Cirurgia de Ponte de Safena (Revascularização do Miocárdio)

Cirurgia de Ponte de Safena (Revascularização do Miocárdio)

A cirurgia de ponte de safena, como é popularmente conhecida a cirurgia de revascularização do miocárdio, é o procedimento cirúrgico mais estudado da história da Medicina. Foi criada em 1967, nos Estados Unidos, pelo cirurgião cardiovascular Rene Favaloro. Desde então, a técnica da cirurgia de ponte de safena se desenvolveu e se popularizou pelo mundo todo. Consolidou-se como um tratamento seguro, de baixo risco e extremamente eficiente para o tratamento da insuficiência coronariana.

Insuficiência Coronariana e Ponte de Safena

A insuficiência coronariana é uma doença causada pela aterosclerose das artérias coronárias, que desenvolvem placas obstrutivas em seu interior. Quando ocorre a oclusão total do vaso sanguíneo por estas placas, ou pela formação de coágulos sobre elas, temos uma isquemia aguda no coração. O quadro levando ao infarto agudo do miocárdio, uma das maiores causas de morte dos dias atuais.

Assim, a chamada cirurgia de ponte de safena consiste na colocação de pontes (bypass) feitas de enxertos de artéria ou veia. Esses enxertos são suturados na aorta e nas coronárias, ultrapassando as lesões. Assim, cria-se um novo caminho para a irrigação sanguínea do músculo cardíaco. Dessa forma, no paciente revascularizado, o sangue passa a nutrir o coração por dois caminhos: o antigo, que possui a lesão, e a ponte. Caso a coronária lesada venha a apresentar uma obstrução total, a ponte mantém o coração irrigado.

Risco e Mortalidade da Cirurgia de Revascularização do Miocárdio

A literatura mostra claramente um excelente resultado da cirurgia de revascularização do miocárdio, com uma mortalidade baixa. A mortalidade da cirurgia de revascularização do miocárdio é de cerca de 1,4%. O maior fator relacionado à mortalidade cirúrgica é o comprometimento da função ventricular. Assim, pessoas que apresentam grandes infartos prévios, ou um severo comprometimento da contratilidade do coração, costumam ter maior risco na cirurgia.

Número de Pontes e Risco da Cirurgia Cardíaca

O número de pontes a ser colocado em um paciente não impacta no risco da cirurgia. Há uma tendência de se realizar a revascularização da forma mais completa possível. Assim, procura-se tratar todas as artérias que possuem lesão.

Uma dúvida bastante frequente é: por que as lesões leves não recebem ponte? Já que vai operar o coração, não seria melhor colocar ponte em tudo? Bom, as lesões leves não são revascularizadas pelo fato de que, por serem leves, causam pouca obstrução à passagem do sangue. Assim, o fluxo pela artéria coronária é muito parecido com o fluxo pela ponte. Além disso, no local onde a ponte é colocada, acaba ocorrendo uma competição de fluxo, que pode levar à oclusão da ponte e da coronária.

Enxertos Utilizados

Outro questionamento frequente sobre a cirurgia de ponte de safena (revascularização do miocárdio) está relacionado ao tipo de enxerto que deve ser utilizado. Podem ser utilizados dois tipos de enxertos: arteriais ou venosos. Atualmente, como enxertos arteriais, são utilizadas as artérias mamárias e as artérias radiais (do antebraço) com maior frequência. Porém, podem ser usadas também as artérias epigástricas e gastroepiplóicas. Em relação aos enxertos venosos, as veias mais comumente utilizadas são as safenas. Por isso, o nome popular de “cirurgia de ponte de safena”. No entanto, podem ser utilizadas veias do braço também para a realização das pontes.

Os enxertos, tanto venosos como arteriais, podem ser utilizados em conjunto. Assim, a cirurgia de revascularização do miocárdio pode dispor de uma série de combinações de enxertos, particularizando-se cada caso.

“Os pacientes que já fizeram cirurgia de varizes e retiraram suas safenas, podem ser revascularizados buscando-se a combinação de enxertos arteriais e das veias do braço.” – Dr. Sergio Lima de Almeida, cirurgião cardiovascular CRM-SC 4370 RQE 5893

Existem trabalhos recentes na literatura médica que mostram uma tendência de maior longevidade dos enxertos arteriais. Porém, os enxertos venosos ainda são utilizados em larga escala e com excelentes resultados. Há sempre a necessidade de adequar a melhor combinação para cada caso.

