por Equipe Seu Cardio | Blog, Fatores de Risco e Prevenção, Fatos e Mitos
A ocorrência de morte súbita é uma realidade no esporte. No entanto, não é a prática de exercícios físicos que leva os atletas ao óbito, mas sim a ausência de exames preliminares, que poderiam diagnosticar e prevenir doenças genéticas graves. São elas que tendem a provocar as arritmias cardíacas e a causar a morte súbita – especialmente entre os mais jovens.
Abaixo, o Dr. André Pacheco Silva (CRM/SC 15555, RQE 13140), Médico Cardiologista e Arritmologista Clínico do Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis/SC, fala da relação do exercício físico com as arritmias cardíacas. Na entrevista, você vai entender como esses problemas acontecem e o que podemos fazer para nos proteger.
Quais os benefícios da atividade física?
Dr. André: O exercício físico já está consagrado na medicina. Ele promove benefícios enormes não só para a saúde do coração, mas para o corpo todo. Hoje, sabemos que o exercício físico auxilia na prevenção de doenças graves, como a demência e até alguns tipos de câncer.
No geral, quanto maior o nível de atividade física, maiores os benefícios para a saúde. No entanto, você não precisa ser atleta. A prática de exercícios físicos, em qualquer nível, ajuda a prevenir infartos do coração e acidentes vasculares cerebrais (AVC). A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, preconiza que com 150 minutos de por semana, já é possível ter benefícios consideráveis.
Qual tipo de exercício é o mais indicado?
Dr. André: Tanto as atividades aeróbias, como correr e pedalar, ou de força, como a musculação, trazem benefícios para o organismo. No geral, exercícios aeróbicos estão relacionados a um maior gasto de calorias e ganhos nos parâmetros cardiovasculares e metabólicos (perda de peso, controle do colesterol e da glicose no sangue). Os exercícios de força também possuem efeitos sobre a circulação sanguínea e sobre o metabolismo, mas destacam-se por preservar e fortalecer a integridade muscular e óssea.
É preciso fazer algum tipo de avaliação antes de praticar exercícios intensos?
Dr. André: Sim. Apesar de todos os benefícios, o exercício físico intenso pode ser bastante perigoso para as pessoas que apresentam determinados problemas cardíacos, como algumas arritmias cardíacas. É preciso lembrar que sempre que realizamos um exercício, o nosso corpo sofre um estresse. Esse estresse, em determinadas situações, pode descompensar algum problema silencioso, que o indivíduo – especialmente os mais jovens – podem não saber que têm. Muitos atletas já sofreram morte súbita dessa maneira, por não saberem que possuíam determinada doença.
Por isso, antes de praticar ou começar a treinar alguma atividade competitiva ou que leve o seu corpo ao limite, é importante consultar o médico cardiologista. A avaliação cardiológica completa é indicada.
Quais os problemas mais comuns que levam à morte súbita?
Dr. André: A morte súbita pode ser desencadeada pelo exercício físico durante a atividade em si ou em até 24 horas depois dela. Em pessoas com menos de 35 anos, a morte súbita costuma estar relacionada à Cardiomiopatia Hipertrófica, uma característica genética que faz com que o músculo cardíaco seja mais espesso (hipertrofiado) do que o normal.
Durante o exercício intenso, com a sobrecarga do coração, esse espessamento do músculo cardíaco pode provocar arritmias cardíacas malignas, como as taquicardias ventriculares e fibrilação ventricular. O risco de morte súbita é real.
A Cardiomiopatia Hipertrófica pode ser silenciosa e não apresentar sintoma algum. No entanto, ela é uma doença de fácil rastreio, que pode apresentar sinais claros no eletrocardiograma. Por isso, tão importante a avaliação cardiológica pré-atividade física.
Em pessoas com mais de 35 anos, a morte súbita está mais relacionada ao infarto do coração. Esse problema é provocado pela inflamação e obstrução das artérias coronárias, que levam sangue para o próprio músculo cardíaco. O infarto, quando não fatal, costuma deixar cicatrizes no coração, que também podem desencadear arritmias cardíacas graves a longo prazo.
Quais os outros problemas relacionados às arritmias cardíacas?
Dr. André: Outra causa de morte súbita relatada em atletas é uma doença chamada Displasia Arritmogênica do Ventrículo Direito. Essa é uma doença hereditária e muito prevalente entre a população de origem italiana.
De forma resumida, essa doença provoca uma substituição do músculo do coração normal por tecido de fibrose e gordura, predominantemente no ventrículo direito. O grande problema é que essas novas áreas, formadas por células mortas de fibrose e tecido gorduroso, possuem comportamento elétrico diferente das células antigas. A eletricidade que faz o coração bater passa por essas novas estruturas com velocidade e forma diferentes do normal. Durante o exercício físico, quando a atividade elétrica do coração é naturalmente intensa, esse fato pode desencadear arritmias cardíacas graves e morte súbita.
