A Comunicação Interventricular (CIV) é um tipo de cardiopatia congênita. Caracteriza-se por uma abertura ou orifício na parede (septo) que divide os ventrículos (câmaras que bombeiam o sangue) direito e esquerdo. Assim, permite a passagem do sangue de uma câmara a outra, quando este fluxo não deveria existir. Neste post, vamos abordar o impacto da Comunicação Interventricular na saúde, os tratamentos para CIV e os cuidados após o tratamento desta cardiopatia congênita.
Qual é a causa da Comunicação Interventricular?
As CIVs são geradas durante a formação do coração e estão presentes no nascimento. Durante as primeiras semanas de gestação, o coração se desenvolve a partir de um grande tubo, dividindo-se em seções que vão formar as câmaras e os septos. Se existe algum problema neste processo, podem se formar as CIVs. Em alguns caso, a tendência a formar a CIV pode ser por uma síndrome genética que causa excesso ou falta de partes nos cromossomos. Porém, a vasta maioria dos casos de Comunicação Interventricular não tem causa definida.
Como a CIV afeta o coração?
Em situações normais, o sangue no lado esquerdo do coração é bombeado para o corpo, e o do lado direito para os pulmões. Quando existe uma comunicação entre os dois lados do coração, uma grande quantidade de sangue passa do lado esquerdo, que tem maior pressão, para o lado direito. Este sangue, já oxigenado, vai novamente para os pulmões e volta para o lado esquerdo. Assim, vai sobrecarregando o trabalho do coração a cada batimento. No coração, isto ocasiona um aumento de tamanho, especialmente do átrio e do ventrículo esquerdo. Nos pulmões, esta sobrecarga de sangue aumenta a pressão, o que pode lesionar permanentemente as paredes das artérias pulmonares com o passar do tempo.
Como a CIV afeta a saúde?
Se o orifício é pequeno, pode dar poucos ou mesmo nenhum sintoma, porque a sobrecarga é pequena. Mesmo assim, no exame médico é possível se escutar um som (sopro) característico. Se o orifício é grande, a criança pode apresentar falta de ar (dispineia), dificuldade para alimentar-se e de crescer em um ritmo normal (déficit ponderal).
Qual é o tratamento para a Comunicação Interventricular?
A maioria das crianças que tem CIVs pequenas não precisam de tratamento, pois o orifício costuma fechar sozinho. Não existem medicamentos ou tratamentos que diminuam o tamanho do orifício ou que apressem seu fechamento.
Se o defeito e grande, deverá ser fechado através de uma intervenção médica, para evitar complicações. Dependendo da gravidade dos sintomas, esta intervenção pode ser necessária já nos primeiros meses de vida.
Geralmente, o fechamento da Comunicação Interventricular é realizado na infância, mesmo que a criança apresente sintomas leves. A correção cirúrgica é feita com o uso de um retalho (patch) de pericárdio (membrana que recobre o coração, usualmente de origem bovina), ou com materiais sintéticos, como Dacron ou PTFE.
Esse retalho é suturado ao redor do orifício, fechando-o. Com o tempo, o organismo recobre o retalho com uma capa de células, ficando parte permanente do coração. Se a criança está muito doente ou tem múltiplos CIVs, uma cirurgia paliativa ou temporária pode ser realizada. O procedimento reduz a circunferência da artéria pulmonar com o uso de uma banda, diminuindo, assim, o fluxo do sangue para os pulmões. Quando a criança cresce, uma nova cirurgia é realizada para remover a bandagem e corrigir o orifício com um patch. Atualmente, dependendo do tipo e da localização da Comunicação Interventricular, é possível realizar seu fechamento através de cateterismo, com o uso de dispositivos que obstruem o CIV.
Se o CIV ainda está presente no adulto, deve ser tratado?
Usualmente, se a Comunicação Interventricular é pequena, somente é tratada se o paciente já apresentou um episódio de endocardite (infecção no coração) ou se a localização do orifício está afetando o funcionamento de uma válvula cardíaca. Se a CIV é grande, é necessário observar os valores de pressão nos pulmões. Assim, pacientes com valores baixos se beneficiam do fechamento, enquanto que pacientes com valores altos podem ou não beneficiar-se.
Cuidados Após o Fechamento de CIV
É recomendado o acompanhamento regular com um Cardiologista Clínico. Se a Comunicação Interventricular é pequena ou foi fechada na infância e não foram detectados outros problemas, uma consulta a cada 3 a 5 anos deve ser suficiente. No entanto, a orientação de intervalo entre as consultas deve seguir a orientação do Cardiologista, pois pode variar conforme cada caso.
Medicamentos para CIV – Comunicação Interventricular
Medicações serão necessárias apenas diante de sinais de insuficiência cardíaca ou hipertensão pulmonar. Seu Cardiologista pode monitorar a presença destes problemas com exames não invasivos, com eletrocardiograma, holter, teste ergométrico e ecocardiograma.
Restrição a Atividades Físicas
Crianças com Comunicação Interventricular pequena ou já fechada com cirurgia não precisam de cuidados especiais. Assim, podem participar das atividade físicas normais para a idade. Adultos com certo grau de hipertensão pulmonar ou insuficiência cardíaca precisarão avaliação do Cardiologista para estabelecer os graus de atividade.
Prevenção da Endocardite
A Comunicação Interventricular não reparada não precisa de medidas preventivas contra a Endocardite. No entanto, depois do fechamento é recomendada a profilaxia durante os primeiros seis meses de evolução.
Gravidez e CIV – Comunicação Interventricular
Gestantes com CIV fechada e sem hipertensão pulmonar residual tem baixo risco de sofrerem complicações na gravidez. Já as gestantes com Comunicação Interventricular não tratada devem ser avaliadas por um Cardiologista. Usualmente, se não apresentam sinais de hipertensão pulmonar, tem gestação bem tolerada. No entanto, somente a avaliação cardiológica pode considerar as particularidades de cada caso e realizar a correta condução.
Reoperações para Tratamento de CIV
Pacientes com CIVs fechadas raramente precisam de novas cirurgias. A necessidade de uma reoperação para o tratamento da Comunicação Interventricular acontece quando há vazamento nos retalhos ou diante do diagnóstico de novos orifícios. Nestes casos, a necessidade de um novo procedimento dependerá do tamanho dos defeitos residuais.
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