Revascularização do Miocárdio: com ou sem circulação extracorpórea

Revascularização do Miocárdio: com ou sem circulação extracorpórea

Para entender sobre a realização de cirurgia cardíaca com ou sem circulação extracorpórea, é necessário explicar um pouco sobre como são realizadas as cirurgias de revascularização do miocárdio, popularmente conhecidas como cirurgia de ponte de safena

Revascularização do Miocárdio com Circulação Extracorpórea (CEC)

Como já explicado em outro post aqui no blog, as cirurgias de revascularização do miocárdio consistem na colocação de pontes (by-passes) para se tratar a insuficiência coronariana. Desde a sua criação, em 1967, até  os tempo de hoje, a maioria dos pacientes que passaram por esta cirurgia a fizeram com o coração parado e o suporte da circulação extracorpórea (CEC)

“Esta técnica não está diretamente associada ao aumento do risco cirúrgico. Sabe-se  que este procedimento é o mais estudado na história das cirurgias. Além disso, continua sendo realizado de maneira crescente em todo mundo, com resultados espetaculares. Há vastíssima literatura médica que comprova isto.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893), cirurgião cardiovascular chefe da equipe Seu Cardio, de Florianópolis/SC.

Como é a Circulação Extracorpórea

A circulação extracorpórea compreende um conjunto de aparelhos e técnicas que substituem a função de bomba do coração e respiratória dos pulmões durante o tempo principal da cirurgia. Dessa forma, a oxigenação do sangue, seu bombeamento e circulação são realizados pela máquina de circulação extracorpórea. Assim, estes órgãos podem permanecer parados para a realização das pontes. Durante o período em que fica parado, o coração é protegido com a infusão de uma solução que mantém sua viabilidade. 

Conforme explicado pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea, este recurso é operado pelo perfusionista, profissional formado e capacitado para tal.

“Na maioria dos casos, o coração volta a bater espontaneamente. Porém, em alguns casos há necessidade de uma cardioversão elétrica de baixa potência que faz o coração voltar a bater. Este procedimento, por si só, não agrega risco ao ato cirúrgico.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Revascularização do Miocárdio sem Circulação Extracorpórea

Há alguns anos, iniciou-se a realização da cirurgia de revascularização do miocárdio sem uso de circulação extracorpórea. Assim, muitos centros iniciaram a realizar a cirurgia com o coração batendo. Na época, defendia-se que seria possível melhorar ainda mais o resultado das cirurgias cardiovasculares.

Em teoria, os defensores desta mudança baseavam-se que se diminuiriam as possíveis complicações advindas do emprego da CEC. Haveria manutenção do mesmo resultado, relativo à qualidade das pontes e longevidade das mesmas, mesmo diante do aumento da dificuldade técnica em realizar a cirurgia com o coração batendo. 

Porém, verificou-se que determinados pacientes não suportavam a realização de todo o procedimento cirúrgico sem o emprego da circulação extracorpórea. Assim, que havia necessidade de se iniciar a circulação extracorpórea no decurso da cirurgia, a chamada conversão. Nesses pacientes, onde houve necessidade de conversão, foi observada uma incidência muito maior de complicações e maior mortalidade. 

Estudos com e sem Circulação Extracorpórea

Inúmeros estudos foram realizados procurando demonstrar a superioridade da cirurgia sem circulação extracorpórea sobre a técnica convencional. Porém, em resumo, hoje não há vantagem claramente demonstrada na literatura médica da realização rotineira da cirurgia sem circulação extracorpórea. 

“A mortalidade imediata não diminuiu e o número de complicações não obteve redução significativa no grupo sem CEC – circulação extracorpórea. O método convencional (com CEC e coração parado) mostra maior qualidade das pontes e longevidade das mesmas, a longo prazo. Assim, traduz-se em benefício aos pacientes. Vários estudos continuam em andamento, buscando ainda maior sustentabilidade destes benefícios a longo prazo.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Um outro aspecto que os estudos demonstram é a realização de um número menor de pontes nos pacientes submetidos à técnica sem CEC. Isso indica que as revascularizações deste grupo de pacientes foram mais incompletas do que às comparadas ao grupo operado com circulação extracorpórea. Há inúmeros trabalhos na literatura médica corroborando com o fato de que as revascularizações completas representam maior sobrevida a longo prazo. 

