12 Dúvidas comuns no pós-operatório de cirurgia cardíaca

12 Dúvidas comuns no pós-operatório de cirurgia cardíaca

Cirurgias cardíacas são eventos importantes na vida de qualquer pessoa. Exigem preparação, cuidados e recursos especializados.  No entanto, para obter sucesso, o pós-operatório é fundamental. E é nessa fase que os pacientes costumam apresentar o maior número de dúvidas – especialmente com relação aos procedimentos básicos do dia a dia.

Para ajudar você a retornar à vida normal de forma tranquila e segura, selecionamos algumas das principais dúvidas dos pacientes no pós-operatório da cirurgia cardíaca. São informações relevantes, que podem lhe orientar nessa fase crucial, mas que não substituem a orientação do seu próprio médico.     

 

1 – Por que sinto dor no meu pós-operatório?

As cirurgias cardíacas costumam ser de grande porte e longa duração. Devido à incisão da pele, abertura do osso esterno e colocação de drenos, os músculos da região torácica ficam bastante sensíveis. Por isso, no pós-operatório, é importante que o paciente relate as dores que sente, para que sejam avaliadas o quanto antes. Assim, a sua recuperação pode ser mais tranquila. A fisioterapia respiratória e motora bem executada nessa fase é fundamental, além do uso de analgésicos.

 

2 – Por que minhas pernas ficam inchadas depois da cirurgia?

Trata-se de um sintoma bastante comum. Acontece principalmente nos pacientes que se submetem à revascularização miocárdica com a utilização de veia safena. O inchaço nas pernas costuma ser provocado pela manipulação de vasos linfáticos durante o procedimento. Por isso, orientamos os pacientes para a movimentação precoce e, quando estiverem sentados, para manter as pernas elevadas. Esse edema pode perdurar por mais de um mês. Ressalta-se que o acompanhamento clínico é importante. O uso de meias elásticas também pode ajudar na diminuição do inchaço.

 

3- Por que não posso dormir de lado após a cirurgia cardíaca?

Na maior parte das vezes, a cirurgia cardíaca é feita por esternotomia (“abertura do peito”) mediana. São utilizados fios de aço para fechamento / aproximação do osso Esterno. Assim, recomenda-se que, no pós-operatório, o paciente durma “de barriga para cima” por, aproximadamente, 60 dias. Esse é o tempo necessário para que haja a formação do calo ósseo. Dormindo de lado, o paciente corre o risco de sofrer com o que chamamos de cavalgadura do osso, que poderá ocasionar dor e desconforto.

 

4 – Posso fazer as unhas e pintar o cabelo logo após a alta hospitalar?

Recomende-se que os pacientes esperem 15 dias após a cirurgia cardíaca para pintar/tonalizar os cabelos e fazer a retirada das cutículas das unhas. No entanto, é fundamental utilizar os seus próprios materiais (alicates, tesouras, lixas, etc). Vale ressaltar que eles devem estar devidamente esterilizados, para evitar infecções no pós-operatório. No caso das unhas em gel, além de utilizar material devidamente esterilizado, é imprescindível que as unhas estejam sem processo inflamatório (infeccioso) ou com fungos.

 

5- Posso usar filtro solar na cicatriz?

Os pacientes devem evitar a exposição ao sol nos primeiros 90 dias após a cirurgia. Se a cicatriz evoluir bem, sem nenhum sinal de infecção na ferida operatória (incisão), é possível usar protetor solar após 30 dias.

 

6- Quando posso voltar a subir escadas, limpar a casa ou cuidar do jardim?

As primeiras atividades físicas já começam a ser feitas no pós-operatório imediato, ainda na UTI, quando o fisioterapeuta inicia a reabilitação respiratória e motora. Após a alta da UTI, andar/caminhar é muito importante para evitar complicações, como o tromboembolismo e os problemas respiratórios. Esse tipo de atividade também auxilia na recuperação do trânsito intestinal. As caminhadas progressivas são recomendadas e o incremento de tempo deve ser individualizado.

