Cirurgia Cardíaca: válvula mecânica e anticoagulação

Cirurgia Cardíaca: válvula mecânica e anticoagulação

As doenças valvares cardíacas afetam cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que 20% das cirurgias cardíacas são para implante de prótese valvar. Os portadores de próteses valvares mecânicas precisam ter disciplina quanto à medicação anticoagulante. Afinal, a prótese mecânica possui maior risco de formação de trombos (coágulos) do que a biológica. Neste post, explicaremos mais sobre a relação entre válvula mecânica e anticoagulação.

Risco de Formação de Trombos

A prótese valvar mecânica é feita de metal e não possui nenhum componente eletrônico, tal como pilha, transistor etc. Na sua grande maioria, são apenas dois discos de metal que abrem e fecham, por diferença de pressão.

Em contato com o sangue, o metal faz com que haja uma tendência de formação de coágulos em volta da prótese. Assim, se um coágulo se formar no meio dos discos, pode causar o mau funcionamento da prótese e comprometer o seu desempenho. Nesse caso, pode haver necessidade de uma outra cirurgia, para troca da prótese mecânica. Outro problema relacionado à formação do coágulo é o seu desprendimento da prótese. Caso ele se desprenda, a circulação sanguínea pode levá-lo até o cérebro, ocasionando um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico – AVC.

A formação de coágulo é um risco relacionado à prótese mecânica. Por isso, sempre temos a associação entre válvula mecânica e anticoagulação.

Estima-se que a formação de trombos ocasionada pelas próteses mecânicas atinja de 0,1 a 5,7% pacientes por ano. No entanto, por muitas vezes ser assintomática, acredita-se que a incidência seja ainda maior, de até 9,4%.

Medicação Anticoagulante

As complicações ocasionadas pela formação de coágulos junto à prótese mecânica devem ser evitadas com o uso correto de medicação anticoagulante. Essa medicação é imprescindível para os portadores de prótese valvar mecânica.

“A medicação anticoagulante é de baixo custo, fácil de ser encontrada e simples de ser tomada, pois trata-se de uma dose única diária. Na maioria dos casos, o grande problema com o uso de anticoagulante está relacionado à disciplina do paciente e sua adesão ao tratamento. No entanto, é fundamental que o portador de uma prótese valvar mecânica não se esqueça de usar a medicação diariamente.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM 4370 RQE 5893), cirurgião cardiovascular.

Controle Adequado da Anticoagulação

Outro ponto importante e que exige disciplina do portador de uma prótese mecânica é o controle periódico da anticoagulação. Esse controle é realizado através de um exame de sangue e com o acompanhamento do Cardiologista Clínico, que define a periodicidade.

O exame de controle de anticoagulação (comumente chamado Controle de TAP) é simples, mas fundamental. O resultado é de fácil leitura e permite a interpretação pelo próprio paciente, que tem condições de saber se está ou não com o nível adequado de anticoagulação sanguínea. No entanto, esta facilidade não exclui a necessidade de acompanhamento médico periódico e é também um ponto de alerta.

“Muitas vezes, com o controle de anticoagulação apresentando resultados dentro da faixa adequada, o paciente deixa de fazer o controle periódico. Isso pode trazer sérias consequências. Entre elas, elevar os riscos decorrentes da formação de coágulos junto à prótese valvar mecânica. Assim, é totalmente contraindicado.” – Dr. Sergio Lima de Almeida (CRM 4370 RQE 5893), cirurgião cardiovascular.

Outro ponto extremamente importante é o acompanhamento do nível adequado de anticoagulação com o cardiologista clínico. Cada paciente possui peculiaridades clínicas que demandam a correta avaliação médica. Um exemplo é a interação entre medicamentos que podem interferir na ação dos anticoagulantes. Por isso, o portador de uma prótese mecânica não deve tomar qualquer remédio sem antes perguntar ao seu cardiologista clínico.