“Hoje, através dos estudos realizados e já publicados, infere-se que existe um grupo de pacientes que se beneficia da cirurgia sem CEC. São pacientes com severa doença ateromatosa da aorta, os portadores de insuficiência respiratória e renal crônicas graves e os pacientes com vasculopatia cerebral.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Recomenda-se que este assunto seja discutido com o cirurgião cardiovascular, que pode orientar qual a melhor técnica a ser utilizada em cada caso. É válido lembrar que estas técnicas estão relacionadas à cirurgia de revascularização do miocárdio, não se aplicando esta discussão às cirurgias de válvulas cardíacas, onde sempre se opera com circulação extracorpórea.

*Artigo publicado em setembro/2016 e atualizado em fevereiro/2020.

7-duvidas-cirurgia-revascularizacao-miocardio

 

Risco de infarto em mulheres fumantes e que usam pílula 

Risco de infarto em mulheres fumantes e que usam pílula 

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as mulheres de 30 a 69 anos no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, sendo responsável por maior número de mortes do que o câncer. O infarto é segunda doença responsável por essas mortes e o acidente vascular cerebral é a primeira. Estima-se que o risco de morte por infarto em mulheres é 50% maior do que nos homens. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada cinco mulheres adultas estão propensas a desenvolver doenças cardiovasculares. A combinação cigarro e uso da pílula é um dos fatores de risco que contribuem para esse dado alarmante. 

Risco maior de infarto em mulheres fumantes e que usam pílula 

O infarto do miocárdio ocorre quando há obstrução das artérias coronárias, impedindo que o sangue chegue até o músculo cardíaco. Os fatores de risco que podem levar à formação de placas e obstrução das artérias são: 

Nas mulheres, o risco de infarto é duas vezes maior quando a mulher é fumante e usa pílula anticoncepcional. A combinação cigarros e pílula aumenta significativamente o risco de formar coágulos no interior das artérias e veias. Da mesma forma, é importante lembrar que a fumante passiva também apresenta maior risco cardiovascular. 

O cardiologista Jamil Schneider alerta que essa combinação é muito perigosa, principalmente nas mulheres que já possuem um risco cardíaco pré-existente. 

“Mulheres hipertensas e diabéticas, por exemplo, já possuem condições que por si só já aumentam o risco de infarto. Esses dois fatores, quando associados ao cigarro e à pílula anticoncepcional. acabam aumentando ainda mais esse risco” – Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), cardiologista em Florianópolis/SC.

De acordo com a OMS, o infarto do miocárdio é mais fatal nas mulheres do que nos homens. Além disso, os sintomas também são diferentes nas mulheres. Enquanto que nos homens prevalece uma forte dor no peito que irradia para os braços, elas costumam sentir náusea, fraqueza, dores gástricas e falta de ar. Sintomas que podem facilmente ser confundidos com outras doenças. 

Trombose, Embolia Pulmonar e AVC 

Além do risco de infarto em mulheres fumantes que usam anticoncepcional ser maior, são maiores também os riscos de outros graves problemas de saúde. 

A trombose venosa é um deles, que ocorre quando há formação de coágulos nas veias das pernas e do abdômen. Esse quadro pode evoluir para embolia pulmonar, quando o coágulo de desloca até os pulmões. Trata-se de uma condição de saúde que requer atendimento imediato. 

“A mulher fumante tem um risco maior de doenças nas artérias das pernas, que ficam mais propensas à formação de placas de gordura. Em última análise, levarão à obstrução dessas artérias, dificultando a chegada de sangue para os membros inferiores. Além disso, aumenta o risco de acidente vascular cerebral (AVC).” – Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), cardiologista em Florianópolis/SC. 

Prevenção é o melhor remédio 

De acordo com a OMS, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Cultivar hábitos de vida saudáveis, com alimentação adequada, prática de atividades físicas regulares e, também, visitar o médico cardiologista regularmente, são atitudes que podem minimizar os riscos. 

Já para as mulheres em idade fértil que fazem uso da pílula como método contraceptivo – e ainda são fumantes – fica o alerta. Afinal, o risco de infarto em mulheres nessa situação é maior. Assim, uma conversa franca com o médico de confiança pode ser útil para decidir por qual caminho seguir. A recomendação é especialmente importante para as mulheres que já têm outros fatores de risco associados. Além disso, parar de fumar é sempre uma boa opção para a saúde. 

*Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874) é Cardiologista Clínico e Professor de Cardiologia da UNISUL. Com mais de 30 anos de atuação em Cardiologia, atua nas clínicas Hemocordis e Prevencordis e no Hospital SOS Cárdio, todos em Florianópolis/SC.

sintomas-do-infarto

Onde está inserido o paciente no sistema de saúde atual?

Onde está inserido o paciente no sistema de saúde atual?

A convite da equipe Seu Cardio, Andréa Bergamini* fala sobre o atendimento ao paciente no sistema de saúde atual. O tema é de extrema relevância, pois o paciente deve ser o objetivo principal de toda a cadeia de cuidado em saúde. Boa leitura!

Ao realizar uma breve pesquisa bibliográfica, é possível identificar inúmeras publicações relacionadas ao sistema de saúde em nosso País. Nelas, predomina o destaque para a importância da interação entre os diferentes players do setor. Estão envolvidos profissionais de saúde, rede prestadora (hospitais, clínicas, laboratórios, entre outros), fornecedores (de insumos, medicamentos e produtos para a saúde) e as fontes pagadoras (pública e privada). No entanto, onde está inserido o paciente neste contexto?

Inúmeros debates realizados entre os players citados convergem no discurso de que “o paciente deve ser colocado em primeiro lugar”. Mas, será que os interesses individuais de cada segmento não estão sobrepondo a real necessidade do paciente? Todos os integrantes estão trazendo uma visão holística para as tomadas de decisão?

Seguindo nesta linha de pensamento, faço aqui algumas ponderações. Para que o paciente realmente seja considerado a “razão da existência” deste setor – lembrando que todos nós somos pacientes –, algumas ações devem ser repensadas e consideradas.

Empoderamento dos Pacientes

Iniciando pelo uso adequado das tecnologias disponíveis atualmente, é fato que os avanços estão cada vez mais presentes na vida de todos (e em diferentes momentos). Na área da saúde, elas vêm contribuindo cada vez mais para a disseminação do conhecimento sobre a saúde e as doenças. Preliminarmente, o foco deste compartilhamento está mais voltado às doenças crônicas. Contribui para que o paciente se informe, se prepare para compreender o problema enfrentado e realize o autocuidado em saúde. Sem dúvida, tais ações contribuem para o seu empoderamento.

O empoderamento é um processo educativo. Ajuda o paciente a adquirir conhecimento, e desenvolver habilidades e atitudes necessárias para participar ativamente das decisões acerca da sua saúde. Pacientes mais informados, envolvidos e responsabilizados interagem de forma mais eficaz com os profissionais de saúde. Assim, podem realizar ações que produzam resultados efetivos e melhoram a qualidade de vida.

No entanto, o empoderamento não deve se restringir apenas às doenças crônicas, mas sim, envolver todo contexto de saúde. Assim, nos casos de intervenções cirúrgicas e/ou necessidade de tratamentos de alta complexidade, os pacientes precisam ter conhecimento de todas as possibilidades terapêuticas e os respectivos resultados, como também a oportunidade da busca de opiniões de outros profissionais da área.

Mas, como transformar o paciente em protagonista, por meio de tecnologias viáveis? Conforme John Halanka, professor da Harvard Medical School, a telemedicina é uma das tecnologias que coloca o paciente no centro. Halanka acrescenta ainda que a telemedicina empodera os pacientes para a tomada de decisão sobre sua saúde e é considerada uma alternativa eficiente e de baixo custo. Trata-se de uma inovação em saúde que contribui no processo de integração e decisão compartilhada entre os agentes envolvidos.

Heart Team

Cabe citar um exemplo já implantado em alguns serviços de saúde e que tem sua importância ratificada pelas sociedades brasileira e internacionais das especialidades, conforme publicações de seus guidelines: o Heart Team.

O Heart Team é composto por equipe multidisciplinar (cirurgia cardíaca, cardiologia intervencionista, cardiologia clínica, enfermagem, nutrição, fisioterapia, entre outros) que tem como objetivo discutir sobre as condutas terapêuticas de pacientes com doença arterial coronariana (DAC). Tais discussões têm por objetivo a tomada de decisão quanto ao tratamento mais adequado, caso a caso. Ou seja, o paciente está no centro dessas discussões.