Em geral, no retorno para casa após a cirurgia cardíaca você já pode subir escadas. Apenas cuide para não fazer demasiado esforço. Com relação às demais atividades cotidianas, como limpar a casa e cuidar do jardim, é recomendado que sejam retomadas apenas após 30 dias da sua cirurgia, sempre gradativamente.

 

7- Em quanto tempo posso voltar a fazer atividade física?

Para os praticantes de esportes, em geral, é possível retomar gradativamente a prática esportiva a partir de 2 meses. No entanto, é fundamental perguntar ao seu Cardiologista Clínico sobre a recomendação específica para o seu caso.

 

8- Constipação após a cirurgia cardíaca é normal?

Sim, essa é uma queixa bastante comum e vários fatores podem levar à constipação intestinal. O jejum para a cirurgia, a anestesia e o fato de o paciente ficar um tempo maior deitado no pós-operatório são alguns exemplos. Para isso, recomenda-se andar/caminhar (já falamos acima), bem como uma dieta rica em fibras e líquidos. Vale salientar que o profissional nutricionista também faz parte da equipe multidisciplinar da cirurgia cardíaca e sua orientação é bem importante.

 

9- A partir de quando posso voltar a ter relações sexuais?

Geralmente, os pacientes que conseguem subir pelo menos 2 lances de escadas sem dificuldades já possuem condições de retomar a atividade sexual após a cirurgia cardíaca, mas de forma leve a moderada. Em média, são necessárias de 6 a 8 semanas para que isso aconteça. No entanto, pacientes que fazem reabilitação física tendem a ser liberados antes. Para evitar problemas com a cicatriz, o ideal é que o paciente adote uma postura mais passiva e evitar movimentos bruscos e excessivos com os braços e com o tórax. Saiba mais neste post aqui.

 

10- A ponte de safena tem validade?

A validade da “ponte de safena”, seja com uso de artéria mamária, radial ou veia safena, está diretamente relacionada aos hábitos do paciente. Afinal, a necessidade da cirurgia de revascularização do miocárdio é gerada pela doença ateromatosa, que precisa de tratamento a longo prazo. Assim, a adoção de hábitos saudáveis pode aumentar a longevidade das pontes. Entre eles, o controle adequado dos níveis de colesterol, de glicemia (principalmente nos pacientes diabéticos) e parar de fumar (para os pacientes que fumavam antes da cirurgia). Saiba mais neste post.

 

11- Depois de quantos dias da cirurgia cardíaca posso voltar a dirigir?

Na maioria das cirurgias cardiovasculares é realizada uma incisão no osso Esterno, que fica na região central do tórax. Assim, após a cirurgia, o Esterno ainda está em cicatrização e movimentos bruscos podem causar uma dor importante. Por reflexo, uma dor forte pode fazer você largar as mãos do volante e bater o carro. Além disso, seus reflexos podem estar prejudicados pela medicação. Assim, recomenda-se voltar a dirigir apenas 2 meses após a sua cirurgia cardíaca.

 

12- Depois da cirurgia cardíaca posso voltar a beber vinho, cerveja e/ou destilados?

Normalmente, recomenda-se que a ingestão de bebidas alcoólicas não seja realizada nos primeiros 15 dias após a alta hospitalar. Após este período, converse com seu Cardiologista Clínico para que ele lhe oriente sobre a frequência e quantidade de bebidas alcoólicas que você poderá ingerir sem causar impacto nas medicações que está usando.

 

Para saber mais sobre o pós-operatório da cirurgia cardíaca, acesse a cartilha gratuita aqui.

 

*Post originalmente publicado em set/2018 e atualizado em set/2021.

 

Pós-Operatório da Cirurgia Cardíaca

Cirurgia Cardíaca em Idosos: agregando vida aos anos

Cirurgia Cardíaca em Idosos: agregando vida aos anos

*Post atualizado em abril/2021

A cirurgia cardíaca em idosos é cada vez mais comum. Afinal, as pessoas estão vivendo mais e a população de pacientes idosos aumenta no mundo todo. Com o avanço da idade, há também o avanço da Medicina para o tratamento de diversos problemas vivenciados na terceira idade.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicados em 202 revelam que a expectativa de vida do brasileiro é, em média, de 76,6 anoa. Em 2019, a esperança de vida da mulher chegou a 80,1 anos e do homem 73,1 anos. 

