Convidamos a Dra. Andréia Dias de Azevedo* (CRM-SC 11762), Intensivista e Clínica Geral, para falar sobre UTI. Saiba como o próprio paciente pode contribuir para evitar a UTI ou reduzir o tempo de internação nesta unidade. Boa leitura!
Como evitar a UTI e reduzir o tempo de internação
Muitos pacientes querem evitar a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Eles ainda associam esta unidade com a proximidade da morte. Uma ideia completamente equivocada. Nas últimas décadas, graças à especialização dos profissionais e das novas tecnologias, pode-se dizer com segurança que a UTI salva vidas. Nossa experiência mostra que a maioria absoluta dos pacientes clínicos graves se recupera graças ao atendimento prestado na UTI. O índice de mortalidade é muito baixo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera como aceitáveis taxas de infecção hospitalar de até 5%. Nas cirurgias cardíacas realizadas pela equipe Seu Cardio, foram registradas taxas de 2,8% em 2015 e 2,3% em 2016. Índices bem menores do que os aceitos internacionalmente.
No entanto, o próprio paciente pode contribuir para evitar a UTI – ou para reduzir o tempo de internação nesta unidade. É o que veremos ao longo do texto.
Para que serve a UTI?
Para termos uma ideia de como a UTI funciona, basta olhar para a história. Até as décadas de 1960 e 1970, muitas pessoas vítimas de infarto não ficavam internadas no hospital. Elas eram tratadas em casa – e o índice de mortalidade era altíssimo.
As principais causas de óbito pós-infarto nessa época eram as arritmias, distúrbios elétricos do coração que, muitas vez, podem ser revertidos. Viu-se então que esses pacientes precisavam ficar mais tempo internados. Precisavam ser monitorados de perto, em um local especial. O número de mortes pós-infarto só reduziu após o início das UTI´s Coronarianas, na década de 1980.
É preciso deixar claro que UTI é sinônimo de cuidado e atenção plena. A equipe multidisciplinar que trabalha 24 horas neste serviço é extremamente treinada. Os profissionais da saúde conhecem de perto todas as reações que você pode apresentar após uma cirurgia cardíaca, por exemplo. Eles estão preparados para agir imediatamente. Não se trata de cuidar de um paciente grave, mas de monitorá-lo para evitar que alguma situação de gravidade aconteça.
Na UTI, a equipe identifica precocemente possíveis problemas, antes mesmo de tornarem-se graves. Além de monitorar de perto todos os sinais vitais, pode-se corrigir arritmias, diagnosticar infecções e revertê-las com os antibióticos mais adequados.
“O paciente é acompanhado de perto. Mede-se a oxigenação, a pressão arterial, avalia-se a urina, eventuais dores e tantos outros sinais e sintomas do funcionamento do corpo. São mais de 100 indicadores verificados constantemente por médicos, fisioterapeutas, equipe de enfermagem, psicólogos e etc. Sabe-se 24 horas por dia o que está acontecendo com o paciente”, afirma Dra. Andréia.
Como evitar a UTI
Por todos os motivos que já citamos, os pacientes de cirurgias cardíacas devem ser internados na UTI após o procedimento. No entanto, muitos outros acabam precisando da Unidade de Terapia Intensiva pela falta de cuidados básicos de saúde. Com alguns conhecimentos sobre o alimentação, atividade física e equilíbrio emocional que se faz ao longo de toda a vida, é possível sim evitar uma internação hospitalar. O clínico geral deve ser seu aliado na busca por essa qualidade em saúde.
Alimentação
Está provado que a alimentação inadequada é um risco para a obesidade e para outras doenças crônicas. No entanto, as pessoas continuam não comendo direito. Alimentam-se basicamente com comidas industrializadas, ricas em açúcar, sódio e gorduras ruins para o organismo. Esquecem dos benefícios das frutas, legumes, verduras, cereais, oleaginosas e das proteínas. De comer comida de verdade, que não foi processada.
