Neste artigo, escrito pelo Cirurgião Cardiovascular Dr. Giani Osni Alves (CRM/SC 4861), da equipe Seu Cardio, você vai saber mais sobre a circulação extracorpórea (CEC) e porque algumas vezes é utilizada na cirurgia cardíaca. Boa leitura!
A circulação extracorpórea, aqui abreviada por CEC, passou e passa por um desenvolvimento multidisciplinar para que as cirurgias cardíacas hoje realizadas possam ser executadas com bastante segurança.
Antes deste recurso, as cirurgias cardíacas intra cavitárias eram realizadas com ajuda de diminutas aberturas no coração e dependiam da utilização do tato dos cirurgiões. Ainda em alguns casos, eram usadas hipotermias corporais totais e um tempo de aproximadamente 8 minutos para essas abordagens.
O uso das propriedades anticoagulantes da heparina e maior entendimento de exames de sangue, gasometrias, etc, propiciou um enorme avanço nesta área.
Historicamente, em 1882, Von Shoroeder oxigenou sangue borbulhando ar em um reservatório de dispositivo para perfusão de órgãos. Depois, em 1884, após inúmeras tentativas, Von Frey e Grinber conseguiram construir o primeiro oxigenador de membrana. Em 1926, na Rússia, Brukhonenko, desenvolveu uma bomba para impulsionar sangue venoso.
Mas foi em 1951 o registro da primeira CEC para uma cirurgia de retirada de tumor de mediastino, feita por Dogliotti e Constantini. Dois anos após, Gibbom realizou, com sucesso, a correção de uma cardiopatia congênita com CEC.
O que é Circulação Extracorpórea?
Objetivamente, CEC é um dispositivo artificial pelo qual a circulação de sangue do paciente é total ou parcialmente transportada para fora do organismo. Passa por tubos e órgãos artificiais, sendo depois devolvido ao corpo do paciente.
Com isso, conseguimos três objetivos, a saber:
- Manter todos os órgãos em plena atividade;
- Propiciar um campo operatório imóvel e livre de sangue;
- Obter maior tempo para abordagem cirúrgica, com tratamento antes inimagináveis das cardiopatias.
No centro cirúrgico, o paciente que irá fazer uma cirurgia cardíaca com CEC, uma vez estando com o tórax aberto e já completamente anticoagulado, receberá uma ou duas cânulas ditas venosas no átrio direito (que recebe todo o sangue do organismo) e outra cânula, dita arterial, que será posicionada em uma artéria (femoral ou aorta ascendente geralmente).
Uma vez em CEC, o sangue que chega no átrio direito é desviado do organismo pelas cânulas e chega então num reservatório venoso. Em seguida, ele passa por um dispositivo onde é retirado o gás carbônico, em troca por oxigênio. Esse dispositivo faz a parte correspondente ao pulmão. A esse nível, existe um controle da temperatura. Através de uma bomba, o sangue retorna ao sistema arterial do paciente. Assim, faz a parte correspondente à bomba miocárdica ou coração, dando retorno ao sangue com a pressão arterial, temperatura e oxigenação necessária ao paciente.
Outras perdas sanguíneas que por acaso ocorram no campo cirúrgico, são captadas por aspiradores que devolvem o sangue ao dispositivo descrito. Assim, fazem com que a perda sanguínea (hemorragia) seja praticamente desprezível durante a CEC.
A CEC no Brasil
O controle da máquina de CEC é feito por um profissional chamado perfusionista, com formação especializada em perfusão. Esse profissional é um dos membros da equipe cirúrgica. Essa atividade profissional é regulamentada pelo Ministério da Saúde, através da portaria número 689, de 01 outubro de 2002.
No Brasil, as primeiras cirurgias cardíacas com CEC datam de 1955, com Dr. Hugo Felipozzi dando o start com uso desta técnica. Posteriormente, os cirurgiões cardiovasculares Dr. Zerbini e Dr. Adib Jatene deram início à padronização dos aparelhos e sistematização das técnicas no nosso meio.
Empresas médicas passaram a fabricar dispositivos e materiais totalmente descartáveis e de uso individual. Surgiram também máquinas cada vez mais sofisticadas, fazendo com que as cirurgias cardíacas, juntamente com novas técnicas de preservação miocárdica e técnicas operatórias, contem com muito mais segurança.
Dr. Zerbini definia seu trabalho da seguinte maneira: “… operar é divertido, é um arte, é ciência, e faz bem aos outros.”. Dr Adib Jatene, por sua vez, dizia que nada resistia ao trabalho. Graças à eles, homens de coragem e desbravadores, a cirurgia cardíaca em nosso País atingiu um patamar de excelência, com qualidade reconhecida mundialmente.
Sobre o autor: Dr. Giani Osni Alves (CRM/SC 4861) é cirurgião cardiovascular da equipe Seu Cardio. Possui ampla experiência em cirurgias de cardiopatias adquiridas, congênitas e marcapassos cardíacos.