Sempre que o sangue humano entra em contato com materiais ou superfícies diferentes da parede interna dos vasos sanguíneos, ele tende a coagular. O tecido sanguíneo, que antes era líquido, passa a assumir uma consistência gelatinosa. O que pode provocar obstruções graves nos vasos, levando a quadros como as Embolias e os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC).

“Isso pode acontecer, por exemplo, em pacientes com problemas nas válvulas cardíacas. As insuficiências, estenoses e endocardites podem fazer com que o implante de uma prótese mecânica seja necessário. Essas, por sua vez, tendem a estimular a produção de coágulos. E é por isso que o uso de medicação anticoagulante é obrigatório nessas situações” – Dr. Guilherme Genovez, Médico Hematologista (CRM 3798 / RQE 8599).

Existem também os casos de pessoas com tendência genética para a formação de trombos e que adquirem essa condição ao longo da vida. Muitas vezes, o medicamento anticoagulante é prescrito como forma de tratamento e/ou prevenção.

Abaixo, o Dr. Guilherme Genovez (CRM 3798 / RQE 8599), Médico Hematologista e Diretor do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina – HEMOSC – explica como são feitos e qual a importância dos exames para o controle da coagulação sanguínea em pacientes que fazem uso de medicação anticoagulante.

Prescrição

Existe hoje uma grande variedade de medicamentos anticoagulantes no mercado. Como principais, podemos citar as Heparinas, os novos anticoagulantes DOACs (Dabigatrana, Rivaroxabana, etc) e os cumarínicos (anti-vitamina k), como a Varfarina.

Cada medicamento possui uma recomendação própria. A prescrição deles deve ser feita apenas pelo médico responsável, de acordo com o problema de saúde do paciente.

“De acordo com a avaliação médica, os DOACs podem ser prescritos em situações como as Embolias Pulmonares, por exemplo. Uma das vantagens é que eles dispensam a realização de exames de coagulação sanguínea” – Dr. Guilherme Genovez, Médico Hematologista (CRM 3798 / RQE 8599).

No entanto, os DOACs não podem ser utilizados por pacientes com prótese valvar. Nestes casos, os medicamentos cumarínicos como a Varfarina são obrigatórios e exigem o controle periódico da coagulação sanguínea, chamado de Tempo de Ativação de Protrombina – TAP. Nele, os médicos irão avaliar o RNI – Relação Normatizada Internacional – do paciente.

RNI – Relação Normatizada Internacional

O primeiro ponto de devemos observar quanto ao uso de medicação anticoagulante como a Varfarina é que todo paciente possui características próprias, que precisam ser avaliadas e respeitadas. Uma dose benéfica para uma pessoa pode gerar grandes problemas para outra.

“Alguns pacientes devem ser submetidos a apenas 2,5mg de Varfarina a cada dois dias. Outros, necessitam de 15mg. A dose varia de paciente para paciente. E o índice que determina isso é o RNI – a Relação Normatizada Internacional” – Dr. Guilherme Genovez, Médico Hematologista (CRM 3798 / RQE 8599).

Além disso, as diferentes doenças exigem cuidados diferenciados. Assim, encontrar a dose ideal da medicação anticoagulante nem sempre é uma tarefa fácil.

“Doses baixas de medicação anticoagulante podem expor os pacientes ao risco de formação de coágulos. Já as doses muito elevadas aumentam os riscos de problemas como as hemorragias. Por isso o RNI é tão importante” – Dr. Guilherme Genovez, Médico Hematologista (CRM 3798 / RQE 8599).

Como é avaliado o RNI?

Para identificar qual a dose adequada de medicação anticoagulante para cada pessoa, são coletadas pequenas amostras de sangue. Nele, são adicionadas substâncias de origem animal ou humana que induzem a coagulação sanguínea.

Assim, os profissionais podem avaliar quanto tempo a mais o sangue do paciente leva para se coagular de acordo com a dose estabelecida do anticoagulante – e verificar se o paciente está ou não dentro da faixa terapêutica e de segurança.

“O grande problema tempos atrás é que cada substância reativa induzia a resultados específicos. O RNI é uma forma de padronizar esses resultados. Faz com que, independente da substância utilizada pelo laboratório, os resultados sejam padronizados e seguros” – Dr. Guilherme Genovez. Médico Hematologista (CRM 3798 / RQE 8599).

De forma geral, as faixas terapêuticas de RNI dos pacientes variam com o modelo da válvula utilizada:

  • Válvulas modernas: RNI 2 a 3.
  • Válvulas antigas: RNI 2,5 a 3,5.
  • Válvulas muito antigas (década de 60): RNI 3 a 4, dependendo da tecnologia usada.

Até mesmo o posicionamento da prótese pode interferir no RNI ideal. Geralmente, as próteses na posição mitral exigem um índice de RNI levemente maior do que as próteses na posição aórtica.

Periodicidade

Os pacientes com próteses valvares mecânicas devem realizar os exames para controle da coagulação por toda vida. Já os pacientes com próteses biológicas apenas nos três primeiros meses.

“Nos primeiros três meses, tanto os pacientes com próteses biológicas quanto mecânicas devem fazer um controle semanal da coagulação sanguínea” – Dr. Guilherme Genovez, Médico Hematologista (CRM 3798 / RQE 8599).

  • No período inicial, uma vez que o indivíduo apresente resultados estáveis em 3 exames consecutivos, a dose do medicamento anticoagulante é definida.
  • Após os 3 primeiros meses, o exame de coagulação passa a ser trimestral (dependendo da orientação do médico responsável).

Sobre o autor: Dr. Guilherme Genovez (CRM 3798 / RQE 8599), é médico Hematologista e Diretor do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina – HEMOSC. Formado em medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com especialização em hematologia e hemoterapia, possui extenso currículo com contribuições à saúde pública catarinense, atuando por 13 anos como médico intensivista do Hospital Regional de São José. Em 2008, esteve à frente da Coordenadoria da Política Nacional de Sangue e Hemoderivados (CGSH/DAE/SAS) do Ministério da Saúde, em Brasília, onde ficou até 2014.

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