Convidamos a Dra. Isabela de Carlos Back* (CRM 5470), Cardiologista Pediátrica e Doutora em Ciências, concentração em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular pelo InCor/FMUSP, para explicar sobre a prevenção de problemas cardíacos na infância. Neste post, você vai saber quais as doenças cardíacas mais comuns na infância, como fazer para prevení-las, o papel da alimentação e da atividade física, e muito mais. Boa leitura!

Prevenção de Problemas Cardíacos na Infância

Os números são assustadores. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as Doenças Cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte no mundo. Em 2017, estima-se que mais de 17 milhões de pessoas foram vítimas de problemas coronarianos no planeta, como ataques cardíacos e derrames. No Brasil, são cerca de 300 mil infartos todos os anos – pelo menos 30% deles, fatais. E muitas dessas complicações poderiam ter sido evitadas com medidas de prevenção já na infância.

As autoridades de saúde de todo mundo indicam que cerca de 80% dos problemas cardíacos poderiam ser revertidos com hábitos saudáveis, como não ingerir bebidas alcoólicas, consumir cigarros e o sedentarismo. A prática de atividades físicas desde a infância e o cuidado dos pais com a alimentação dos filhos – com uma dieta balanceada, com baixas concentrações de sódio, gorduras saturadas e açúcares – ajudam a evitar doenças.

Está provado que hábitos alimentares inadequados na infância e na adolescência constituem importante fator de risco para a obesidade e outras doenças crônicas na vida adulta – especialmente para as doenças cardíacas. O uso precoce do álcool está associado à doenças e dependência na fase adulta. Além disso, está intimamente ligado ao insucesso escolar, acidentes, violências e outros comportamentos de risco, como o tabagismo.

O hábito de fumar é considerado pela Organização Mundial da Saúde como a principal causa de morte evitável no mundo.
Em contrapartida, a prática regular e supervisionada de atividade física na infância e na adolescência traz benefícios para todo o corpo, especialmente para o coração, além de efeitos psicológicos como diminuição da ansiedade, estresse e depressão.

Apesar de todos os esforços de comunicação realizados pelos profissionais da saúde, pesquisas indicam que as crianças de hoje crescerão como adultos doentes. Isso por conta do atual estilo de vida baseado em alimentos industrializados, sedentarismo e drogas. Os números abaixo não deixam dúvidas a respeito desta triste realidade.

Os Hábitos dos Jovens Brasileiros

Em 2015, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a terceira edição da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PENSE). O estudo ouviu mais de 2 milhões e 600 mil alunos das redes públicas e particulares. Jovens com aproximadamente 15 anos, matriculados no 9º ano do ensino fundamental. Entre os entrevistados, 51,3% eram meninas, e 48,7% meninos. Os principais resultados foram:

  • 55,5% dos jovens com cerca de 15 anos disseram já ter experimentado bebidas alcoólicas;
  • 23,8% disseram ter consumido bebidas alcoólicas menos de 30 dias antes da pesquisa.
  • 21,4% disseram já ter ficado embriagado pelo menos uma vez;
  • 18,4% já haviam experimentado cigarro – a região sul ficou com 24,9%;
  • 9% admitiram já ter usado alguma droga ilícita.

Sobre atividade física, apenas 3 a cada 10 adolescentes poderiam ser considerados ativos (com mais de 300 minutos de atividade física em uma semana). 65,6% dos estudantes foram classificados como pessoas sedentárias. Um risco que atinge especialmente as mulheres. Enquanto quase 44% dos meninos informaram praticar 300 minutos ou mais de atividade física semanal, para as meninas esse percentual cai para 25%.

Sobre alimentação, 77,3% dos estudantes brasileiros relataram receber merenda, mas apenas 38,5% comem o que é oferecido pela escola. A pergunta que fica, é: o que os nossos jovens estão comendo? Com base nos índices crescentes de obesidade infantil e na publicidade disparada pelos meios de comunicação, é difícil imaginar que sejam produtos saudáveis, que contribuam para a prevenção na infância dos problemas do coração.

As Doenças mais Comuns

A lista de doenças que podem ser evitadas ainda na fase infantil é enorme. Algumas delas mostram os seus sintomas logo cedo. Outras, como a Arteriosclerose, são silenciosas. São percebidas apenas na casa dos 40 anos – quando as artérias já estão com mais de 70% de obstrução.