Mas, a idade é por si só um fator de risco para a cirurgia cardíaca? O idoso é um ser muito frágil para ser operado?

Idade é diferente de fragilidade

Em primeiro lugar, precisamos diferenciar idade de fragilidade. A idade passa a ser um fator de risco quando traz uma série de doenças associadas. Mas vamos imaginar um idoso que chega aos 80 anos com uma doença de coronária, que é a obstrução  (“entupimento”) das artérias do coração. Ele tem uma atividade cerebral e uma vida absolutamente normais. No entanto, não consegue mais fazer sua caminhada habitual porque tem dor no peito. Está limitado nas suas atividades físicas, porque cansa. Esse idoso tem uma doença no coração. Ponto. Só isso. Tratada a doença, ele volta a ter uma vida normal novamente. 

Apesar da enorme colaboração que a cirurgia cardíaca em idosos pode trazer à qualidade de vida dos pacientes, são bastante comuns os questionamentos. “Ele já tem 84 anos, o que a cirurgia vai acrescentar de sobrevida para ele?” A questão não é se ele vai viver até os 90 ou 95 anos, mas como esse idoso vai viver. E isso, a cirurgia pode devolver: a qualidade de vida que ele perdeu diante da doença cardíaca que adquiriu. Além disso, em muitos casos, aumenta sim a sobrevida, mesmo nesta faixa etária mais avançada.

Com os avanços tecnológicos da medicina aliados ao maior acesso à informação, os idosos passaram a ter uma melhor qualidade de vida. Assim, são mais ativos, independentes e biologicamente mais fortes. Tratamentos mais eficazes, busca pela boa alimentação e hábitos saudáveis são fatores que contribuem para que os idosos tenham uma sobrevida satisfatória após uma cirurgia cardíaca.

A Cirurgia Cardíaca em Idosos com Boa Saúde  

Um estudo publicado pela Journal of the American Geriatrics Society, divulgado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, o fator idade não é mais justificativa para não serem realizados procedimentos médicos em indivíduos acima de 80 anos.

A cirurgia cardíaca em idosos em situação semelhante ao exemplo acima tem resultados excelentes. Inclusive, surpreendentemente melhores do que em pessoas de meia idade que já acumulam várias doenças. Isso porque o idoso que chegou aos 80 anos com apenas uma doença no coração mostrou que é um ser biologicamente mais forte. Passou por várias etapas da vida, nas quais outras doenças incidem. No entanto, chegou à idade mais avançada apresentando uma única doença. Então, a cirurgia cardíaca em idosos desse tipo tem baixa taxa de mortalidade. O idoso volta às suas atividades e a família se surpreende com sua resistência, que na verdade já poderia ser observada pela vida que ele leva.

Com o aumento da população de pacientes idosos, a incidência das doenças degenerativas das válvulas cardíacas, comuns nessa faixa etária, também cresce. Para o paciente idoso que tem um problema isolado em uma valva cardíaca, por exemplo, a abordagem cirúrgica precoce impede que a doença valvar comprometa a contratilidade do coração, proporcionando um risco baixo e a devolução de uma qualidade e expectativa de vida normais. Assim, a cirurgia cardíaca em idosos vem ao encontro desse objetivo, devolvendo vida aos anos do paciente

Cirurgia Cardíaca em Idosos com Doenças Associadas

A indicação de cirurgia cardíaca em idosos que possuem alguma doença associada, que estejam acamados ou que pouco se comuniquem, por exemplo, deve ser avaliada entre médicos, paciente e seus familiares. É fundamental que se tenha em mente o quanto esse paciente irá ou não se beneficiar do procedimento. Em outras palavras, é necessário avaliar seus riscos e benefícios. Para isso, contar com a assistência de bons profissionais nas áreas de Cardiologia Clínica e de Cirurgia Cardíaca é fundamental para apresentar e avaliar claramente o melhor para cada caso.