Outras doenças genéticas, como as Canalopatias Cardíacas ou alterações no posicionamento das artérias coronárias, também podem provocar morte súbita, especialmente durante o exercício físico.
O que o doutor aconselharia para quem deseja praticar exercícios físicos?
Dr. André: As arritmias cardíacas são muito diversas. Na maior parte das vezes, o exercício físico moderado é benéfico para os pacientes que possuem arritmias, como as extra-sístoles e a fibrilação atrial, ajudando a suprimi-las. No entanto, caso a arritmia seja provocada por algum problema estrutural do coração, por alguma outra doença, o problema pode ser mais grave e o exercício físico pode ser desaconselhado, por conta do risco de morte súbita.
Por isso, antes de fazer alguma atividade física intensa, é importante realizar a avaliação cardiológica. Assim, é possível identificar possíveis alterações e desfrutar de todos os benefícios do exercício físico com segurança, inclusive na reabilitação após uma cirurgia cardíaca.
Sobre o Autor: Dr. André Pacheco Silva (CRM/SC 15555, RQE 13140), formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Realizou a residência médica em Clínica Médica no hospital da mesma universidade. É especialista em Cardiologia e Arritmologia Clínica pelo Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (Incor-USP). É membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). É médico Cardiologista e Arritmologista Clínico do Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis/SC.
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A atividade sexual é muito importante e faz parte de uma vida plena, saudável e feliz. No entanto, muitos pacientes que precisam realizar a cirurgia cardíaca possuem medos e dúvidas a respeito. Não sabem como e quando podem praticar o sexo depois da cirurgia. A timidez, por vezes, impede que esse assunto seja tratado de forma natural e aberta com o médico responsável.
“O sexo depois da cirurgia é uma atividade física natural, que exige alguns cuidados específicos. A cicatriz no tórax, o condicionamento físico, as interações medicamentosas e os efeitos psicológicos da própria cirurgia devem ser discutidos com o médico responsável, para evitar maiores problemas.” – Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), Cardiologista.
Abaixo, o Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), Cardiologista do Hospital SOS Cárdio, responde às principais dúvidas dos pacientes sobre o sexo depois da cirurgia. Lembre-se: as informações dadas neste texto não substituem as orientações do seu médico!
Quando posso voltar a fazer sexo depois da cirurgia?
Depende. Para que o paciente seja liberado para fazer sexo depois da cirurgia, é preciso analisar o condicionamento cardiovascular de cada pessoa.
Durante a cirurgia cardíaca, o coração do paciente costuma ser bastante manipulado pela equipe médica. Por isso, é preciso respeitar um prazo para que o músculo cardíaco se recupere e possa voltar a trabalhar com maior frequência sem problemas.
“Geralmente, os pacientes que conseguem subir pelo menos 2 lances de escadas sozinhos, sem dificuldades – ou que conseguem caminhar de forma rápida em uma superfície plana – já possuem condições de realizar a atividade sexual após a cirurgia cardíaca, mas de forma leve a moderada.” – Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), Cardiologista.
Em média, são necessárias de 6 a 8 semanas para que isso seja possível. No entanto, pacientes que realizam trabalho de reabilitação física tendem a ser liberados para o sexo depois da cirurgia um pouco antes.
Quais os cuidados que devo ter com a cicatriz?
A cirurgia cardíaca é feita através de uma incisão no osso esterno, na região central do tórax. No fim do procedimento, esse mesmo osso é rigorosamente costurado com fios metálicos, para que fique fixo e possa se unir rapidamente.
Apesar disso, por mais que as técnicas de sutura e materiais utilizados tenham evoluído, os pacientes precisam evitar movimentos bruscos, que podem fazer o osso se deslocar. Assim, mesmo que nas primeiras semanas você já consiga subir escadas e caminhar rapidamente, o sexo depois da cirurgia deve ser feito de forma leve / moderada.
“Para evitar problemas com a cicatriz, o ideal é que o paciente adote uma postura mais passiva no sexo depois da cirurgia. Ele deve evitar posições que exijam ficar de lado ou fazer movimentos bruscos e excessivos com os braços e com tórax. Usar o apoio de travesseiros pode deixar a atividade sexual mais confortável e segura após a cirurgia cardíaca.” – Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), Cardiologista.
É comum perder a vontade de fazer sexo depois da cirurgia?
Sim. As doenças cardíacas têm como um dos sintomas mais precoces a dificuldade de ereção. Além disso, é comum que a realização da cirurgia cardíaca faça os pacientes perderem o desejo sexual por um tempo – e que seus parceiros tenham medo de machucá-los durante a relação sexual.
