Para entender sobre a realização de cirurgia cardíaca com ou sem circulação extracorpórea, é necessário explicar um pouco sobre como são realizadas as cirurgias de revascularização do miocárdio, popularmente conhecidas como cirurgia de ponte de safena

Revascularização do Miocárdio com Circulação Extracorpórea (CEC)

Como já explicado em outro post aqui no blog, as cirurgias de revascularização do miocárdio consistem na colocação de pontes (by-passes) para se tratar a insuficiência coronariana. Desde a sua criação, em 1967, até  os tempo de hoje, a maioria dos pacientes que passaram por esta cirurgia a fizeram com o coração parado e o suporte da circulação extracorpórea (CEC)

“Esta técnica não está diretamente associada ao aumento do risco cirúrgico. Sabe-se  que este procedimento é o mais estudado na história das cirurgias. Além disso, continua sendo realizado de maneira crescente em todo mundo, com resultados espetaculares. Há vastíssima literatura médica que comprova isto.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893), cirurgião cardiovascular chefe da equipe Seu Cardio, de Florianópolis/SC.

Como é a Circulação Extracorpórea

A circulação extracorpórea compreende um conjunto de aparelhos e técnicas que substituem a função de bomba do coração e respiratória dos pulmões durante o tempo principal da cirurgia. Dessa forma, a oxigenação do sangue, seu bombeamento e circulação são realizados pela máquina de circulação extracorpórea. Assim, estes órgãos podem permanecer parados para a realização das pontes. Durante o período em que fica parado, o coração é protegido com a infusão de uma solução que mantém sua viabilidade. 

Conforme explicado pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea, este recurso é operado pelo perfusionista, profissional formado e capacitado para tal.

“Na maioria dos casos, o coração volta a bater espontaneamente. Porém, em alguns casos há necessidade de uma cardioversão elétrica de baixa potência que faz o coração voltar a bater. Este procedimento, por si só, não agrega risco ao ato cirúrgico.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Revascularização do Miocárdio sem Circulação Extracorpórea

Há alguns anos, iniciou-se a realização da cirurgia de revascularização do miocárdio sem uso de circulação extracorpórea. Assim, muitos centros iniciaram a realizar a cirurgia com o coração batendo. Na época, defendia-se que seria possível melhorar ainda mais o resultado das cirurgias cardiovasculares.

Em teoria, os defensores desta mudança baseavam-se que se diminuiriam as possíveis complicações advindas do emprego da CEC. Haveria manutenção do mesmo resultado, relativo à qualidade das pontes e longevidade das mesmas, mesmo diante do aumento da dificuldade técnica em realizar a cirurgia com o coração batendo. 

Porém, verificou-se que determinados pacientes não suportavam a realização de todo o procedimento cirúrgico sem o emprego da circulação extracorpórea. Assim, que havia necessidade de se iniciar a circulação extracorpórea no decurso da cirurgia, a chamada conversão. Nesses pacientes, onde houve necessidade de conversão, foi observada uma incidência muito maior de complicações e maior mortalidade. 

Estudos com e sem Circulação Extracorpórea

Inúmeros estudos foram realizados procurando demonstrar a superioridade da cirurgia sem circulação extracorpórea sobre a técnica convencional. Porém, em resumo, hoje não há vantagem claramente demonstrada na literatura médica da realização rotineira da cirurgia sem circulação extracorpórea. 

“A mortalidade imediata não diminuiu e o número de complicações não obteve redução significativa no grupo sem CEC – circulação extracorpórea. O método convencional (com CEC e coração parado) mostra maior qualidade das pontes e longevidade das mesmas, a longo prazo. Assim, traduz-se em benefício aos pacientes. Vários estudos continuam em andamento, buscando ainda maior sustentabilidade destes benefícios a longo prazo.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Um outro aspecto que os estudos demonstram é a realização de um número menor de pontes nos pacientes submetidos à técnica sem CEC. Isso indica que as revascularizações deste grupo de pacientes foram mais incompletas do que às comparadas ao grupo operado com circulação extracorpórea. Há inúmeros trabalhos na literatura médica corroborando com o fato de que as revascularizações completas representam maior sobrevida a longo prazo. 

“Hoje, através dos estudos realizados e já publicados, infere-se que existe um grupo de pacientes que se beneficia da cirurgia sem CEC. São pacientes com severa doença ateromatosa da aorta, os portadores de insuficiência respiratória e renal crônicas graves e os pacientes com vasculopatia cerebral.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Recomenda-se que este assunto seja discutido com o cirurgião cardiovascular, que pode orientar qual a melhor técnica a ser utilizada em cada caso. É válido lembrar que estas técnicas estão relacionadas à cirurgia de revascularização do miocárdio, não se aplicando esta discussão às cirurgias de válvulas cardíacas, onde sempre se opera com circulação extracorpórea.

*Artigo publicado em setembro/2016 e atualizado em fevereiro/2020.

7-duvidas-cirurgia-revascularizacao-miocardio

 

Equipe Seu Cardio
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