Neste processo é possível identificar a visão holística do cuidado. O paciente é empoderado por meio de todas as informações recebidas e, assim, o sucesso do tratamento escolhido terá maior chance de ser alcançado. Aspectos nem sempre visíveis – tais como expectativas, anseios e dificuldades – poderão ser alcançados neste modelo. É essencial também considerar esses aspectos, para que sejam desenvolvidas novas soluções tecnológicas em saúde.

Modelo Assistencial Centrado no Paciente

Voltando ao parágrafo inicial deste texto, observa-se que todos os players do sistema de saúde devem repensar como o paciente está sendo inserido neste contexto. Dessa forma, será possível construir uma relação que propicie o seu empoderamento, tendo como premissa a ética, a transparência e o respeito à individualidade.

Acrescenta-se que as discussões e compromissos dos gestores de toda cadeia em saúde têm papel fundamental para propiciar esse empoderamento, a partir da integração dos serviços e garantia na qualidade da assistência prestada.

Por fim, para pensar em um novo modelo assistencial em saúde é necessário revisitar os modelos atuais. É preciso, também, qualificar os profissionais envolvidos para atuarem em uma assistência centrada ao paciente. Existem inúmeros modelos em discussão e não há uma “fórmula pronta”. Mas, acredite, deixar o paciente fora deste contexto, ao meu ver, é repetir os modelos já existentes.

Sobre a autora:

Andrea Bergamini
Andréa Bergamini é diretora técnica da empresa Gestão OPME; mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília; integrante do Grupo Técnico de Trabalho de Órteses, Próteses e Materiais Especiais, coordenado pelas Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Agência Nacional de Saúde Suplementar; parte do Comitê Técnico de OPME do Fórum Latino-Americano de Defesa do Consumidor e secretária-geral do Instituto Transparência Saúde (ITS).

Fatores de risco para a saúde do coração

Principais Impactos da Doença Coronariana

Principais Impactos da Doença Coronariana

Assim como acontece com todas as células do nosso organismo, as células que fazem parte do músculo cardíaco e das demais estruturas do coração também precisam receber sangue com oxigênio e nutrientes para manterem-se vivas. As artérias coronárias são os principais vasos sanguíneos responsáveis por essa função. E é por isso que a doença coronariana é tão grave.

“Sem oxigênio, as células do coração entram em isquemia e morrem. Esse problema pode ser provocado por diversos fatores, relacionados ou não às artérias coronárias” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

O uso de drogas como a Cocaína, por exemplo, pode provocar espasmos nos vasos sanguíneos coronarianos e prejudicar a oxigenação e funcionamento do músculo cardíaco. Há casos também de formação de coágulos em outras regiões do corpo (até mesmo dentro do coração) que se desprendem e acabam por obstruir as artérias coronárias. 

A frequência cardíaca acelerada (taquicardia) é outro exemplo. Ela pode  cursar com aumento da demanda de oxigênio a um ponto em que a árvore coronariana não consegue sustentar. De forma oposta, quadros infecciosos localizados ou generalizados (Sepse) podem reduzir o aporte de oxigênio e provocar isquemias, que irão cursar com doença coronariana. 

No entanto, quando falamos de doença coronariana, não podemos deixar de falar da aterosclerose:

“A aterosclerose, doença que causa degeneração e obstrução progressiva dos vasos sanguíneos, é responsável por mais de 90% dos casos de isquemia. Ela tem avanço lento e pode demorar a dar os primeiros sintomas” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).  

A doença coronariana  – como a aterosclerose – pode levar a eventos cardíacos graves, como o surgimento de arritmias, o infarto do coração e a morte súbita

Aterosclerose

Em condições normais, o suprimento de sangue para as células do coração é contínuo. No entanto, os estudos mostram que desde a infância, tanto por características genéticas, como por hábitos de vida nocivos, como o sedentarismo e consumo de alimentos industrializados (ricos em açúcares e gorduras), as pessoas podem vir a acumular placas obstrutivas nas paredes das artérias, conhecidas popularmente por “placas de gordura”.

Tais “placas de gordura” vão aos poucos inflamando, ganhando tamanho e prejudicando o fluxo de sangue oxigenado para os músculos do coração. Além disso, em alguns casos, elas podem vir a se romper e a extravasar todo o conteúdo gorduroso na luz da artéria, obstruindo de forma aguda a passagem de sangue.