Prevenção Mesmo após a Revascularização

Outro aspecto que merece ser esclarecido é a importância de se manter medidas preventivas, em relação à doença aterosclerótica, no pós-operatório.

“A aterosclerose é uma doença crônica e evolutiva e o ato cirúrgico não interfere em sua evolução. A cirurgia cardíaca trata as obstruções, que são consequências da doença. Com isso, melhora a qualidade de vida e aumenta a sobrevida dos pacientes. Porém, a cirurgia cardíaca não interfere na causa da placa. Por isso, é necessário adotar medidas preventivas, como o controle dos fatores de risco que levam à formação destas placas.” – Dr. Sergio Lima de Almeida, cirurgião cardiovascular, CRM-SC 4370 RQE 5893.

Entre os fatores de risco para o coração podemos destacar: hipertensão. Diabetes, colesterol alto, fumo, obesidade e história familiar. As medidas preventivas devem atuar no controle destes fatores de risco, com o acompanhamento médico periódico de um Cardiologista. As pontes implantadas na cirurgia estão sujeitas à ação da aterosclerose. A doença também pode evoluir em um local além da ponte. Assim, é fundamental adotar medidas preventivas em todos os casos.

Pós-operatório da Cirurgia de Ponte de Safena

A evolução pós-operatória da cirurgia de ponte de safena (revascularização do miocárdio) costuma ser muito tranquila. Em geral, os pacientes voltam às suas atividades normais em curto período de tempo. A cirurgia cardíaca devolve ao paciente uma qualidade de vida normal. Eventuais restrições podem ser determinadas por uma condição prévia de saúde. Muito raramente, podem também derivar de alguma complicação advinda do ato operatório. A maioria dos pacientes retoma atividades normais, mesmo pacientes de idade mais avançada.

Atualmente, vem se operando uma quantidade progressivamente maior de pacientes idosos, na faixa dos 80 anos. A cirurgia cardíaca tem apresentado excelentes resultados nas faixas etárias mais avançadas. Evidentemente, as indicações passam a ser mais restritas nos mais idosos. Porém, idosos que preenchem os critérios de indicação, apresentam excelentes resultados.

Sobre o autor:

Este artigo foi escrito com base em entrevista com o Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM 4370 / RQE 5893), cirurgião cardiovascular em Florianópolis/SC. Dr. Sergio é Chefe do Serviço de Cirurgia Cardíaca do Hospital SOS Cárdio e da Equipe Seu Cardio. Formado em Medicina pela Universidade Federal do Estado de Santa Catarina – UFSC e com residência na Beneficência Portuguesa, na equipe do Dr. Sergio Oliveira, aperfeiçoou-se em plastia de válvulas na Cleveland Clinic, acompanhando Dr. Delos Cosgrove, e em cirurgia de cardiopatia congênita complexa, no Children Hospital – Harvard Medical School, acompanhando Dr. Aldo Castañeda. Foi também cirurgião cardiovascular do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis/SC, por 10 anos. Realiza diariamente procedimentos como: cirurgias de revascularização do miocárdio, cirurgia de válvulas e da aorta, além de implantes de marcapassos cardíacos. Com grande experiência em idosos, vem abordando o tema em congressos nacionais e internacionais.

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Cicatrização da Ferida Operatória após Cirurgia Cardíaca

Cicatrização da Ferida Operatória após Cirurgia Cardíaca

Muitos pacientes ficam preocupados diante da vermelhidão nos pontos da cirurgia cardíaca. Essa condição pode acontecer no processo de cicatrização da ferida operatória. Já falamos aqui no blog da equipe Seu Cardio sobre a importância da correta higienização da ferida. Agora, vamos explicar como é o processo de cicatrização e sinais que podem indicar atenção.