Anticoagulação e Hemorragia

Apesar de essencial para o bom funcionamento da válvula mecânica e da saúde do seu portador, o anticoagulante tem um contraponto: torna o sangue pouco coagulável. Dessa forma, pode ser um problema em algumas situações.

No caso de grandes cortes, acidentes ou em cirurgias de urgência, a possibilidade de um sangramento maior é grande. E isso pode aumentar o risco pela presença do anticoagulante. Por isso, quem usa anticoagulante deve evitar situações que envolvam riscos de acidentes graves. Esportes radicais e até mesmo andar de moto estão nesse rol. O mesmo vale para esportes de alto impacto, como futebol ou vôlei. Um trauma pode levar a uma hemorragia dentro da articulação, prejudicando-a para o resto da vida.

Nas atividades domésticas, pequenos acidentes como cortar o dedo com uma faca de cozinha, por exemplo, não representarão risco à saúde. O corte irá demorar mais para parar de sangrar, pode vir a precisar de compressão e, em alguns casos, de cauterização, mas sem impacto à saúde.

Uma questão frequente entre pacientes do sexo feminino é sobre a atuação do anticoagulante na menstruação. A anticoagulação não costuma interferir sobre o ciclo menstrual. Ou seja, não causa aumento do fluxo ou qualquer outro impacto.

Caso tenha alguma dúvida sobre a relação entre válvula mecânica e anticoagulação, converse com seu cardiologista clínico. É importante que você saiba os seus níveis ideais de anticoagulação sanguínea e também como – e quando – acompanhá-los.

 

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Sedentarismo: segundo maior fator de risco para mortalidade

Sedentarismo: segundo maior fator de risco para mortalidade

O sedentarismo é caracterizado pela falta ou diminuição das atividade física. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o sedentarismo é considerado o mal do século e um dos fatores de risco para doenças cardiovasculares. Um estudo clínico, que se estende ao longo de quase meio século, mostra que o sedentarismo é o segundo maior fator de risco para a mortalidade. Nesse contexto, perde posição apenas para o tabagismo.

Sedentarismo: os perigos da inatividade física

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de exercícios físicos por, pelo menos, 150 minutos por semana. No entanto, a OMS revela que uma, a cada três pessoas, não pratica atividades físicas regularmente. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o corpo humano funciona melhor quando recebe estímulos. Dessa forma, quando o indivíduo é ativo, as funções vitais acontecem de forma regular e com menor desgaste. 

Em contrapartida, o indivíduo sedentário sobrecarrega o organismo, prejudicando o seu funcionamento. Como consequência, ocorre o sobrepeso, a obesidade, além de doenças como diabetes e hipertensão.  

Estudo evidencia riscos do sedentarismo

O estudo conduzido pelo Dr. Per Ladenvall, do Departamento de Biologia Molecular e Medicina Clínica, Sahlgrenska Academy da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e Publicado no European Journal of Preventive Cardiology, é considerado um dos mais longos do seu gênero.

Entitulado ”The dangers of physical inactivity revisited in 45-year study”, foi realizado com o intuito de investigar os fatores de risco do sedentarismo para doenças cardiovasculares e mortalidade. Ao longo de quase meio século, os pesquisadores investigaram a atividade física e seu efeito sobre a expectativa de vida.

A equipe de pesquisadores acompanhou um grupo de 792 homens, por 45 anos. Os participantes eram todos homens de 50 anos de idade quando foram recrutados em Gotemburgo, em 1963. Durante a realização do estudo, foram realizados testes de esforço, ergoespirometria e exames físicos.

De acordo com os índices de VO2, os homens foram divididos em três seções. São elas: 2,00 litros por minuto, 2,26 litros por minuto e 2,56 litros por minuto. No resultado, um claro padrão foi identificado: cada aumento no VO2 max reduziu em 21% o risco de morte durante o curso do estudo. Essa relação se manteve mesmo após o controle de pressão arterial, tabagismo e níveis sérios de colesterol.