“É assim que acontece o infarto agudo do miocárdio. Isso significa que parte do músculo cardíaco (miocárdio) não está mais recebendo o sangue que traz oxigênio para as células. Isso pode acarretar morte de tecido muscular em pouco tempo. O quadro se apresenta, na maior parte das vezes, como dor no peito (angina), com irradiação para os braços e pescoço” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Infarto Agudo do Miocárdio

Quando o infarto acontece, o atendimento deve ser urgente. Com a obstrução total da artéria, a lesão do músculo cardíaco é progressivamente maior com o passar dos minutos. Se o fluxo sanguíneo não for restabelecido rapidamente, instala-se a necrose do músculo daquela região não irrigada. Dependendo da extensão do músculo cardíaco afetado, o caso fica mais grave e a possibilidade de sequelas permanentes, ou mesmo de morte, fica maior.

Vale ressaltar que nem sempre a artéria do coração com a doença coronariana mais severa irá provocar o infarto. Uma lesão moderada ou mesmo pequena em uma coronária pode ser o local de formação de um trombo e provocar o infarto.

“O infarto pode acontecer de diversas formas. Há casos em que a artéria coronária não é completamente obstruída e que uma pequena quantidade de sangue ainda consegue fluir. No entanto, até mesmo as isquemias transitórias podem ter consequências graves. Entre elas, as arritmias, a morte súbita e a Insuficiência Cardíaca” –  Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Arritmias e Morte Súbita

Uma vez sem oxigênio, e caso o paciente sobreviva, a região do músculo cardíaco onde ocorreu a morte de células tenta se regenerar. Nesse processo, pequenas cicatrizes são formadas. No lugar das células saudáveis mortas, formam-se áreas de tecido fibroso.

“O grande problema é que essas novas áreas formadas pelas cicatrizes das células mortas possuem comportamento elétrico diferente das células cardíacas originais. Assim, a eletricidade que faz o coração bater passa por essas novas áreas com velocidade e forma diferentes do normal. Esse fato pode provocar arritmias graves e morte súbita” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Insuficiência Cardíaca

Outra consequência direta dos quadros de isquemia e de infarto é a Insuficiência Cardíaca, doença caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue suficiente para atender às demandas do organismo.

“Trata-se de uma doença muito limitante. Mais de 50% dos casos de insuficiência cardíaca são causados pela isquemia”Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790). 

Pacientes com Insuficiência cardíaca costumam apresentar falta de ar, grande dificuldade para realizar esforços físicos e baixa qualidade de vida. 

Prevenção da Doença Coronariana

Para reduzir a mortalidade e as sequelas provocadas pela doença coronariana, prevenção é fundamental. A adoção de um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e prática de exercícios físicos pode ajudar a evitar eventos graves e reduzir os seus impactos sobre a qualidade de vida das pessoas.

Além disso, é muito importante realizar o acompanhamento periódico com o médico cardiologista.

“O médico cardiologista poderá realizar uma série de exames e avaliações para determinar qual o risco que o paciente tem de desenvolver doença coronariana no futuro. E, dependendo dos resultados, traçar estratégias de prevenção, que podem envolver inclusive o uso de medicamentos para a pressão e para o controle do colesterol”  – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Caso algum evento cardíaco aconteça, é fundamental procurar o atendimento médico o quanto antes. Lembre-se: tempo é músculo. Quanto mais tempo uma pessoa leva para ser atendida durante uma situação de infarto, mais músculo cardíaco morre e pior a situação do paciente.

Sobre o autor:

Daniel Medeiros Moreira (CRM-SC 11708 RQE 7790) é Médico Cardiologista. Concluiu graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2004, com mérito por melhor desempenho acadêmico. É especialista em Medicina Interna pelo Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani São Thiago (HU-UFSC), especialista em Cardiologia pelo Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul (IC-FUC) e em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Mestre e Doutor em Ciências da Saúde: Cardiologia, pelo Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul (IC-FUC). Atualmente, é Cardiologista do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC), professor das disciplinas de Semiologia I, Semiologia II e Sistema Cardiorrespiratório na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Diretor de Qualidade Assistencial da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Seção Santa Catarina (SBC/SC). Atua com pesquisa em diferentes tópicos, dentre os quais, Inflamação, Síndrome Coronariana Aguda, Insuficiência Cardíaca e Música em pacientes com cardiopatias.