Processo de Cicatrização da Ferida Operatória

As incisões realizadas na sua cirurgia passarão por diversos estágios de cicatrização. Depois da leve dor inicial no local, a ferida poderá formigar, coçar ou ficar dormente, na medida em que a cicatrização progredir. É comum sentir dormência no lado do tórax, sobre a região mamária, se você foi submetido a uma cirurgia de revascularização do miocárdio com utilização das artérias mamárias. Esta dormência tem durabilidade e intensidade variáveis, mas costuma desaparecer logo.

As lesões operatórias devem ser mantidas sem curativo. A fim de contribuir para a cicatrização, a higiene da pele e das incisões cirúrgicas deverá ser realizada diariamente, com água e sabonete antisséptico. Não retire qualquer crosta, porque ela protege os novos e delicados tecidos em crescimento.

Em linhas gerais, o processo de cicatrização da ferida operatória pode ser divido em três fases. São elas:

1. Fase inflamatória:

É caracterizada pela presença de secreção. Esta fase pode durar de 1 a 4 dias, a depender da extensão da área a ser cicatrizada e da natureza da lesão. Neste período, a ferida pode apresentar edema (inchaço), dor e vermelhidão.

2. Fase proliferativa – regenerativa:

Esta etapa da cicatrização da ferida operatória pode durar entre 5 e 20 dias. Caracteriza-se pela proliferação de fibroblastos, sob a ação de citocinas, dando origem a um processo chamado de fibroplasia. Ao mesmo tempo, ocorre a proliferação de células endoteliais, com formação de rica vascularização (angiogênese), infiltração de macrófagos, formando o tecido de granulação.

3. Fase de reparo:

É a fase de maturação, iniciando-se no 21o dia e podendo durar meses. Nesta fase, há uma maturação das fibras colágenas e uma remodelação do tecido cicatricial formado na fase anterior. Além disso, há um aumento da resistência do tecido, diminuindo-se a espessura da cicatriz e reduzindo-se a sua deformidade. Durante este período, a cicatriz, progressivamente, altera a sua tonalidade, passando do vermelho escuro à rosa claro.

Fatores que interferem na cicatrização

O processo de cicatrização da ferida operatória pode variar bastante de uma pessoa para outra. Em geral, essa variação decorre de fatores locais, referentes às características da própria ferida, e sistêmicos, referentes às condições de saúde de cada um. Veja abaixo:

Fatores relacionados diretamente à ferida:

  • Características: dimensão e profundidade da lesão; presença de secreção, hematomas, edemas e corpos estranhos.
  • Cuidados adotados: higienização da ferida, material e curativos utilizados.
  • Isquemia tecidual: falta de oxigenação local, que dificulta a chegada de células inflamatórias à zona lesada, diminuindo-se a proliferação dos fibroblastos e a síntese de colágeno.
  • Infecção local: quando o processo de cicatrização é retardado por conta de contaminação bacteriana.

Fatores sistêmicos:

  • Idade: a idade avançada diminui a resposta inflamatória.
  • Estado nutricional: interfere em todas as fases da cicatrização, resultando na sua demora e podendo levar a deiscência de suturas.
  • Doenças crônicas: doenças metabólicas sistêmicas, diabetes mellitus.
  • Tratamento tópico inadequado.

Como acelerar a cicatrização da ferida operatória?

Em linhas gerais, algumas ações podem contribuir para acelerar o processo de cicatrização da ferida operatória. Entre eles, podemos citar: realizar a correta higienização da ferida, manter o organismo bem hidratado e uma dieta equilibrada, com adequada quantidade de proteínas, gorduras e carboidratos. 

Por isso, recomenda-se que os pacientes que passam por uma cirurgia cardíaca sejam acompanhados por uma equipe multidisciplinar. O cuidado integrado e global auxilia na orientação e acelera a recuperação dos pacientes.

Quando o paciente apresenta secreção purulenta, febre ou outros sinais diferentes do que os apresentados acima, é importante consultar o cirurgião para orientação médica.

 

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Pré e Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca: orientações aos pacientes

Pré e Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca: orientações aos pacientes

Em nossa vivência, acompanhamos a ansiedade e a angústia que a maioria dos pacientes sente diante da indicação de um cirurgia cardíaca. Não apenas os pacientes, mas também seus familiares. Pensando nisso, elaboramos uma cartilha de orientações sobre pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca. Nela, compilamos todas as informações necessárias para enfrentar uma cirurgia cardíaca com maior tranquilidade e segurança.

