Até pouco tempo atrás, a cirurgia cardíaca em jovens era tratada como exceção. O tratamento era visto como exclusivo para pessoas com idade mais avançada. A doença coronariana – aterosclerose e infarto, por exemplo – raramente preocupava pacientes com menos de 40 anos.
De acordo com o senso comum, pessoas abaixo dos 45 anos corriam menos riscos. Em geral, realizavam cirurgias cardíacas apenas em casos de problemas congênitos e nas valvas. Este cenário contudo, está mudando. Mesmo na juventude, as doenças podem ser muito graves. Por isso, a cirurgia cardíaca em jovens pode vir a ser o melhor tratamento em alguns casos.
“Um bom exemplo disso é a doença aterosclerótica. Em geral, quanto mais jovem o paciente apresentar obstrução nas artérias, mais agressiva tende a ser a doença, e mais ele precisa se cuidar.” (Sergio Lima de Almeida – CRM/SC 4370 / RQE 5893).
Abaixo, nós vamos exemplificar três situações de mudança no perfil da cirurgia cardíaca. Quem fuma, é diabético ou hipertenso, está acima do peso, é sedentário, alimenta-se mal e apresenta histórico familiar de doenças do coração, deve ficar atento.
Cirurgia Cardíaca em Crianças
Antigamente, caso uma criança nascesse com algum problema no coração, era possível fazer apenas algumas cirurgias paliativas para contornar o problema. Era necessário esperar a criança crescer para fazer a cirurgia definitiva.
Hoje, com o aperfeiçoamento da Medicina, das técnicas cirúrgicas e do suporte (como UTI), é possível corrigir cardiopatias congênitas muito mais cedo. Atualmente, nos primeiros dias de vida, muitas cardiopatias congênitas podem ser tratadas. Isso nos leva a outra questão.
Muitas vezes, para corrigir um problema do coração, é necessário implantar-se tubos e colocar-se enxertos. Porém, com o desenvolvimento da criança, estes implantes precisam ser readequados, para acompanhar o crescimento do coração do paciente. Dessa forma, há sim a possibilidade de novos procedimentos cirúrgicos na adolescência, por exemplo.
Cirurgia Valvar em Jovens
A doença reumática – também conhecida como Febre Reumática – é uma sequela de infecção na garganta que não foi devidamente tratada. O problema é provocado pela bactéria Streptococcus. Pode afetar o coração e está diretamente relacionada aos casos de amigdalites em crianças.
Por muitos anos, a doença reumática foi a maior causa de cirurgia cardíaca em jovens. Muitas pessoas entre 20 e 30 anos precisaram ser tratadas por conta de problemas valvares, decorrentes da doença reumática. Porém, com a melhoria das condições de saúde pública – e com o controle das infecções repetidas de amigdalite – houve uma redução significativa no número de casos. Consequentemente, o número de cirurgias cardíacas em jovens também reduziu.
Hoje, o cenário que presenciamos é diferente das décadas passadas. A qualidade de vida aumentou, a população está vivendo mais e a doença valvar, seja ela por insuficiência mitral degenerativa ou por estenose aórtica degenerativa, passou a ser mais identificada e tratada em idosos. Além disso, com a evolução da cirurgia cardíaca, é possível realizar os procedimentos em pessoas acima de 80 anos com segurança.
Revascularização do Miocárdio em Jovens
Por um lado, a vida moderna trouxe benefícios em saneamento e saúde pública. Por outro, o ritmo acelerado e os hábitos de vida pouco saudáveis das novas gerações estão aumentando a incidência de doença ateromatosa. Dessa forma, o número de cirurgias cardíacas em jovens, por conta da doença coronariana, é cada vez maior.
A doença ateromatosa acomete as artérias do organismo, podendo levar à sua obstrução progressiva. O resultado disso costuma ser prejudicial à circulação sanguínea e pode causar problemas, como infarto e AVC.
Estas lesões, quando atingem as coronárias, podem demandar tratamento emergencial (no caso do infarto) ou tratamento eletivo. Em ambos os casos, o objetivo é proteger as áreas irrigadas pelas artérias obstruídas. Ainda hoje, esta é a maior indicação para a cirurgia de revascularização do miocárdio, popularmente conhecida como cirurgia de ponte de safena.
“O risco da cirurgia cardíaca não está diretamente relacionado à idade do paciente, mas ao comprometimento prévio de sua força de contração. Quanto maiores os problemas de contratilidade do miocárdio, maiores os riscos, independente da idade.” (Sergio Lima de Almeida – CRM/SC 4370 / RQE 5893)
Outro ponto determinante para o risco cardíaco são as doenças associadas, por lesarem outros órgãos vitais. Elas podem contribuir de forma indireta para o aumento de risco na cirurgia cardíaca, mesmo em jovens. Um exemplo disso é o Diabetes Tipo 1, pois estes pacientes costumam apresentar problemas em outros órgãos, como os rins.
A cirurgia cardíaca em jovens vem aumentando gradativamente. Como vimos, em sua maioria, em decorrência da doença coronariana, que acaba demandando a intervenção cirúrgica para revascularização do miocárdio. Por isso, o controle dos fatores de risco e a adoção de hábitos saudáveis são essenciais. Uma iniciativa que serve para todos, desde jovens até idosos.