É comum, em idosos, a descoberta de um problema cardíaco durante a realização de exames para outras doenças, como câncer, por exemplo. Nestes casos, em geral, é indicada a realização da cirurgia do coração primeiro. A medida visa diminuir os riscos no tratamento da outra doença (tumores, transplantes, etc). O coração é sempre colocado em primeiro lugar, pelo risco que ele representa para os outros tratamentos. Uma vez protegido o coração, o tratamento de doenças associadas tende a obter melhores resultados.

Caso tenha dúvidas sobre a relação risco x benefício da cirurgia cardíaca em idosos, converse com o médico que acompanha o caso. Informe-se também com o cirurgião cardiovascular. Em conjunto e com uma avaliação criteriosa, será definida a melhor conduta.

Para saber quais são as principais orientações sobre cirurgias cardíacas, faça o download da cartilha gratuita sobre Pré e Pós-Operatório da Cirurgia Cardíaca:

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Qual a validade da ponte de safena?

Qual a validade da ponte de safena?

A cirurgia de coronária foi criada no final dos anos 60, e nessa época, apenas se fazia revascularização do miocárdio utilizando as veias safenas. Por esse motivo, é muito comum o questionamento dos pacientes sobre a validade da ponte de safena. 

É importante saber que a cirurgia de revascularização do miocárdio, popularmente conhecida como ponte de safena, é o procedimento mais estudado da medicina. Com mais de 50 anos de existência, vem cada vez mais se consolidando, por sustentação dos estudos, como o melhor tratamento para doença coronariana que requer intervenção. A seguir, explicaremos mais sobre a validade desse tratamento a longo prazo.

Revascularização do Miocárdio: safena e outros enxertos

Apesar de amplamente conhecida como cirurgia de ponte de safena, a revascularização do miocárdio pode ser realizada utilizando-se outros enxertos. Entre eles, principalmente as artérias mamárias, que se localizam no próprio tórax do paciente. 

Naturalmente, surgiram comparações em relação à durabilidade e eficácia entre os enxertos venosos e arteriais, e muitos trabalhos demonstram a excelência de ambos na cirurgia de revascularização do miocárdio. 

Porém a validade da ponte de safena (ou de outro enxerto utilizado no procedimento cirúrgico) depende de diversos fatores, e não apenas do tipo de enxerto utilizado. Por isso, não é possível estimar a validade de um enxerto somente pelo fato de ser venoso ou arterial.

Influência do vaso utilizado na validade da ponte

Após alguns estudos sobre longevidade dos enxertos nos anos 70, acreditou-se que a mamária era muito superior e tinha maior validade do que a veia safena na cirurgia de revascularização do miocárdio. Assim, outras artérias logo passaram a serem utilizadas na cirurgia, como as artérias radiais, localizadas nos braços.

Em 2017, porém, houve um consenso sobre quais seriam os enxertos ideais para revascularizar o coração: os cirurgiões devem dar preferência à utilização de pelo menos dois enxertos arteriais para os territórios principais do coração, podendo se utilizar com segurança os enxertos venosos para as demais áreas.

A técnica influencia na validade da ponte de safena?  

Mais recentemente, notou-se que o método de retirada da veia safena também influencia na sua longevidade. Atualmente, diversos serviços de cirurgia cardíaca utilizam a técnica “No-Touch”. Nela, a veia é retirada com parte do tecido gorduroso que a envolve, buscando o mínimo de manipulação do vaso. Isso tem demonstrado grande aumento da longevidade e durabilidade da ponte de safena. 

Na equipe Seu Cardio, utilizamos amplamente a técnica No-Touch, com resultados consistentes e semelhantes ao da literatura médica. Isso resgata a importância dos enxertos venosos como estratégia segura em associação aos enxertos arteriais.

Hábitos de vida que fazem a diferença

A validade de uma revascularização do miocárdio, seja com uso de artéria mamária, radial ou veia safena, está diretamente relacionada aos hábitos do paciente. Afinal, a doença ateromatosa, que é o fator desencadeante da necessidade de uma cirurgia de “ponte de safena”, precisa de tratamento a longo prazo. 