Cartilha Pré e Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca

Esse material fornece informações sobre todas as etapas relacionadas à cirurgia cardíaca, em formato pronto para impressão. Você encontrará orientações sobre:

  • O que é importante fazer antes da Internação hospitalar
  • O que irá acontecer no dia da Internação 
  • Como será o dia da cirurgia cardíaca
  • O que acontece no período pós-operatório na UTI
  • O que esperar na volta para o quarto do hospital
  • Orientações e cuidados no retorno para casa, após a alta hospitalar
  • Respostas às perguntas frequentes de pacientes e familiares
  • Espaço para anotações de dúvidas e registro das consultas

Para fazer o download gratuito da cartilha de orientações para pacientes e familiares, clique no botão abaixo:

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Essa cartilha de orientações sobre o pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca contempla informações que independem do tipo de cirurgia cardíaca a ser realizada: revascularização do miocárdio, cirurgias de implante ou troca de válvula, cirurgias da aorta e cirurgias de correção de cardiopatias congênitas. Caso haja alguma peculiaridade relativa à uma técnica específica, estará ressaltada no texto.

A cirurgia cardíaca é sempre um momento delicado e que mexe com as nossas emoções. Isso é normal e procuramos oferecer suporte aos nossos pacientes e à comunidade em geral, para que encontre respostas às suas ansiedades e dúvidas. Afinal, estamos lidando com o coração, um órgão diretamente relacionado à nossa vida e nossos sentimentos.

Esperamos que você aproveite o material. Ele foi elaborado pelos cirurgiões cardiovasculares da Equipe Seu Cardio. Caso ainda tenha alguma dúvida, não hesite em entrar em contato conosco! Teremos grande satisfação em ajudar você!

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*Conteúdo publicado em agosto/2016 e atualizado em fevereiro/2020.

Revascularização do Miocárdio: com ou sem circulação extracorpórea

Revascularização do Miocárdio: com ou sem circulação extracorpórea

Para entender sobre a realização de cirurgia cardíaca com ou sem circulação extracorpórea, é necessário explicar um pouco sobre como são realizadas as cirurgias de revascularização do miocárdio, popularmente conhecidas como cirurgia de ponte de safena

Revascularização do Miocárdio com Circulação Extracorpórea (CEC)

Como já explicado em outro post aqui no blog, as cirurgias de revascularização do miocárdio consistem na colocação de pontes (by-passes) para se tratar a insuficiência coronariana. Desde a sua criação, em 1967, até  os tempo de hoje, a maioria dos pacientes que passaram por esta cirurgia a fizeram com o coração parado e o suporte da circulação extracorpórea (CEC)

“Esta técnica não está diretamente associada ao aumento do risco cirúrgico. Sabe-se  que este procedimento é o mais estudado na história das cirurgias. Além disso, continua sendo realizado de maneira crescente em todo mundo, com resultados espetaculares. Há vastíssima literatura médica que comprova isto.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893), cirurgião cardiovascular chefe da equipe Seu Cardio, de Florianópolis/SC.

Como é a Circulação Extracorpórea

A circulação extracorpórea compreende um conjunto de aparelhos e técnicas que substituem a função de bomba do coração e respiratória dos pulmões durante o tempo principal da cirurgia. Dessa forma, a oxigenação do sangue, seu bombeamento e circulação são realizados pela máquina de circulação extracorpórea. Assim, estes órgãos podem permanecer parados para a realização das pontes. Durante o período em que fica parado, o coração é protegido com a infusão de uma solução que mantém sua viabilidade. 

Conforme explicado pela Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea, este recurso é operado pelo perfusionista, profissional formado e capacitado para tal.

“Na maioria dos casos, o coração volta a bater espontaneamente. Porém, em alguns casos há necessidade de uma cardioversão elétrica de baixa potência que faz o coração voltar a bater. Este procedimento, por si só, não agrega risco ao ato cirúrgico.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Revascularização do Miocárdio sem Circulação Extracorpórea

Há alguns anos, iniciou-se a realização da cirurgia de revascularização do miocárdio sem uso de circulação extracorpórea. Assim, muitos centros iniciaram a realizar a cirurgia com o coração batendo. Na época, defendia-se que seria possível melhorar ainda mais o resultado das cirurgias cardiovasculares.

