Estatinas no Combate às Doenças do Coração – Por Dr. Jamil Cherem Schneider – CRM/SC 3151 RQE 2874*

Já foi provado pela ciência que o colesterol está diretamente relacionado com as doenças cardiovasculares. Quanto maior a concentração de LDL (colesterol ruim), e menor a de HDL (colesterol bom), maiores as chances de desenvolver doença aterosclerótica – causa de doença arterial coronária com risco aumentado de desenvolver infarto do miocárdio ou morte súbita. Para evitar isso, especialmente nos casos de alto risco, o tratamento com estatinas, associado à adoção de hábitos saudáveis, é amplamente recomendado.

De acordo com o European Heart Journal:

  • Em um estudo de quase 15 anos, as pessoas que suspenderam o tratamento com estatinas tiveram 26% mais infartos. Apresentaram também 18% mais mortes por doenças cardiovasculares.
  • Pesquisas recentes, com mais de 25 mil pessoas, apontam que a redução de 1 mmol/l de LDL (colesterol ruim) reduz em 20% as chances de problemas cardiovasculares.

Além do colesterol, as características genéticas, a idade, o tabagismo, a hipertensão, o diabetes, o sedentarismo, a obesidade e o estresse contribuem para a ocorrência de doenças cardiovasculares. Todos estes fatores são levados em conta pelo médico cardiologista ao avaliar o paciente e estabelecer quais são os seus riscos.

Estabelecendo os riscos

O colesterol não deve ser visto em uma tabela, apenas como um número absoluto. Cada organismo humano possui características próprias. Pessoas do mesmo sexo e idade podem ter condições físicas e metabolismo bastante diferentes. Por isso, a mesma taxa de colesterol pode ter significados completamente diferentes entre duas pessoas.

“Uma paciente de 32 anos, que não possui fator de risco associado, como fumo e diabetes, nem possui histórico familiar, pode ter um colesterol de 240 e ser considerada de baixo risco. No entanto, uma pessoa do mesmo sexo e idade, porém diabética e hipertensa, pode ter colesterol de 200 (mais baixo que a primeira) e ser considerada de alto risco”. (Dr. Jamil Cherem Schneider CRM-SC 3151 RQE 2874)

Cabe ao médico identificar e definir qual o risco para cada indivíduo. Cada pessoa deve ter uma meta diferente de colesterol, dentro da sua realidade. Dessa forma, o uso de medicamentos, como as estatinas, também deve ser determinado pelo médico.

O Uso de Estatinas

As estatinas foram criadas no início da década de 1980 e são os medicamentos mais eficazes para o combate ao colesterol – e redução dos riscos de doenças coronarianas associadas a ele. Estas substâncias agem fundamentalmente no fígado, na região onde o colesterol é produzido. Elas inibem o funcionamento de enzimas que produzem o colesterol, impedindo sua formação e reduzindo os níveis da substância no sangue.

“O uso contínuo de estatinas não reduz os níveis de colesterol progressivamente, mas sim até um determinado valor. Hoje, existem no mercado diferentes tipos de estatinas, com potências diferentes. O médico define a quantidade e a potência da medicação para que o colesterol seja reduzido até o nível mais adequado para cada paciente.” (Dr. Jamil Cherem Schneider CRM-SC 3151 RQE 2874).

As estatinas agem também nas placas de gordura, quando já existentes nos vasos sanguíneos. Um dos aspectos dessas placas de gordura, por exemplo, é o processo inflamatório que podem sofrer. Quanto maior o processo inflamatório na placa, maior a chance de rompimento e de algum evento cardiovascular, como um infarto.

As estatinas não apenas reduzem o conteúdo de gordura no sangue (através do fígado), mas também reduzem os processos inflamatórios e estabilizam as placas de gordura já presentes nos vasos sanguíneos.

Contraindicações das Estatinas e Relação com Diabetes

As estatinas não são indicadas para pessoas com doenças inflamatórias ativas no fígado. O efeito colateral mais comum são as dores musculares, que atingem de 10% a 15% dos pacientes. Já a rabdomiólise é um efeito colateral mais grave, mas muito raro.

Nos últimos anos, pesquisadores descobriram que o uso crônico das estatinas pode elevar o risco do Diabetes. Contudo, cabe exclusivamente ao médico avaliar os potenciais riscos e benefícios da prescrição para cada pessoa. Em linhas gerais, pacientes com alto risco de desenvolver Diabetes e baixo risco para doenças coronarianas não deveriam usar estatinas. Porém, somente o cardiologista clínico poderá avaliar e prescrever o uso ou não das estatinas de forma adequada.

Estatinas e Pacientes de Risco Moderado

Em geral, pacientes de alto risco para doenças do coração – como a aterosclerose, que leva ao infarto – devem usar as estatinas como forma de inibir a produção de colesterol e evitar o entupimento das artérias. Pacientes que já infartaram, apresentam lesões crônicas em outras artérias ou realizaram cirurgias como a revascularização do miocárdio, também.

Já os pacientes de risco moderado precisam de uma melhor definição do seu quadro. Em geral, é recomendada a realização de novos exames. Eles irão complementar o diagnóstico e auxiliar a concluir se a pessoa deve ou não iniciar o tratamento com estatinas. Entre os exames mais utilizados para isso, está o Escore de Cálcio.

O Escore de Cálcio é uma tomografia computadorizada. No entanto, ao contrário das demais tomografias, ela é muito rápida, com um índice de radiação muito pequeno. Nela, também não é usado contraste. O exame avalia a quantidade de cálcio presente nas artérias do coração – proveniente da calcificação das placas de gordura ali existentes.

“A estatina não é uma droga para tratar número de colesterol. Ela é um medicamento para tratar os riscos associados a ele. Dessa forma, uma pessoa com colesterol um pouco elevado, mas com escore de cálcio zero, possui baixo risco de ter um evento cardiovascular no período de 10 anos e não precisa tomar estatina. Já uma pessoa que apresenta escore de cálcio acima de 400 precisará tomar estatina, independente dos níveis de colesterol.” (Dr. Jamil Cherem Schneider CRM-SC 3151 RQE 2874)

Por isso, vale reforçar que cada pessoa tem um organismo de características únicas. O nível de colesterol tem representações diferentes para cada indivíduo. Além disso, cada um tem uma história de vida e uma rotina própria. Todos esses aspectos são considerados na avaliação de risco para doenças cardiovasculares. Assim, é fundamental buscar orientação médica com o Cardiologista para receber a correta indicação de uso – ou não – de estatinas.

Cuide da sua saúde de forma consciente. Seu coração agradece!

*Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 RQE 2874) é Cardiologista Clínico e Diretor do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC). Com mais de 30 anos de atuação em Cardiologia, atualmente atua na clínica Prevencordis, no Instituto de Cardiologia e no Hospital SOS Cárdio, todos em Florianópolis/SC.

Equipe Seu Cardio
Somos Cirurgiões Cardiovasculares interessados na saúde e no bem-estar de nossos pacientes. Aqui no Blog procuramos levar conhecimento à comunidade, pois acreditamos que a informação auxilia na prevenção, na adesão ao tratamento e na tranquilidade dos pacientes e seus familiares.