Entre os hábitos que devem ser adotados com o objetivo de promover maior longevidade dos enxertos utilizados na cirurgia, estão: 

·      Estilo de vida mais saudável;

·      Manutenção dos níveis de colesterol dentro do valor recomendado;

·      Controle rigoroso da glicemia nos pacientes diabéticos;

·      Parar de fumar (para os pacientes que fumavam antes da cirurgia).

A importância de seguir as orientações médicas

Além da evolução da técnica cirúrgica no tratamento das doenças do coração, houve também muita evolução no tratamento clínico. Tais avanços contribuem para diminuir a evolução da doença coronariana que levou o paciente à cirurgia. 

A cirurgia de revascularização do miocárdio trata uma lesão específica, ou seja, faz um novo caminho para a passagem do sangue, desviando daquele que foi obstruído. Porém, não trata a doença básica que levou àquela obstrução. Então, a participação do paciente no tratamento clínico, de manutenção, para que a doença não evolua, é o ponto mais importante. E essa atitude vai fazer a diferença sobre a validade da ponte de safena (durabilidade do enxerto). 

O tratamento clínico, que inclui mudanças no estilo de vida, como prática de exercício físico leve a moderado, também pode resultar no desenvolvimento de circulação colateral no coração (o próprio coração se revasculariza, desenvolvendo novos vasos). Então, mesmo com um adoecimento de um enxerto venoso ou arterial a longo prazo, se o coração tiver desenvolvido circulação própria durante os anos que o enxerto protegeu o órgão, ele não irá sofrer. A circulação passou a irrigar a região que o enxerto irrigaria, e sua presença pode não ser mais necessária.

Como vimos, diversos fatores impactam na validade da ponte de safena (ou de outro enxerto). Por isso, o acompanhamento periódico com o cardiologista clínico e a adoção de suas orientações são importantíssimos para a longevidade dos enxertos, tanto arteriais quanto venosos. 

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Cirurgia de Ponte de Safena (Revascularização do Miocárdio)

Cirurgia de Ponte de Safena (Revascularização do Miocárdio)

A cirurgia de ponte de safena, como é popularmente conhecida a cirurgia de revascularização do miocárdio, é o procedimento cirúrgico mais estudado da história da Medicina. Foi criada em 1967, nos Estados Unidos, pelo cirurgião cardiovascular Rene Favaloro. Desde então, a técnica da cirurgia de ponte de safena se desenvolveu e se popularizou pelo mundo todo. Consolidou-se como um tratamento seguro, de baixo risco e extremamente eficiente para o tratamento da insuficiência coronariana.

Insuficiência Coronariana e Ponte de Safena

A insuficiência coronariana é uma doença causada pela aterosclerose das artérias coronárias, que desenvolvem placas obstrutivas em seu interior. Quando ocorre a oclusão total do vaso sanguíneo por estas placas, ou pela formação de coágulos sobre elas, temos uma isquemia aguda no coração. O quadro levando ao infarto agudo do miocárdio, uma das maiores causas de morte dos dias atuais.

Assim, a chamada cirurgia de ponte de safena consiste na colocação de pontes (bypass) feitas de enxertos de artéria ou veia. Esses enxertos são suturados na aorta e nas coronárias, ultrapassando as lesões. Assim, cria-se um novo caminho para a irrigação sanguínea do músculo cardíaco. Dessa forma, no paciente revascularizado, o sangue passa a nutrir o coração por dois caminhos: o antigo, que possui a lesão, e a ponte. Caso a coronária lesada venha a apresentar uma obstrução total, a ponte mantém o coração irrigado.

Risco e Mortalidade da Cirurgia de Revascularização do Miocárdio

A literatura mostra claramente um excelente resultado da cirurgia de revascularização do miocárdio, com uma mortalidade baixa. A mortalidade da cirurgia de revascularização do miocárdio é de cerca de 1,4%. O maior fator relacionado à mortalidade cirúrgica é o comprometimento da função ventricular. Assim, pessoas que apresentam grandes infartos prévios, ou um severo comprometimento da contratilidade do coração, costumam ter maior risco na cirurgia.