“Os pacientes podem apresentar quadro depressivo logo após o procedimento – o que interfere diretamente na vontade de fazer sexo depois da cirurgia. Nos casos mais leves, o próprio médico cardiologista pode tratar o problema. Em situações de depressão severa, o paciente deverá ser encaminhado para o acompanhamento de um profissional especializado.” – Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), Cardiologista.
Posso usar medicamentos como Viagra e Cialis depois da cirurgia?
Todo medicamento deve ser utilizado com supervisão e orientação médica. No caso dos estimulantes sexuais como Viagra e Cialis, existe uma contraindicação absoluta do consumo dessas drogas junto a medicamentos a base de Nitratos, como os vasodilatadores Sustrate, Isordil e Monocordil.
Os estimulantes sexuais também devem ser utilizados com cautela junto a medicamentos para hipertrofia prostática benigna, já que pode ocorrer uma redução mais expressiva da pressão arterial.
“A combinação dessas drogas pode fazer a pressão arterial do paciente diminuir acentuadamente e provocar um evento cardíaco grave. Pacientes que desejam utilizar estimulantes sexuais depois da cirurgia devem se informar junto ao médico sobre as doses e intervalos necessários para uma relação segura.” – Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874), Cardiologista.
O que pode acontecer se eu não respeitar as recomendações médicas?
Caso o paciente pratique sexo depois da cirurgia de forma muito precoce ou inadequada, as consequências costumam variar entre:
- Desconfortos e dores fortes na cicatriz: Por conta da movimentação do osso esterno, que ainda está em processo de fixação.
- Manifestações de arritmias cardíacas: Por conta do excesso de estímulos sofridos pelo coração, que também não estará totalmente recuperado do procedimento cirúrgico.
- Pressão baixa e eventos cardíacos graves: A combinação de medicamentos estimulantes sexuais, vasodilatadores e para a hipertrofia prostática pode provocar uma queda severa na pressão arterial dos pacientes e provocar alterações cardíacas graves.
Lembre-se: converse com o seu médico sobre a retomada do sexo depois da cirurgia cardíaca. Tire todas as suas dúvidas sobre o assunto. Diálogo é fundamental e seu Cardiologista é a pessoa mais indicada a lhe orientar sobre a atividade sexual após a cirurgia cardiovascular.
*Dr. Jamil Cherem Schneider (CRM-SC 3151 / RQE 2874) é Cardiologista Clínico e Professor de Cardiologia da UNISUL. Com mais de 30 anos de experiência na especialidade, atua nas clínicas Hemocordis e Prevencordis e no Hospital SOS Cárdio, todos em Florianópolis/SC.
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Estresse como Fator de Risco para o Coração – Por Dr. Jamil Cherem Schneider – CRM/SC 3151 RQE 2874*
Estresse é sinônimo de desequilíbrio. Ele acontece quando um indivíduo precisa suprir alguma demanda (física e / ou psicológica), acima da sua capacidade. Essa falha, e todo transtorno gerado por ela, pode ter consequências graves para o coração. Especialmente quando o estresse acontece de forma contínua. (mais…)
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Estatinas no Combate às Doenças do Coração – Por Dr. Jamil Cherem Schneider – CRM/SC 3151 RQE 2874*
Já foi provado pela ciência que o colesterol está diretamente relacionado com as doenças cardiovasculares. Quanto maior a concentração de LDL (colesterol ruim), e menor a de HDL (colesterol bom), maiores as chances de desenvolver doença aterosclerótica – causa de doença arterial coronária com risco aumentado de desenvolver infarto do miocárdio ou morte súbita. Para evitar isso, especialmente nos casos de alto risco, o tratamento com estatinas, associado à adoção de hábitos saudáveis, é amplamente recomendado. (mais…)
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Convidamos a Dra. Isabela de Carlos Back* (CRM 5470), Cardiologista Pediátrica e Doutora em Ciências, concentração em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular pelo InCor/FMUSP, para explicar sobre a prevenção de problemas cardíacos na infância. Neste post, você vai saber quais as doenças cardíacas mais comuns na infância, como fazer para prevení-las, o papel da alimentação e da atividade física, e muito mais. Boa leitura! (mais…)
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Convidamos a Dra. Andréia Dias de Azevedo* (CRM-SC 11762), Intensivista e Clínica Geral, para falar sobre UTI. Saiba como o próprio paciente pode contribuir para evitar a UTI ou reduzir o tempo de internação nesta unidade. Boa leitura!
Como evitar a UTI e reduzir o tempo de internação
Muitos pacientes querem evitar a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Eles ainda associam esta unidade com a proximidade da morte. Uma ideia completamente equivocada. Nas últimas décadas, graças à especialização dos profissionais e das novas tecnologias, pode-se dizer com segurança que a UTI salva vidas. Nossa experiência mostra que a maioria absoluta dos pacientes clínicos graves se recupera graças ao atendimento prestado na UTI. O índice de mortalidade é muito baixo. (mais…)