Em teoria, os defensores desta mudança baseavam-se que se diminuiriam as possíveis complicações advindas do emprego da CEC. Haveria manutenção do mesmo resultado, relativo à qualidade das pontes e longevidade das mesmas, mesmo diante do aumento da dificuldade técnica em realizar a cirurgia com o coração batendo. 

Porém, verificou-se que determinados pacientes não suportavam a realização de todo o procedimento cirúrgico sem o emprego da circulação extracorpórea. Assim, que havia necessidade de se iniciar a circulação extracorpórea no decurso da cirurgia, a chamada conversão. Nesses pacientes, onde houve necessidade de conversão, foi observada uma incidência muito maior de complicações e maior mortalidade. 

Estudos com e sem Circulação Extracorpórea

Inúmeros estudos foram realizados procurando demonstrar a superioridade da cirurgia sem circulação extracorpórea sobre a técnica convencional. Porém, em resumo, hoje não há vantagem claramente demonstrada na literatura médica da realização rotineira da cirurgia sem circulação extracorpórea. 

“A mortalidade imediata não diminuiu e o número de complicações não obteve redução significativa no grupo sem CEC – circulação extracorpórea. O método convencional (com CEC e coração parado) mostra maior qualidade das pontes e longevidade das mesmas, a longo prazo. Assim, traduz-se em benefício aos pacientes. Vários estudos continuam em andamento, buscando ainda maior sustentabilidade destes benefícios a longo prazo.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Um outro aspecto que os estudos demonstram é a realização de um número menor de pontes nos pacientes submetidos à técnica sem CEC. Isso indica que as revascularizações deste grupo de pacientes foram mais incompletas do que às comparadas ao grupo operado com circulação extracorpórea. Há inúmeros trabalhos na literatura médica corroborando com o fato de que as revascularizações completas representam maior sobrevida a longo prazo. 

“Hoje, através dos estudos realizados e já publicados, infere-se que existe um grupo de pacientes que se beneficia da cirurgia sem CEC. São pacientes com severa doença ateromatosa da aorta, os portadores de insuficiência respiratória e renal crônicas graves e os pacientes com vasculopatia cerebral.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM-SC 4370/RQE 5893).

Recomenda-se que este assunto seja discutido com o cirurgião cardiovascular, que pode orientar qual a melhor técnica a ser utilizada em cada caso. É válido lembrar que estas técnicas estão relacionadas à cirurgia de revascularização do miocárdio, não se aplicando esta discussão às cirurgias de válvulas cardíacas, onde sempre se opera com circulação extracorpórea.

*Artigo publicado em setembro/2016 e atualizado em fevereiro/2020.

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Cirurgia Cardíaca: válvula mecânica e anticoagulação

Cirurgia Cardíaca: válvula mecânica e anticoagulação

As doenças valvares cardíacas afetam cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que 20% das cirurgias cardíacas são para implante de prótese valvar. Os portadores de próteses valvares mecânicas precisam ter disciplina quanto à medicação anticoagulante. Afinal, a prótese mecânica possui maior risco de formação de trombos (coágulos) do que a biológica. Neste post, explicaremos mais sobre a relação entre válvula mecânica e anticoagulação.

Risco de Formação de Trombos

A prótese valvar mecânica é feita de metal e não possui nenhum componente eletrônico, tal como pilha, transistor etc. Na sua grande maioria, são apenas dois discos de metal que abrem e fecham, por diferença de pressão.

Em contato com o sangue, o metal faz com que haja uma tendência de formação de coágulos em volta da prótese. Assim, se um coágulo se formar no meio dos discos, pode causar o mau funcionamento da prótese e comprometer o seu desempenho. Nesse caso, pode haver necessidade de uma outra cirurgia, para troca da prótese mecânica. Outro problema relacionado à formação do coágulo é o seu desprendimento da prótese. Caso ele se desprenda, a circulação sanguínea pode levá-lo até o cérebro, ocasionando um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico – AVC.