 

Banner azul claro com texto em azul-escuro: "7 Dúvidas sobre a Cirurgia de Revascularização do Miocárdio. Ebook Gratuito"

 

No-touch: técnica para a retirada da veia safena

No-touch: técnica para a retirada da veia safena

Em estudos recentes e em publicação realizada no volume 34, edição de  número 1 de 2019, do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery, Domingos Souza et al. descreveram etapa por etapa a técnica no-touch para a retirada da veia safena para a Cirurgia de Revascularização do Miocárdio. O autor também relatou o desfecho clínico e angiográfico de follow-up de 3 meses em um paciente submetido ao procedimento.

“No artigo, o paciente em questão já é idoso, tem 80 anos. Além disso, possui hipertensão, hiperlipidemia e histórico de infarto do miocárdio prévio com intervenção coronária percutânea à artéria coronária direita”. Dra. Marli Annes, Cirurgiã Cardiovascular (CRM 19804).

Conforme o estudo de Domingos Souza et al.:

The ejection fraction was 55% and he was complaining of exertional chest pain. The coronary angiography showed advanced three-vessel disease with significant stenoses in the left anterior descending (LAD) artery, two marginal arteries (MAs) and the posterior descending artery (PDA), in addition to an occluded diagonal artery (DA).

Perviedade dos Enxertos Arteriais

A Cirurgia de Revascularização do Miocárdio é o procedimento cirúrgico mais estudado na história da medicina. Atualmente, o que é mais discutido pelos cirurgiões cardiovasculares é como melhorar a capacidade dos enxertos e manter a sua perviedade em longo prazo.

Hoje, a técnica mais difundida é a utilização, sempre que possível, de enxertos arteriais. O uso da artéria torácica interna esquerda (ATIE) pode chegar até 95% em 10 anos. Já os enxertos de veia safena apresentam índices de apenas 50%, neste mesmo período, no que tange a perviedade.

“Todos os anos, mais de 800 mil Cirurgias de Revascularização do Miocárdio são realizadas mundialmente. E mesmo com índice subótimo de perviedade em longo prazo, a veia safena é amplamente utilizada como enxerto para a realização de bypass. Isso se deve, entre outros motivos, à sua anatomia, facilidade de acesso e capacidade de fornecer tecido suficiente para revascularizar diversos vasos” – Dra. Marli Annes, Cirurgiã Cardiovascular (CRM 19804).

Perviedade da Veia Safena com a Técnica No-touch

Com esse sentido, a técnica “No-touch” para a retirada da veia safena, desenvolvida pelo cirurgião Domingos Souza ainda na década de 1990, é vista como uma alternativa para melhoria da durabilidade do enxerto. Nela, os índices de perviedade chegam a 90% em um seguimento de oito anos e meio: um resultado comparável ao uso da Artéria Torácica Interna Esquerda (ATIE).

A técnica “no-touch” consiste na retirada atraumática da veia safena. Isso porque o cirurgião não manipula diretamente o tecido com o instrumental cirúrgico. Nela, a veia safena é retirada com o tecido subcutâneo perilocal que a envolve. Busca-se, assim, o mínimo de manipulação deste vaso. Além disso, contempla também o cuidado ao preparar este segmento venoso, com injeção de solução em baixa pressão dentro dele. Dessa forma, procura-se evitar a lesão do endotélio e prolongar a vida útil da safena.

Como benefício, a técnica No Touch apresenta excelentes resultados na longevidade dos enxertos feitos com a veia safena, quando comparado à técnica convencional.

No artigo de Domingos Souza et al:

The patient received a triple sequential no-touch vein graft to the PDA and two MAs together with a double sequential no-touch vein graft to the DA and LAD. A vein graft was used to bypass the LAD due to the age of the patient and the low degree (60-70%) of stenosis in the LAD.

Aplicação da Técnica No-touch

Como resultado, o artigo de Domingos Souza et al. mostra que, no follow-up de três meses, o paciente submetido ao procedimento encontrava-se completamente assintomático. O exame de angiotomografia computadorizada revelou patência de todos os enxertos realizados.

Na Equipe Seu Cardio, estamos utilizando a mesma técnica e realizando protocolos comparativos com intuito de alcançarmos as mesmas conclusões demonstradas nos estudos do Dr. Domingos Souza et al.