A aferição da pressão arterial e o controle do colesterol a partir dos 3 anos de idade são importantes para a prevenção de problemas cardíacos na infância. Outros exames podem identificar a rigidez e a espessura das artérias das crianças: quanto mais elástica, melhor. No entanto, muitos pequenos – especialmente os mais gordinhos – já apresentam rigidez e espessura irregular nos vasos sanguíneos.

Crianças com colesterol alto, pressão alta ou obesas têm tendência de manter essas características por toda a vida. Em Florianópolis, em 2005, 38% das crianças apresentavam problemas como baixo HDL (Colesterol bom), ou alto LDL (Colesterol Ruim).

A hipertensão, por exemplo, quando não controlada desde cedo, sobrecarrega nosso sistema circulatório e provoca lesões na Aorta. Em casos mais graves, o paciente – mesmo jovem – pode desenvolver hipertrofia do músculo do coração (o coração fica musculoso, o que pode não ser bom). Pode também desenvolver insuficiência cardíaca (quando o coração aumenta de tamanho por conta da pressão nos vasos). Os acometidos pela doença têm sintomas como falta de ar e dificuldade de praticar atividades do dia-a-dia.
Outra ocorrência recorrente é o infarto de miocárdio. Ele se manifesta quando o coração perde irrigação sanguínea, já que as artérias estão obstruídas por placas de gordura e a circulação fica comprometida.

Nutrição: a importância dos primeiros 1000 dias

Os primeiros 1000 dias (já contando com os 9 meses na barriga da mãe) são fundamentais para a saúde. Uma criança que nasce de uma mãe que fuma ou que come alimentos ruins, desenvolve-se em ambiente hostil. E o corpo do bebê sofre várias alterações metabólicas com isso.

A criança que nasce de uma gravidez com privação de alimentos ou nutrientes adequados vem ao mundo como um poupador de energia. Assim, toda caloria extra que ela ingerir será armazenada, facilitando a formação de gordura e colesterol. O mesmo acontece com o sal, nos rins, provocando hipertensão. As chances de obesidade e diabetes são muito maiores.

“Mães que possuem alimentação saudável na gravidez têm mais facilidade em oferecer estes produtos para os seus filhos. Eles irão aceitar melhor os sabores dos produtos saudáveis”, afirma Dra. Isabela.

Amamentação

Esta é outra fase muito importante. O leite materno é riquíssimo em nutrientes. Possui muita gordura, o que nessa fase é muito importante, e pouco sódio. A criança que mama no peito por pelo menos 2 anos terá menos chances de desenvolver colesterol alto na vida adulta. Também terá uma pressão arterial mais baixa.

Até os seis meses, a alimentação deve ser feita exclusivamente com o leite materno. Depois disso, o leite materno continua, mas com a introdução de alimentos saudáveis, como frutas e vegetais. O acompanhamento com nutricionista é uma ótima alternativa para orientar as mães neste estágio.

A fase até os dois anos marca também a construção do paladar da criança. Pais que oferecem alimentos industrializados para os seus filhos estão criando pessoas viciadas em açúcar, sódio e gorduras trans. Dietas ricas em gorduras de origem animal, como frituras, carnes gordas e peles de aves, também não são aconselháveis. Estes alimentos contam com excesso de Gorduras Saturadas.

-> Continue a leitura acessando o artigo completo no botão abaixo. Entenda o papel das gorduras, das fibras e da atividade física na prevenção de doenças cardíacas na infância. O download é gratuito:

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*Dra. Isabela de Carlos Back (CRM 5470) é Cardiologista Pediátrica e Doutora em Ciências, concentração em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular pelo InCor/FMUSP. É professora adjunta do departamento de Pediatria e professora colaboradora dos programas de pós-graduação em Educação Física e Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina, editora associada da Revista da Associação Médica Brasileira e revisora da Revista da Associação Médica Brasileira, da Stroke, da International Journal of Cardiology, dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia e da Cardiology in the Young. Atua principalmente nos seguintes temas: prevenção da aterosclerose na infância e na adolescência, o coração e o exercício físico na infância e na adolescência, repercussões cardiovasculares das doenças sistêmicas na infância e na adolescência, e aspectos sócio-culturais, econômicos e históricos relacionados à distribuição da aterosclerose.

Equipe Seu Cardio
Somos Cirurgiões Cardiovasculares interessados na saúde e no bem-estar de nossos pacientes. Aqui no Blog procuramos levar conhecimento à comunidade, pois acreditamos que a informação auxilia na prevenção, na adesão ao tratamento e na tranquilidade dos pacientes e seus familiares.