Número de Pontes e Risco da Cirurgia Cardíaca

O número de pontes a ser colocado em um paciente não impacta no risco da cirurgia. Há uma tendência de se realizar a revascularização da forma mais completa possível. Assim, procura-se tratar todas as artérias que possuem lesão.

Uma dúvida bastante frequente é: por que as lesões leves não recebem ponte? Já que vai operar o coração, não seria melhor colocar ponte em tudo? Bom, as lesões leves não são revascularizadas pelo fato de que, por serem leves, causam pouca obstrução à passagem do sangue. Assim, o fluxo pela artéria coronária é muito parecido com o fluxo pela ponte. Além disso, no local onde a ponte é colocada, acaba ocorrendo uma competição de fluxo, que pode levar à oclusão da ponte e da coronária.

Enxertos Utilizados

Outro questionamento frequente sobre a cirurgia de ponte de safena (revascularização do miocárdio) está relacionado ao tipo de enxerto que deve ser utilizado. Podem ser utilizados dois tipos de enxertos: arteriais ou venosos. Atualmente, como enxertos arteriais, são utilizadas as artérias mamárias e as artérias radiais (do antebraço) com maior frequência. Porém, podem ser usadas também as artérias epigástricas e gastroepiplóicas. Em relação aos enxertos venosos, as veias mais comumente utilizadas são as safenas. Por isso, o nome popular de “cirurgia de ponte de safena”. No entanto, podem ser utilizadas veias do braço também para a realização das pontes.

Os enxertos, tanto venosos como arteriais, podem ser utilizados em conjunto. Assim, a cirurgia de revascularização do miocárdio pode dispor de uma série de combinações de enxertos, particularizando-se cada caso.

“Os pacientes que já fizeram cirurgia de varizes e retiraram suas safenas, podem ser revascularizados buscando-se a combinação de enxertos arteriais e das veias do braço.” – Dr. Sergio Lima de Almeida, cirurgião cardiovascular CRM-SC 4370 RQE 5893

Existem trabalhos recentes na literatura médica que mostram uma tendência de maior longevidade dos enxertos arteriais. Porém, os enxertos venosos ainda são utilizados em larga escala e com excelentes resultados. Há sempre a necessidade de adequar a melhor combinação para cada caso.

Prevenção Mesmo após a Revascularização

Outro aspecto que merece ser esclarecido é a importância de se manter medidas preventivas, em relação à doença aterosclerótica, no pós-operatório.

“A aterosclerose é uma doença crônica e evolutiva e o ato cirúrgico não interfere em sua evolução. A cirurgia cardíaca trata as obstruções, que são consequências da doença. Com isso, melhora a qualidade de vida e aumenta a sobrevida dos pacientes. Porém, a cirurgia cardíaca não interfere na causa da placa. Por isso, é necessário adotar medidas preventivas, como o controle dos fatores de risco que levam à formação destas placas.” – Dr. Sergio Lima de Almeida, cirurgião cardiovascular, CRM-SC 4370 RQE 5893.

Entre os fatores de risco para o coração podemos destacar: hipertensão. Diabetes, colesterol alto, fumo, obesidade e história familiar. As medidas preventivas devem atuar no controle destes fatores de risco, com o acompanhamento médico periódico de um Cardiologista. As pontes implantadas na cirurgia estão sujeitas à ação da aterosclerose. A doença também pode evoluir em um local além da ponte. Assim, é fundamental adotar medidas preventivas em todos os casos.

Pós-operatório da Cirurgia de Ponte de Safena

A evolução pós-operatória da cirurgia de ponte de safena (revascularização do miocárdio) costuma ser muito tranquila. Em geral, os pacientes voltam às suas atividades normais em curto período de tempo. A cirurgia cardíaca devolve ao paciente uma qualidade de vida normal. Eventuais restrições podem ser determinadas por uma condição prévia de saúde. Muito raramente, podem também derivar de alguma complicação advinda do ato operatório. A maioria dos pacientes retoma atividades normais, mesmo pacientes de idade mais avançada.