Com a aplicação da técnica no-touch, resgatamos a importância dos enxertos venosos como estratégia segura em associação aos enxertos arteriais. Assim, reforçamos a posição da cirurgia de revascularização do miocárdio como tratamento ouro para a insuficiência coronariana crônica.

Com a devida autorização do Prof. Dr. Domingos Souza, pesquisador e criador da técnica No Touch, estamos disponibilizando sua aula sobre o tema – apresentada 3o Encontro Anglo-Latino de Cirurgia Cardíaca, em Londres. O material contém vasto conteúdo sobre esta abordagem, já publicada na literatura médica mundial e com follow-up de longo prazo. Para acessar a aula, clique aqui.

Para ler o artigo do Dr. Domingos Souza et al. na íntegra, publicado no Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery, clique aqui.

 

tecnica-no-touch-de-retirada-da-veia-safena-equipe-seu-cardio-cirurgia-cardiovascular-em-florianopolis-sc

 

 

Obesidade e Doenças do Coração

Obesidade e Doenças do Coração

De acordo com a última pesquisa VIGITEL, divulgada em 2018, 18,9% dos brasileiros são obesos. Já o sobrepeso, marcado por índices de massa corporal entre 25 Kg/m2 e 30Kg/m2 , afeta mais de metade da população (54%). Esses índices, por si só, já chamam a atenção. Se considerarmos a relação entre obesidade e doenças do coração, os números alertam para a necessidade de ações que revertam esse quadro.

Graus de Obesidade

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo. Para ser considerado obeso, o indivíduo precisa ter uma relação entre peso e altura (índice de massa corporal) maior do que 30 Kg/m2.

Ainda assim, existem três graus de obesidade, que variam conforme o índice de massa corporal de cada pessoa:

  • Obesidade de Grau 1: índice de massa corporal superior a 30 Kg/m2
  • Obesidade de Grau 2: índice de massa corporal superior a 35 Kg/m2
  • Obesidade de Grau 3, também conhecida como obesidade mórbida: índice de massa corporal superior a 40 Kg/m2

“Tanto a obesidade quanto o sobrepeso possuem componentes genéticos importantes. Além disso, sofrem grande influência do estilo de vida das pessoas. O estresse, a ansiedade, o sedentarismo e a alimentação inadequada podem levar a esse problema e potencializá-lo”. – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior, Médico Cirurgião Bariátrico (CRM 9547 / RQE 7019).

Em nosso organismo, o acúmulo de células de gordura estimulam diversas reações negativas para a saúde. Este conjunto de fatores, conhecido como síndrome metabólica, pode ter efeitos diretos sobre o coração. A seguir, explicamos melhor a relação entre obesidade e doenças do coração.

Síndrome Metabólica

A síndrome metabólica é constituída por uma série de problemas interdependentes, que provocam e são provocados juntos, ao mesmo tempo, pelo acúmulo de gordura, pelo diabetes, hipertensão e pelos altos níveis de colesterol no sangue. Trata-se de um ciclo de grandes sofrimentos que, além do componente genético, tem relação direta com hábitos de vida do paciente, como a alimentação e o sedentarismo.

 

Relação com Alimentos Industrializados

De forma geral, a base alimentar da população passou a ser constituída por alimentos industrializados, com alto teor de açúcares e farinhas brancas. Estes produtos, no entanto, possuem baixo teor de fibras, vitaminas e minerais. Essa característica deixa a sua digestão mais rápida e muito mais fácil.

Os produtos industrializados costumam ser digeridos logo no início do tubo intestinal, em seus 10% iniciais. O problema é que essa região é responsável por estimular o pâncreas a liberar insulina, hormônio responsável por transportar o açúcar para as células, para que seja transformado em energia. Assim, uma vez que a absorção dos alimentos industrializados acontece justamente na porção do intestino que mais estimula a insulina, mais açúcares são levados às células.

 

Insulina e Fome

No geral, os carboidratos refinados – e a consequente elevação da insulina causada pela ingestão deles – provocam uma grande necessidade de comer mais.

“São os hormônios liberados pelas demais porções do intestino que deveriam controlar esse mecanismo e regular a quantidade de insulina no corpo. Mas, como os alimentos a base de açúcares e farinhas brancas não chegam em grandes quantidades até essas regiões, o órgão não é estimulado como deveria, e a sensação de fome continua”. – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

Assim, com mais insulina livre no organismo, a tendência é que a pessoa passe a comer mais. Em um quadro de falta de exercícios físicos (sedentarismo), o acúmulo de gordura é inevitável.

