Atualmente, a plastia valvar mitral vem se constituindo no tratamento de escolha, quando possível, para a abordagem das doenças que envolvem a valva mitral. A plastia é como uma plástica, onde se procura conservar ao máximo a estrutura original, apenas “consertando” o que for necessário. Com o aprimoramento das técnicas cirúrgicas e com a evolução dos materiais prostéticos, a plastia da valva mitral tem se tornado cada vez mais possível.
Para entendermos um pouco melhor esta indicação, é importante conhecer um pouco da anatomia da valva mitral. Assim teremos uma melhor compreensão de como as técnicas são utilizadas.
Entendendo a Valva Mitral
A valva mitral está localizada entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. Sua função é permitir a passagem do sangue do átrio para o ventrículo e evitar que este sangue reflua para o átrio quando o ventrículo se contrai.
A valva mitral é constituída por dois folhetos, um conjunto de cordas (cordoalhas) e dois músculos papilares que, ao se contraírem e relaxarem, promovem o adequado funcionamento valvar. Para fazer uma comparação simples, porém elucidativa, imagine dois paraquedas abertos. As lonas de ambos representam os dois folhetos da valva. As cordas do paraquedas, presas à lona, representam as cordoalhas da valva presas ao folheto. A fixação destas cordas do paraquedas no paraquedista representam a inserção das cordoalhas nos músculos papilares.
Doenças da Valva Mitral
Os problemas mais comuns da valva mitral estão relacionados à sua estrutura. A degeneração dos folhetos é um deles, que pode estar associado ou não à ruptura de cordas e que leva à insuficiência valvar. Outro problema comum é a calcificação dos folhetos. Ela leva à fusão dos folhetos valvares, restringindo a passagem do sangue – o que chamamos de estenose valvar mitral.
As doenças que mais atingem a valva mitral são: doença reumática e degenerações mixomatosas da valva. A doença reumática gera grande calcificação e pode levar tanto à Estenose quanto à Insuficiência da valva mitral. Nesses casos, a possibilidade de plastia da valva mitral é menor. Já as degenerações mixomatosas estão associadas à insuficiência da valva. Para estes casos, a plastia se constitui na abordagem de primeira escolha.
Assim, os procedimentos mais comuns de plastia estão associados à insuficiência valvar e sua degeneração.
Técnicas de Plastia Valvar Mitral
A insuficiência mitral pode ser decorrente da degeneração, retração ou alongamento dos folhetos ou, ainda, da ruptura ou retração das cordoalhas. Pode haver também insuficiência mitral decorrente da disfunção isquêmica dos músculos papilares.
Para cada tipo de alteração existe uma técnica de plastia de valva mitral específica. Pode haver necessidade de ressecção de parte do folhetos, encurtamento ou alongamento de cordoalhas, ou colocação de cordoalhas novas com fios específicos, de alta resistência e durabilidade.
Porém, as técnicas de plastia valvar mitral possuem um ponto em comum. Trata-se da colocação de uma anel que se fixa em torno da valva nativa. Este anel contribui para longevidade da plastia e para a eficiência de valva mitral.
Existem vários tipos de anéis, com diferentes conformações anatômicas. Eles costumam ter grande durabilidade e não tem relação com a falência valvar mitral. A falência está associada à progressão da doença reumática ou degenerativa.
Prótese valvar ou plastia da valva mitral?
Para podermos avaliar com melhor clareza qual o melhor tratamento para a valva mitral, entre plastia ou troca, precisamos considerar dois aspectos importantes:
1) A durabilidade das próteses biológicas em posição mitral costuma ser menor do que em posição aórtica, na mesma faixa etária.
2) A anticoagulação das próteses mecânicas em posição mitral oferece mais riscos a longo prazo do que em posição aórtica.
Diante destes fatos, a plastia da valva mitral é o tratamento de escolha, sempre que possível. Mesmo com ótimos resultados a longo prazo, é importante salientar que a plastia pode não ser um tratamento definitivo. A doença valvar pode progredir (como já citado). Porém, a plastia valvar mitral costuma ter maior longevidade que as próteses biológicas.
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