É preciso lembrar que muitas guloseimas vendidas nos supermercados possuem efeitos inflamatórios no organismo e desequilibram o funcionamento do nosso intestino. E é por este órgão que absorvemos os nutrientes que comemos. É por ele que “ingerimos saúde” e podemos evitar a doença.
Um intestino desequilibrado pode levar à desnutrição, baixa imunidade e ser o gatilho para várias doenças e complicações. Pacientes hospitalizados nessas condições, têm a recuperação mais lenta do que aqueles que possuem um organismo saudável, que se alimentam de forma adequada.
Sedentarismo
Atividades físicas regulares contribuem para a saúde do organismo como um todo. Muito além de um corpo bonito, a prática de exercícios nos torna mais saudáveis. E tudo isso ajuda a evitar a doença.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que adultos pratiquem 300 minutos de atividade física moderada aeróbica por semana, ou 150 minutos de intensidade vigorosa.
O efeito protetor da atividade física sobre a incidência de doenças cardiovasculares e morte súbita é conhecido desde a década de 50. Não é difícil imaginar que pessoas fisicamente ativas têm menos chances de sofrer problemas cardíacos, e de serem internadas na UTI. E que, se por acaso isso acontecer – muitas vezes por características genéticas – estas pessoas têm maiores chances de recuperação e passam menos tempo no hospital.
Automedicação
A medicação por conta própria é um problema de saúde pública no Brasil. O uso de medicamentos de forma incorreta pode acarretar em intoxicação e no agravamento de várias doenças. A medicação inadequada pode mascarar sintomas. Medicamentos antibióticos usados indiscriminadamente podem aumentar, inclusive, a resistência dos microorganismos que provocam as enfermidades.
Outra grande preocupação é com a combinação inadequada. O uso de um medicamento pode sim anular ou aumentar o efeito de outro. Em nenhum dos casos isso é bom.
A automedicação pode levar à reações alérgicas, dependência e agravamento do quadro clínico, fazendo com que o paciente vá parar mais facilmente na UTI. Seguir a prescrição médica corretamente é uma decisão importante, que ajuda na manutenção da saúde.
O Médico de Confiança
A figura do médico da família, o clínico geral, que conhece toda a história de vida do paciente e de sua família, está cada vez mais rara. Hoje, é comum que as pessoas consultem muitos especialistas, mas que não tenham uma visão integral da sua saúde. A centralização deste trabalho pode representar isso.
O médico de confiança deve ser um orientador. Ele conhecerá o seu estado clínico e psicológico, e saberá lhe encaminhar para os especialistas quando necessário. Assim, a automedicação, os níveis de estresse e ansiedade são reduzidos.
A partir deste equilíbrio, as chances de precisar internar no hospital são menores. Em caso de situações inesperadas, como acidentes, a recuperação de pessoas que realizam esse acompanhamento tende a ser mais rápida e melhor.
Disciplina para evitar a doença
Não existe segredo, remédio ou procedimento mágico. Saúde exige dedicação e disciplina ao longo de toda a vida. As pequenas decisões que tomamos por anos – o que comemos, o quanto nos mexemos, os remédios que tomamos, as consultas que realizamos – podem refletir em uma situação de saúde ou doença.
Nunca é tarde para começar. Pessoas idosas, que se dispõem a adotar uma vida mais equilibrada e saudável, conseguem melhorar os seus índices significativamente e ter uma qualidade de vida melhor.
Converse com seu médico clínico geral, tenha ele como um parceiro em todas as idades e viva bem. Se um dia você precisar de internação hospitalar ou de UTI, saiba que ele estará atualizado e apto para lhe atender e ajudá-lo.
* Dra. Andréia Dias de Azevedo (CRM-SC 11762) é Clínica Geral e Intensivista. Atua na UTI do Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis/SC, na internação clínica e consultório. Contatos: (48) 99972-2225 | ada1979@gmail.com.
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