 

Resistência à Insulina

O tecido adiposo acumulado também causa danos à saúde. Provoca uma série de alterações moleculares importantes que prejudicam a absorção da glicose pelas células. Dessa forma, acaba causando e agravando a resistência à insulina.

Para compensar essa falha, o pâncreas é superestimulado. No entanto, chega um momento em que o órgão não consegue mais produzir insulina suficiente. Dessa forma, além de sofrer com sobrepeso/obesidade, os níveis de açúcar no sangue do paciente também sobem. É assim que o Diabetes Tipo 2 se estabelece.

Processo Inflamatório

O acúmulo de açúcares no sangue é altamente prejudicial à saúde. Ele provoca o aumento do número de radicais livres, que passam a atacar as células em maior número do que o organismo consegue controlar.

Esse processo inflamatório constante leva à oxidação excessiva de vários órgãos, principalmente dos vasos sanguíneos. Lesões renais, oculares e insuficiências circulatória são algumas das consequências.

“Além disso, o excesso de açúcar no sangue tende a ser convertido em triglicerídeos e provocar o acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática) e entre os demais órgãos (gordura visceral), o que gera ainda mais inflamação”.  – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

A arteriosclerose, fator de risco importante para infarto e AVC (acidente vascular cerebral), passa a ser uma realidade bastante perigosa. O mesmo acontece com uma série de outras doenças. Assim, a relação entre obesidade e doenças do coração é bastante estreita.

Obesidade e Doenças do Coração

A obesidade e o sobrepeso geram uma carga extra para o coração, que precisará trabalhar de forma mais intensa para enviar sangue para todo o corpo. De início, o organismo pode se adaptar. No entanto, com o tempo, a musculatura cardíaca tende a enfraquecer. Assim, o quadro pode levar à insuficiência cardíaca.

Outro aspecto da relação entre a obesidade e doenças do coração é a hipertensão. O excesso de peso provoca o aumento da tensão nas paredes das artérias. Esse processo, por si só, tende a gerar lesões ao tecido dos vasos sanguíneos. Além disso, algumas substâncias liberadas pelo próprio tecido adiposo também podem causar inflamação das artérias e potencializar as lesões já existentes.

“Isso é muito importante, pois as complicações são muito graves. As lesões nas artérias podem acarretar em um infarto do coração ou em um acidente vascular cerebral (AVC)”.  – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

Obesidade e Tratamento

O tratamento da obesidade passa, necessariamente, pela mudança do estilo de vida. Alimentação, atividade física e suporte psicológico fazem parte do processo. Se considerarmos que a relação entre obesidade e doenças do coração, além de outras, é estreita, o esforço para tratar a obesidade vale à pena.

Porém, há pacientes que encontram maior dificuldade para emagrecer. São casos em que as mudanças no estilo de vida não foram bem sucedidas, apesar das tentativas por mais de dois anos. Esses pacientes contam com o recurso da cirurgia bariátrica.

Nesses casos, não basta apenas a vontade de realizar a cirurgia. É necessária uma avaliação multidisciplinar, que envolve o cirurgião bariátrico e profissionais que poderão atestar a indicação do procedimento.

“As cirurgias bariátricas e metabólicas, que criam um bypass para o bolo alimentar, evitam a passagem da comida pelo início do intestino, reduzem a liberação de insulina e estimulam as demais porções do órgão para a produção de outros hormônios que auxiliam no controle da fome. Estes procedimentos, juntamente com a adoção de um estilo de vida mais saudável, contribuem significativamente para o controle da obesidade e dos fatores de risco para doenças cardíacas”.  – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

Obesidade e doenças do coração andam juntas. A relação entre elas torna-se mais próxima na medida em que a idade avança. Por isso, buscar orientação e suporte profissional é fundamental para a qualidade de vida e para uma vida mais longa.

Sobre o autor: Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019) é médico especialista em Cirurgia Bariátrica. É graduado na primeira turma reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina na área, em 2017 e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Atua na Clínica Bariátrica Florianópolis e no Hospital SOS Cárdio, como cirurgião bariátrico, em Florianópolis/SC.

 

CTA para download gratuito do ebook sobre fatores-de-risco-coracao