O estudo concluiu que o estilo de vida sedentário é associado ao risco aumentado de Diabetes, de doença cardiovascular e de morte. A baixa capacidade aeróbica foi associada ao aumento da mortalidade. Assim, o efeito do sedentarismo sobre a mortalidade é menor apenas que o impacto do fumo.

Nos últimos anos o número de fumantes reduziu significativamente, muito em razão das campanhas antitabagismo. Agora, o próximo desafio é encorajar as pessoas a se manterem ativas.

Mudança de Hábitos no Combate ao Sedentarismo 

Não só uma alimentação regrada garante uma vida saudável. A prática de atividades físicas regular, aliada à dieta, é fundamental para a manutenção da qualidade de vida ideal. 

O estilo de vida atual da maioria das pessoas, com uma rotina corrida, muitas vezes é usado como empecilho para a realização de exercícios físicos. No entanto, como vimos, o sedentarismo pode trazer muitos danos à saúde. Assim, é preciso separar algum momento do dia para a prática de exercícios. 

Para começar, 30 minutos de caminhada diária já são suficientes. Além disso, adotar uma alimentação saudável é capaz de proporcionar uma melhora da qualidade de vida e também a redução do peso, afastando assim, riscos para a saúde. 

Cuide da sua saúde. Adote hábitos saudáveis, entre eles a prática de atividade física. Afinal, agora você já sabe que o sedentarismo é também um importante fator de risco para o coração. 

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Prevenção: Alimentação, Doença Cardíaca, Diabetes Tipo II e Obesidade

Prevenção: Alimentação, Doença Cardíaca, Diabetes Tipo II e Obesidade

*Por Dr. Fernando Graça Aranha (CRM-SC 12033 | RQE 5746)

Os níveis elevados de colesterol no sangue têm correlação com maior chance de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral? Sim, tem. Então a “culpa” é da alimentação, porque isso é a maior causa da elevação do colesterol sanguíneo? Pode-se dizer que não, na grande maioria dos casos.

  • Em 1980, não havia nenhum dentre os 50 estados norte-americanos que tivesse mais de 20% da sua população com sobrepeso ou obesidade. Todos tinham índices inferiores a isso.
  • Em 2017, não há nenhum dentre os 50 estados norte-americanos que tenha menos de 20% da sua população com sobrepeso ou obesidade. Todos têm índices superiores a isso.
  • De 1980 até 2017, o número de pacientes portadores de Diabetes Melito tipo II quadruplicou nos Estados Unidos (EUA). Isso mesmo, aumento de 300% no número de casos!
  • Apesar de todo o desenvolvimento da Medicina, dos medicamentos e da crescente preocupação (e gastos expressivos) com cuidados preventivos, a incidência de doenças vasculares (infartos e derrames) continua crescente!

Podemos inferir sem medo de errar grosseiramente que estes números alarmantes, que traduzem uma real epidemia, não se restringem aos EUA. Boa parte dos países do ocidente, e particularmente das Américas, padece das mesmas tendências. Aí, incluído o Brasil!

Quando nos confrontamos com estes índices e esta realidade pavorosa, a maioria de nós já tem uma resposta pronta e superficial que ouvimos e repetimos durante décadas: “A culpa é da mudança de estilo de vida, do sedentarismo, dos hábitos da vida moderna…”. Esta explicação certamente traz nela algum acerto. Porém, nem de longe traduz com exatidão a extensão das causas que nos atingem violentamente nas últimas décadas.

Comecemos por um tópico sobre o qual não vou me estender muito por não ser o foco principal deste texto (embora não se possa negar sua importância): o sedentarismo e os exercícios. Embora saibamos e tenhamos evidências de inúmeros benefícios dos exercícios físicos (desde que realizados dentro das recomendações cabíveis de profissionais das áreas de Educação Física e Medicina), nunca se fez tanto exercício! Quem tem mais de 40, 45 anos, não precisa fazer muito esforço de memória para lembrar que outrora não havia esta multidão a correr diariamente nas beira-mares e nas esteiras das academias! A preocupação com os exercícios físicos e sua prática é notadamente maior progressivamente.