Atualmente, vem se operando uma quantidade progressivamente maior de pacientes idosos, na faixa dos 80 anos. A cirurgia cardíaca tem apresentado excelentes resultados nas faixas etárias mais avançadas. Evidentemente, as indicações passam a ser mais restritas nos mais idosos. Porém, idosos que preenchem os critérios de indicação, apresentam excelentes resultados.

Sobre o autor:

Este artigo foi escrito com base em entrevista com o Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM 4370 / RQE 5893), cirurgião cardiovascular em Florianópolis/SC. Dr. Sergio é Chefe do Serviço de Cirurgia Cardíaca do Hospital SOS Cárdio e da Equipe Seu Cardio. Formado em Medicina pela Universidade Federal do Estado de Santa Catarina – UFSC e com residência na Beneficência Portuguesa, na equipe do Dr. Sergio Oliveira, aperfeiçoou-se em plastia de válvulas na Cleveland Clinic, acompanhando Dr. Delos Cosgrove, e em cirurgia de cardiopatia congênita complexa, no Children Hospital – Harvard Medical School, acompanhando Dr. Aldo Castañeda. Foi também cirurgião cardiovascular do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis/SC, por 10 anos. Realiza diariamente procedimentos como: cirurgias de revascularização do miocárdio, cirurgia de válvulas e da aorta, além de implantes de marcapassos cardíacos. Com grande experiência em idosos, vem abordando o tema em congressos nacionais e internacionais.

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Cicatrização da Ferida Operatória após Cirurgia Cardíaca

Cicatrização da Ferida Operatória após Cirurgia Cardíaca

Muitos pacientes ficam preocupados diante da vermelhidão nos pontos da cirurgia cardíaca. Essa condição pode acontecer no processo de cicatrização da ferida operatória. Já falamos aqui no blog da equipe Seu Cardio sobre a importância da correta higienização da ferida. Agora, vamos explicar como é o processo de cicatrização e sinais que podem indicar atenção.

Processo de Cicatrização da Ferida Operatória

As incisões realizadas na sua cirurgia passarão por diversos estágios de cicatrização. Depois da leve dor inicial no local, a ferida poderá formigar, coçar ou ficar dormente, na medida em que a cicatrização progredir. É comum sentir dormência no lado do tórax, sobre a região mamária, se você foi submetido a uma cirurgia de revascularização do miocárdio com utilização das artérias mamárias. Esta dormência tem durabilidade e intensidade variáveis, mas costuma desaparecer logo.

As lesões operatórias devem ser mantidas sem curativo. A fim de contribuir para a cicatrização, a higiene da pele e das incisões cirúrgicas deverá ser realizada diariamente, com água e sabonete antisséptico. Não retire qualquer crosta, porque ela protege os novos e delicados tecidos em crescimento.

Em linhas gerais, o processo de cicatrização da ferida operatória pode ser divido em três fases. São elas:

1. Fase inflamatória:

É caracterizada pela presença de secreção. Esta fase pode durar de 1 a 4 dias, a depender da extensão da área a ser cicatrizada e da natureza da lesão. Neste período, a ferida pode apresentar edema (inchaço), dor e vermelhidão.

2. Fase proliferativa – regenerativa:

Esta etapa da cicatrização da ferida operatória pode durar entre 5 e 20 dias. Caracteriza-se pela proliferação de fibroblastos, sob a ação de citocinas, dando origem a um processo chamado de fibroplasia. Ao mesmo tempo, ocorre a proliferação de células endoteliais, com formação de rica vascularização (angiogênese), infiltração de macrófagos, formando o tecido de granulação.

3. Fase de reparo:

É a fase de maturação, iniciando-se no 21o dia e podendo durar meses. Nesta fase, há uma maturação das fibras colágenas e uma remodelação do tecido cicatricial formado na fase anterior. Além disso, há um aumento da resistência do tecido, diminuindo-se a espessura da cicatriz e reduzindo-se a sua deformidade. Durante este período, a cicatriz, progressivamente, altera a sua tonalidade, passando do vermelho escuro à rosa claro.