A formação de coágulo é um risco relacionado à prótese mecânica. Por isso, sempre temos a associação entre válvula mecânica e anticoagulação.

Estima-se que a formação de trombos ocasionada pelas próteses mecânicas atinja de 0,1 a 5,7% pacientes por ano. No entanto, por muitas vezes ser assintomática, acredita-se que a incidência seja ainda maior, de até 9,4%.

Medicação Anticoagulante

As complicações ocasionadas pela formação de coágulos junto à prótese mecânica devem ser evitadas com o uso correto de medicação anticoagulante. Essa medicação é imprescindível para os portadores de prótese valvar mecânica.

“A medicação anticoagulante é de baixo custo, fácil de ser encontrada e simples de ser tomada, pois trata-se de uma dose única diária. Na maioria dos casos, o grande problema com o uso de anticoagulante está relacionado à disciplina do paciente e sua adesão ao tratamento. No entanto, é fundamental que o portador de uma prótese valvar mecânica não se esqueça de usar a medicação diariamente.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM 4370 RQE 5893), cirurgião cardiovascular.

Controle Adequado da Anticoagulação

Outro ponto importante e que exige disciplina do portador de uma prótese mecânica é o controle periódico da anticoagulação. Esse controle é realizado através de um exame de sangue e com o acompanhamento do Cardiologista Clínico, que define a periodicidade.

O exame de controle de anticoagulação (comumente chamado Controle de TAP) é simples, mas fundamental. O resultado é de fácil leitura e permite a interpretação pelo próprio paciente, que tem condições de saber se está ou não com o nível adequado de anticoagulação sanguínea. No entanto, esta facilidade não exclui a necessidade de acompanhamento médico periódico e é também um ponto de alerta.

“Muitas vezes, com o controle de anticoagulação apresentando resultados dentro da faixa adequada, o paciente deixa de fazer o controle periódico. Isso pode trazer sérias consequências. Entre elas, elevar os riscos decorrentes da formação de coágulos junto à prótese valvar mecânica. Assim, é totalmente contraindicado.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM 4370 RQE 5893), cirurgião cardiovascular.

Outro ponto extremamente importante é o acompanhamento do nível adequado de anticoagulação com o cardiologista clínico. Cada paciente possui peculiaridades clínicas que demandam a correta avaliação médica. Um exemplo é a interação entre medicamentos que podem interferir na ação dos anticoagulantes. Por isso, o portador de uma prótese mecânica não deve tomar qualquer remédio sem antes perguntar ao seu cardiologista clínico.

Anticoagulação e Hemorragia

Apesar de essencial para o bom funcionamento da válvula mecânica e da saúde do seu portador, o anticoagulante tem um contraponto: torna o sangue pouco coagulável. Dessa forma, pode ser um problema em algumas situações.

No caso de grandes cortes, acidentes ou em cirurgias de urgência, a possibilidade de um sangramento maior é grande. E isso pode aumentar o risco pela presença do anticoagulante. Por isso, quem usa anticoagulante deve evitar situações que envolvam riscos de acidentes graves. Esportes radicais e até mesmo andar de moto estão nesse rol. O mesmo vale para esportes de alto impacto, como futebol ou vôlei. Um trauma pode levar a uma hemorragia dentro da articulação, prejudicando-a para o resto da vida.

Nas atividades domésticas, pequenos acidentes como cortar o dedo com uma faca de cozinha, por exemplo, não representarão risco à saúde. O corte irá demorar mais para parar de sangrar, pode vir a precisar de compressão e, em alguns casos, de cauterização, mas sem impacto à saúde.

Uma questão frequente entre pacientes do sexo feminino é sobre a atuação do anticoagulante na menstruação. A anticoagulação não costuma interferir sobre o ciclo menstrual. Ou seja, não causa aumento do fluxo ou qualquer outro impacto.

Caso tenha alguma dúvida sobre a relação entre válvula mecânica e anticoagulação, converse com seu cardiologista clínico. É importante que você saiba os seus níveis ideais de anticoagulação sanguínea e também como – e quando – acompanhá-los.

