De acordo com a última pesquisa VIGITEL, divulgada em 2018, 18,9% dos brasileiros são obesos. Já o sobrepeso, marcado por índices de massa corporal entre 25 Kg/m2 e 30Kg/m2 , afeta mais de metade da população (54%). Esses índices, por si só, já chamam a atenção. Se considerarmos a relação entre obesidade e doenças do coração, os números alertam para a necessidade de ações que revertam esse quadro.

Graus de Obesidade

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo. Para ser considerado obeso, o indivíduo precisa ter uma relação entre peso e altura (índice de massa corporal) maior do que 30 Kg/m2.

Ainda assim, existem três graus de obesidade, que variam conforme o índice de massa corporal de cada pessoa:

  • Obesidade de Grau 1: índice de massa corporal superior a 30 Kg/m2
  • Obesidade de Grau 2: índice de massa corporal superior a 35 Kg/m2
  • Obesidade de Grau 3, também conhecida como obesidade mórbida: índice de massa corporal superior a 40 Kg/m2

“Tanto a obesidade quanto o sobrepeso possuem componentes genéticos importantes. Além disso, sofrem grande influência do estilo de vida das pessoas. O estresse, a ansiedade, o sedentarismo e a alimentação inadequada podem levar a esse problema e potencializá-lo”. – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior, Médico Cirurgião Bariátrico (CRM 9547 / RQE 7019).

Em nosso organismo, o acúmulo de células de gordura estimulam diversas reações negativas para a saúde. Este conjunto de fatores, conhecido como síndrome metabólica, pode ter efeitos diretos sobre o coração. A seguir, explicamos melhor a relação entre obesidade e doenças do coração.

Síndrome Metabólica

A síndrome metabólica é constituída por uma série de problemas interdependentes, que provocam e são provocados juntos, ao mesmo tempo, pelo acúmulo de gordura, pelo diabetes, hipertensão e pelos altos níveis de colesterol no sangue. Trata-se de um ciclo de grandes sofrimentos que, além do componente genético, tem relação direta com hábitos de vida do paciente, como a alimentação e o sedentarismo.

 

Relação com Alimentos Industrializados

De forma geral, a base alimentar da população passou a ser constituída por alimentos industrializados, com alto teor de açúcares e farinhas brancas. Estes produtos, no entanto, possuem baixo teor de fibras, vitaminas e minerais. Essa característica deixa a sua digestão mais rápida e muito mais fácil.

Os produtos industrializados costumam ser digeridos logo no início do tubo intestinal, em seus 10% iniciais. O problema é que essa região é responsável por estimular o pâncreas a liberar insulina, hormônio responsável por transportar o açúcar para as células, para que seja transformado em energia. Assim, uma vez que a absorção dos alimentos industrializados acontece justamente na porção do intestino que mais estimula a insulina, mais açúcares são levados às células.

 

Insulina e Fome

No geral, os carboidratos refinados – e a consequente elevação da insulina causada pela ingestão deles – provocam uma grande necessidade de comer mais.

“São os hormônios liberados pelas demais porções do intestino que deveriam controlar esse mecanismo e regular a quantidade de insulina no corpo. Mas, como os alimentos a base de açúcares e farinhas brancas não chegam em grandes quantidades até essas regiões, o órgão não é estimulado como deveria, e a sensação de fome continua”. – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

Assim, com mais insulina livre no organismo, a tendência é que a pessoa passe a comer mais. Em um quadro de falta de exercícios físicos (sedentarismo), o acúmulo de gordura é inevitável.

 

Resistência à Insulina

O tecido adiposo acumulado também causa danos à saúde. Provoca uma série de alterações moleculares importantes que prejudicam a absorção da glicose pelas células. Dessa forma, acaba causando e agravando a resistência à insulina.

Para compensar essa falha, o pâncreas é superestimulado. No entanto, chega um momento em que o órgão não consegue mais produzir insulina suficiente. Dessa forma, além de sofrer com sobrepeso/obesidade, os níveis de açúcar no sangue do paciente também sobem. É assim que o Diabetes Tipo 2 se estabelece.

Processo Inflamatório

O acúmulo de açúcares no sangue é altamente prejudicial à saúde. Ele provoca o aumento do número de radicais livres, que passam a atacar as células em maior número do que o organismo consegue controlar.

Esse processo inflamatório constante leva à oxidação excessiva de vários órgãos, principalmente dos vasos sanguíneos. Lesões renais, oculares e insuficiências circulatória são algumas das consequências.

“Além disso, o excesso de açúcar no sangue tende a ser convertido em triglicerídeos e provocar o acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática) e entre os demais órgãos (gordura visceral), o que gera ainda mais inflamação”.  – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

A arteriosclerose, fator de risco importante para infarto e AVC (acidente vascular cerebral), passa a ser uma realidade bastante perigosa. O mesmo acontece com uma série de outras doenças. Assim, a relação entre obesidade e doenças do coração é bastante estreita.

Obesidade e Doenças do Coração

A obesidade e o sobrepeso geram uma carga extra para o coração, que precisará trabalhar de forma mais intensa para enviar sangue para todo o corpo. De início, o organismo pode se adaptar. No entanto, com o tempo, a musculatura cardíaca tende a enfraquecer. Assim, o quadro pode levar à insuficiência cardíaca.

Outro aspecto da relação entre a obesidade e doenças do coração é a hipertensão. O excesso de peso provoca o aumento da tensão nas paredes das artérias. Esse processo, por si só, tende a gerar lesões ao tecido dos vasos sanguíneos. Além disso, algumas substâncias liberadas pelo próprio tecido adiposo também podem causar inflamação das artérias e potencializar as lesões já existentes.

“Isso é muito importante, pois as complicações são muito graves. As lesões nas artérias podem acarretar em um infarto do coração ou em um acidente vascular cerebral (AVC)”.  – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

Obesidade e Tratamento

O tratamento da obesidade passa, necessariamente, pela mudança do estilo de vida. Alimentação, atividade física e suporte psicológico fazem parte do processo. Se considerarmos que a relação entre obesidade e doenças do coração, além de outras, é estreita, o esforço para tratar a obesidade vale à pena.

Porém, há pacientes que encontram maior dificuldade para emagrecer. São casos em que as mudanças no estilo de vida não foram bem sucedidas, apesar das tentativas por mais de dois anos. Esses pacientes contam com o recurso da cirurgia bariátrica.

Nesses casos, não basta apenas a vontade de realizar a cirurgia. É necessária uma avaliação multidisciplinar, que envolve o cirurgião bariátrico e profissionais que poderão atestar a indicação do procedimento.

“As cirurgias bariátricas e metabólicas, que criam um bypass para o bolo alimentar, evitam a passagem da comida pelo início do intestino, reduzem a liberação de insulina e estimulam as demais porções do órgão para a produção de outros hormônios que auxiliam no controle da fome. Estes procedimentos, juntamente com a adoção de um estilo de vida mais saudável, contribuem significativamente para o controle da obesidade e dos fatores de risco para doenças cardíacas”.  – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).

Obesidade e doenças do coração andam juntas. A relação entre elas torna-se mais próxima na medida em que a idade avança. Por isso, buscar orientação e suporte profissional é fundamental para a qualidade de vida e para uma vida mais longa.

Sobre o autor: Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019) é médico especialista em Cirurgia Bariátrica. É graduado na primeira turma reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina na área, em 2017 e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Atua na Clínica Bariátrica Florianópolis e no Hospital SOS Cárdio, como cirurgião bariátrico, em Florianópolis/SC.

 

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Equipe Seu Cardio
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