Fatores que interferem na cicatrização

O processo de cicatrização da ferida operatória pode variar bastante de uma pessoa para outra. Em geral, essa variação decorre de fatores locais, referentes às características da própria ferida, e sistêmicos, referentes às condições de saúde de cada um. Veja abaixo:

Fatores relacionados diretamente à ferida:

  • Características: dimensão e profundidade da lesão; presença de secreção, hematomas, edemas e corpos estranhos.
  • Cuidados adotados: higienização da ferida, material e curativos utilizados.
  • Isquemia tecidual: falta de oxigenação local, que dificulta a chegada de células inflamatórias à zona lesada, diminuindo-se a proliferação dos fibroblastos e a síntese de colágeno.
  • Infecção local: quando o processo de cicatrização é retardado por conta de contaminação bacteriana.

Fatores sistêmicos:

  • Idade: a idade avançada diminui a resposta inflamatória.
  • Estado nutricional: interfere em todas as fases da cicatrização, resultando na sua demora e podendo levar a deiscência de suturas.
  • Doenças crônicas: doenças metabólicas sistêmicas, diabetes mellitus.
  • Tratamento tópico inadequado.

Como acelerar a cicatrização da ferida operatória?

Em linhas gerais, algumas ações podem contribuir para acelerar o processo de cicatrização da ferida operatória. Entre eles, podemos citar: realizar a correta higienização da ferida, manter o organismo bem hidratado e uma dieta equilibrada, com adequada quantidade de proteínas, gorduras e carboidratos. 

Por isso, recomenda-se que os pacientes que passam por uma cirurgia cardíaca sejam acompanhados por uma equipe multidisciplinar. O cuidado integrado e global auxilia na orientação e acelera a recuperação dos pacientes.

Quando o paciente apresenta secreção purulenta, febre ou outros sinais diferentes do que os apresentados acima, é importante consultar o cirurgião para orientação médica.

 

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Pré e Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca: orientações aos pacientes

Pré e Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca: orientações aos pacientes

Em nossa vivência, acompanhamos a ansiedade e a angústia que a maioria dos pacientes sente diante da indicação de um cirurgia cardíaca. Não apenas os pacientes, mas também seus familiares. Pensando nisso, elaboramos uma cartilha de orientações sobre pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca. Nela, compilamos todas as informações necessárias para enfrentar uma cirurgia cardíaca com maior tranquilidade e segurança.

Cartilha Pré e Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca

Esse material fornece informações sobre todas as etapas relacionadas à cirurgia cardíaca, em formato pronto para impressão. Você encontrará orientações sobre:

  • O que é importante fazer antes da Internação hospitalar
  • O que irá acontecer no dia da Internação 
  • Como será o dia da cirurgia cardíaca
  • O que acontece no período pós-operatório na UTI
  • O que esperar na volta para o quarto do hospital
  • Orientações e cuidados no retorno para casa, após a alta hospitalar
  • Respostas às perguntas frequentes de pacientes e familiares
  • Espaço para anotações de dúvidas e registro das consultas

Para fazer o download gratuito da cartilha de orientações para pacientes e familiares, clique no botão abaixo:

CTA Download Seu Cardio ebook doenças valvares mitral e aórtica

Essa cartilha de orientações sobre o pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca contempla informações que independem do tipo de cirurgia cardíaca a ser realizada: revascularização do miocárdio, cirurgias de implante ou troca de válvula, cirurgias da aorta e cirurgias de correção de cardiopatias congênitas. Caso haja alguma peculiaridade relativa à uma técnica específica, estará ressaltada no texto.

A cirurgia cardíaca é sempre um momento delicado e que mexe com as nossas emoções. Isso é normal e procuramos oferecer suporte aos nossos pacientes e à comunidade em geral, para que encontre respostas às suas ansiedades e dúvidas. Afinal, estamos lidando com o coração, um órgão diretamente relacionado à nossa vida e nossos sentimentos.

Esperamos que você aproveite o material. Ele foi elaborado pelos cirurgiões cardiovasculares da Equipe Seu Cardio. Caso ainda tenha alguma dúvida, não hesite em entrar em contato conosco! Teremos grande satisfação em ajudar você!

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*Conteúdo publicado em agosto/2016 e atualizado em fevereiro/2020.