O coração não está completamente solto em nosso tórax. Para manter a sua posição ideal e bater de forma eficiente, ele é revestido por uma membrana chamada pericárdio. Ela envolve e confere estabilidade ao coração e às raízes dos grandes vasos sanguíneos.
Outra função importante do pericárdio é produzir uma pequena quantidade de líquido que fica entre o coração e a própria membrana. Esse líquido tem como objetivo reduzir o atrito das batidas do coração. No entanto, algumas doenças podem fazer com que o pericárdio aumente a produção deste líquido de forma exagerada. O excesso de líquido no local comprime o coração e compromete todo o sistema. Para essa produção excessiva, damos o nome de Derrame Pericárdico. E, uma das suas principais consequências, é o Tamponamento Cardíaco, uma emergência médica.
Como acontece o Derrame de Pericárdio
Uma das principais causas do Derrame Pericárdico são as infecções por vírus na própria membrana que envolve o coração, as chamadas pericardites. Doenças como a tuberculose, colagenose e, até mesmo, metástases tumorais também costumam desencadear a produção excessiva de líquido pericárdico e provocar o problema.
É importante ressaltar que o pericárdio é constituído por camadas com baixa capacidade de distensão. Assim, um maior volume de líquido pericárdico pode aumentar significativamente a pressão sobre o coração. Dessa forma, acaba prejudicando o seu funcionamento e podendo levar ao tamponamento cardíaco. Em alguns casos, o coração pode chegar a parar de bater e o risco de morte é real.
Velocidade do Derrame
Tão importante quanto o volume de líquido em excesso, é a velocidade com que ele é produzido. Isso pode ser decisivo para o aparecimento de sintomas e para as consequências sobre o sistema cardiovascular.
“Geralmente, a rápida produção de líquido em excesso, mesmo em pouco volume, não permite que a membrana se adapte da forma necessária. Isso aumenta repentinamente a sua pressão interna e pode ter consequências agudas, como o tamponamento cardíaco. Quando o derrame acontece em maior volume, mas lentamente, pode haver um grande acúmulo de líquido sem tamponamento. Isso acontece devido ao fato de haver uma adaptação e distensão gradual do pericárdio. Dessa forma, permite acomodar um maior volume de líquido sem compressão excessiva sobre o coração.” – Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular (CRM 4370 / RQE 5893).
Sintomas do Derrame Pericárdico
O derrame pericárdico pode ser leve, moderado ou de grande porte. Porém, os sintomas estão mais relacionados à causa do que à extensão.
Em casos moderados, relacionados a pericardites, o derrame pericárdico pode provocar desconforto no peito. Em situações mais graves, a dor no peito pode ter características similares ao infarto.
“Na cirurgia cardíaca, o derrame pericárdico pode acontecer no pós-operatório, por conta do acúmulo de sangue em volta do coração. Para evitar isso, os pacientes saem da sala de cirurgia com um pequeno dreno, que previne o acúmulo de líquidos.” Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular (CRM 4370 / RQE 5893).
Tamponamento Cardíaco
O tamponamento cardíaco é uma emergência médica e pode levar à morte rapidamente.
“A pressão do líquido proveniente do derrame pericárdico pode fazer o coração parar de bater. Nesses casos, os pacientes costumam entrar em choque, apresentam hipotensão e desconforto geral significativo.” Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular (CRM 4370 / RQE 5893).
Diagnóstico e Tratamento
O ecocardiograma é o melhor exame para realização do diagnóstico do derrame pericárdico. Há vezes em que a doença é percebida por acaso, durante exames de rotina ou com outros objetivos.
Nos casos em que o derrame pericárdico não é significativo e não prejudica a função do coração, o paciente passa a ser acompanhado de perto pelo Cardiologista Clínico. Esse acompanhamento é importante e costuma contemplar a realização frequente de exames de ecocardiograma.
No entanto, nos casos mais graves, em que o derrame mostra-se crescente, a solução do problema está diretamente relacionada à cura da doença de origem (pericardite, tuberculose, colagenose e tumores).
Muitas vezes, há necessidade de se realizar a biópsia e a drenagem do líquido para elucidação diagnóstica em laboratório. A análise do tecido é feita por um exame anátomo-patológico.
“O tamponamento cardíaco exige intervenção direta e imediata. Ela implica na descompressão do coração por meio da retirada do líquido em excesso. Isso pode ser feito de duas formas: com uma punção para drenagem do líquido ou com uma pequena incisão no terço inferior do tórax, com a colocação de um dreno. Utiliza-se esta mesma via de acesso para realização da biópsia e da drenagem, em casos que se intervém para diagnóstico.” – Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular (CRM 4370 / RQE 5893).
A descompressão tende a reverter o tamponamento cardíaco em questão de segundos. Porém, para que ele não venha a se repetir, é necessário descobrir os motivos que levaram ao derrame pericárdico e tratá-los.
Cuide da saúde do seu coração. Em caso de sintomas, busque assistência médica.