 

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Marcapasso e Exercícios Físicos: respostas às principais dúvidas

Marcapasso e Exercícios Físicos: respostas às principais dúvidas

A atividade física é um elemento importante tanto na prevenção quanto na reabilitação cardíaca. Porém, muitas pessoas ainda ficam inseguras em praticá-la após o implante de marcapasso cardíaco. Os pacientes costumam ter dúvidas sobre a capacidade do dispositivo, de manter uma frequência adequada, bem como sobre a sua integridade e durabilidade. Neste texto, iremos esclarecer as principais dúvidas dos pacientes sobre a relação entre marcapasso e exercícios físicos. Vamos a elas!

Quem tem marcapasso pode praticar atividades físicas?

Na grande maioria dos casos, a prática de atividades físicas pode ser iniciada ou retomada logo após o período de recuperação do implante de marcapasso. No entanto, cada caso deve ser analisado pelo médico responsável. Seguir as orientações médicas é fundamental.

Qual médico devo consultar?

Para iniciar uma rotina de exercícios físicos com segurança após o implante de marcapasso, você deve consultar seu Cardiologista Clínico. Ele avaliará o seu estado de saúde como um todo e irá lhe orientar quanto à intensidade e a frequência de exercícios indicadas para você. Esse é o primeiro passo para uma boa relação entre marcapasso e exercícios físicos.

Quais os exercícios iniciais mais indicados para portadores de marcapasso?

O objetivo inicial da atividade física, para maioria dos pacientes, é permitir a realização das tarefas do dia a dia, aumentando a força muscular, a resistência aeróbica e mantendo a saúde e mobilidade das articulações.

Portadores de marcapasso que não praticam atividade física regularmente, quando liberados pelo seu Cardiologista, devem iniciar com exercícios de intensidade baixa à moderada. Assim, é possível avaliar o seu condicionamento físico e a sua progressão, na medida em que o corpo se adapta às novas exigências.

Marcapasso e Exercícios: o que eu devo evitar?

Algumas atividades físicas devem ser evitadas por usuários de marcapasso, especialmente nas primeiras 6 semanas após o procedimento. Nesse período, devem ser evitadas atividades que exijam esforço muscular moderado ou severo no braço contíguo ao local do implante do marcapasso.

Depois desse período, as limitações são poucas. Aplicam-se às atividades físicas que exigem grande movimentação dos ombros e àquelas com possível impacto na região do implante. Um impacto forte sobre o gerador do marcapasso pode alterar a integridade do sistema e o seu funcionamento.

São exemplos de atividades e esportes devem ser evitados por portadores de marcapassos:

  • golfe
  • esportes de raquete (como o tênis)
  • fisiculturismo
  • natação
  • artes marciais
  • boxe

Neste outro post, abordamos mais as atividades que devem ser evitadas por portadores de marcapassos e outros dispositivos cardíacos.

O marcapasso pode trazer benefícios para o meu desempenho esportivo?

Os pacientes que tomam todos os cuidados citados acima podem desfrutar do uso de marcapasso e exercícios físicos. E, dependendo da doença cardíaca, ainda podem observar uma melhora no seu desempenho cardiovascular e esportivo. Por exemplo:

  • Paciente com Bloqueio Atrioventricular Total (BAVT):

Nesses casos, os pacientes costumam apresentar boa frequência atrial e resposta cronotrópica (aumento da frequência cardíaca com a intensidade da atividade). Contudo, devido ao bloqueio, o ventrículo se mantém em frequência fixa baixa. Nestes casos, o marcapasso conduz a frequência atrial para o ventrículo. Desta forma o paciente pode apresentar a mesma resposta de uma pessoa sem a doença.

  • Paciente com Doença do Nó Sinusal:

Nestes casos, os pacientes podem apresentar frequência atrial muito baixa (Doença do Nó Sinusal). O implante, por sua vez, possui um sensor sensível à atividade física do paciente. Ao perceber o sinal de esforço, há um aumento da frequência cardíaca, que pode levar à melhora do desempenho cardiovascular.

Não tenha medo. Converse com o seu médico sobre a retomada das atividades físicas e esportivas após o implante de marcapasso. Assim, você pode se beneficiar da boa relação entre o uso de marcapasso e exercícios físicos.

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