Os exercícios melhoram a capacidade física, tonificam os músculos, têm uma série de efeitos benéficos  no metabolismo e até mesmo sobre a autoestima. Isso é inegável. Mas não se pode afirmar que representam uma arma poderosa se usados isoladamente contra a obesidade e o Diabetes Tipo II, assim como contra as consequências destes problemas.

Somos então obrigados a voltar nossas atenções novamente para a alimentação… O que está “dando errado”? Por que, mesmo com todas as inúmeras recomendações alimentares, continuamos engordando, virando diabéticos e infartando?

Desde as décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos da América têm sido recomendados determinados tipos de dieta oficialmente pelo governo e pelas sociedades médicas. Em 1977, foi publicada uma recomendação dietética para o americano, restringindo as gorduras e privilegiando a ingestão dos carboidratos na alimentação.

Em 1992, foi publicada a clássica pirâmide alimentar, que a maioria das pessoas conhece, com a generosa base composta por carboidratos. Os americanos mudaram a dieta radicalmente desde então… e aí só precisamos olhar os primeiros parágrafos deste texto e ver o que aconteceu.

E de onde surgiu isso?

No início da segunda metade do século passado, começaram a surgir evidências científicas sólidas de que os níveis elevados de colesterol no sangue guardavam relação com a ocorrência futura de infarto e derrame (os chamados eventos cardiovasculares).  

De forma simplista, podemos inferir que isso levou à conclusão (talvez precipitada ou pouco embasada) de que a dieta (alimentação) que possuísse colesterol e gordura seria obviamente a principal suspeita. A partir daí, foram iniciados vários esforços para montar dietas ricas em carboidratos e pobres em gorduras, inclusive de forma oficial pelo governo americano. Tais dietas se tornaram o padrão recomendado, quase que no mundo todo, por leigos, nutricionistas e médicos. A ingestão proporcional dos carboidratos, particularmente dos ditos “refinados” cresceu muito!

O resultado foi desastroso… As evidências do desastre se acumulam de forma desconcertante e progressivamente vão se tornando conhecidas por pacientes e profissionais de saúde. Há cerca de 2 anos inclusive, houve uma mudança de postura do governo americano, retirando da lista de “proibidos” ou “malditos” vários alimentos e grupos alimentares.

Este assunto será uma das grandes tendências alimentares dos próximos anos, embora já seja fruto de estudos consistentes há quase cem anos, mesmo antes da II Grande Guerra, na Europa e na América do Norte.

Finalmente, gostaria de concluir esta primeira parte do texto fazendo uma recomendação enfática: não tome nenhuma atitude radical em relação a sua alimentação sem a orientação de um profissional habilitado e atualizado. É de capital importância que este tipo de ação seja individualizada, pois cada pessoa tem metabolismo e saúde diferente. Cada um, portanto, responderá de forma singular a qualquer alteração. É muito importante que haja um acompanhamento estreito!

Se você for portador de doença cardíaca, Diabetes, tiver mais de 40 anos ou outros fatores de risco para doenças cardiovasculares (história familiar rica em doenças cardíacas ou derrame, tabagismo, colesterol elevado, obesidade), este cuidado se faz ainda mais fundamental. 

Procure seu médico de confiança para que ele avalie ou encaminhe adequadamente o seu caso. E, para saber mais sobre a influência da alimentação sobre a Obesidade e Diabetes Tipo 2, leia a segunda parte deste artigo: Gordura e Carboidrato: tudo o que você precisa saber.

*Dr. Fernando Graça Aranha (CRM-SC 12033 | RQE 5746) é Cardiologista e Intensivista. Atua no Hospital SOS Cárdio, como Coordenador Geral da UTI e Diretor Técnico, e atende em consultório na clínica Prevencordis. Contato: prevencordis.fernando@gmail.com

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Diretrizes para Tratamento de Cardiopatias Congênitas

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