidos deverão então se atentarem a alguns pontos importantes:

  1. Estreitar a relação médico-paciente-família, propiciando informações detalhadas a respeito da cirurgia que irá ocorrer e aumentando a confiança recíproca.
  2. Ajudar o paciente na tomada de decisões, momento importante do processo e que deve ser feito com tranquilidade, clareza, veracidade de informações e principalmente sentindo-se seguro e apoiado por uma equipe interdisciplinar para que este momento seja prazeroso e realizador;
  3. Identificar a rede de apoio familiar e social que contribuirá para a recuperação do paciente.
  4. Saber identificar a existência da ansiedade em nível desejável de todos os envolvidos, reforçando com os familiares e/ou envolvidos as informações dadas para o cuidado e apoio emocional do paciente;
  5. Ajudar o paciente a diminuir sua ansiedade relativa à cirurgia, fazendo a diferenciação entre o que é real e o que é fantasioso ao mesmo tempo em que acolhendo suas demandas;
  6. Minimizar a angústia e ansiedade do paciente, favorecendo a expressão dos sentimentos e auxiliando na compreensão da situação vivenciada;
  7. Conscientizar o paciente sobre a importância de seguir as orientações pós-operatórias, cabendo a ele o autocuidado;
  8. Ajudar o paciente na adaptação à nova imagem, percepção e interpretação de si, a lidar com sentimentos de apreensão, ansiedade ou angústia que podem ocorrer, como também a entender e defender-se das reações e comentários de terceiros.

Em síntese, a psicoprofilaxia cirúrgica, ou seja, o preparo psicológico antes da cirurgia, é uma importante alternativa para se lidar com maior tranquilidade em todas as fases do evento cirúrgico. O suporte psicológico ajudará pacientes e familiares a enfrentarem e/ou aliviarem sintomas e dificuldades específicos derivados da situação, como também prevenirem e diminuírem os efeitos estressores da mesma.

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