Eletrocardiograma

Eletrocardiograma

 

A convite da equipe de cirurgiões cardiovasculares da equipe Seu Cardio, o Prof. Dr. Miguel de Patta* (CRM/SC 2276 RQE 3308) explica o papel do Eletrocardiograma no diagnóstico das doenças do coração. Confira o post sobre o assunto:

O coração é uma bomba fantástica que recebe o sangue oxigenado nos pulmões e o envia para todo o corpo. Isso é bem conhecido por toda a população. No entanto, poucas pessoas sabem que essa bomba funciona à eletricidade e que essa eletricidade é gerada por ele próprio, através de células que a sua natureza criou para isso.

O eletrocardiograma que nada mais é do que o registro da atividade elétrica do coração. É um exame relativamente simples, rápido e barato. Surgiu há mais que 100 anos para auxiliar o médico no diagnóstico das várias doenças do coração, como também para trazer informações importantes sobre possíveis complicações dessas doenças.

Quando comenta-se que alguma pessoa está com “problema de coração”, alguns podem pensar que só existe um problema ou uma doença. Na verdade, existem várias formas de acometimento do coração:

  • arritmias (coração descompassado);
  • falta de sangue no próprio coração, por obstrução das coronárias (isquemia ou, quando mais grave, infarto);
  • doenças nas válvulas que causam dilatação ou hipertrofia do coração (aumento da musculatura das paredes);
  • doenças inflamatórias ou infecciosas que fazem o coração dilatar;
  • doenças congênitas (a criança já nasce com o problema).

Como o eletrocardiograma ajuda no diagnóstico?

Arritmias:

Existem vários tipos de arritmias. Algumas mais preocupantes e outras “benignas”, que não exigem tratamento. Quando portadores de arritmias, os pacientes expressam suas queixas aos médicos de várias formas:

  • “o meu coração disparou”;
  • “o meu coração quer sair pela boca”;
  • “o meu coração deu uma cambalhota”;
  • o meu coração está descompassado”, etc.

De acordo com essas queixas o médico pode apenas suspeitar qual o tipo de arritmia está ocorrendo. Porém, o diagnóstico correto é feito pelo eletrocardiograma e, infelizmente, isso nem sempre é possível. Muitas vezes, a arritmia “já passou” e o eletrocardiograma pode ser normal.

Quando o cardiologista suspeita realmente de que as queixas do paciente são compatíveis com alguma arritmia, pode recorrer ao Eletrocardiograma de 24, 48, ou 72 horas, que chamamos de HOLTER.

Nos pacientes que desmaiam, se recuperam e procuram o médico após o episódio, a causa do desmaio pode, eventualmente, ter sido uma arritmia. Nesses casos, o diagnóstico do tipo de arritmia pode tornar-se difícil porque, geralmente, o eletrocardiograma não é realizado no momento do desmaio. Nessas situações, o HOLTER tem muita importância na procura e no esclarecimento da causa.
No decorrer de várias doenças graves, sejam elas do coração ou não, as arritmias podem aparecer e, às vezes, podem levar à morte. Por essa razão, os pacientes que estão internados na UTI estão sempre monitorizados , com seu eletrocardiograma sendo gravado e observado pelos médicos e enfermeiros durante 24h. Na eventualidade de uma arritmia, o diagnóstico é imediato, facilitando o tratamento quando necessário.

Infarto e Isquemia

O coração não para de trabalhar nunca, necessitando constantemente de um aporte de oxigênio para poder realizar esse trabalho adequadamente. Quem leva o oxigênio é o sangue, que caminha por canos que chamamos de artérias e veias. No coração esses canos são as coronárias.

Se uma ou mais coronárias estiverem obstruídas parcialmente, ou seja, algum sangue ainda passa, apesar da obstrução, o paciente poderá apresentar sintomas apenas durante o exercício, geralmente uma dor ou desconforto no peito causada por falta de sangue naquele momento do esforço. É o que chamamos de isquemia. Se o eletrocardiograma for realizado no momento da dor, a possibilidade de apresentar alterações é maior, facilitando o diagnóstico da doença Porém, se for realizado após a melhora do quadro, poderá ser normal e o médico não consegue descobrir o problema. Por isso, em pacientes que apresentam dor ou opressão no peito aos esforços e procuram o médico após o alívio dos sintomas, muitas vezes solicita-se um Teste de Esforço (teste de esteira) para tentar reproduzir, no consultório, aquela situação que causou o sintoma e observar as alterações no eletrocardiograma.

Se ocorrer uma oclusão súbita e total da coronária, ou seja, não passa mais sangue nenhum, a parte do coração que recebia sangue por essa coronária vai morrer. É o que chamamos de necrose ou infarto. Essa situação geralmente ocorre em repouso e o paciente começa a ter dor no peito de repente. Procurando a emergência rapidamente, na grande maioria das vezes, o eletrocardiograma mostrará os sinais de infarto, indicando que uma coronária “fechou” totalmente. Esses pacientes são encaminhados rapidamente para o cateterismo para desobstrução da coronária (angioplastia), muitas vezes com a colocação de um stent. Essa é uma situação em que o Eletrocardiograma é extremamente importante, porque além de fazer o diagnóstico do infarto, orienta o cardiologista para qual o melhor tipo de tratamento.

Doença nas Válvulas Cardíacas:

O coração possui 4 válvulas que abrem-se deixando o sangue passar e fecham-se impedindo o sangue de voltar. Se uma dessas válvulas não abre-se bem, isso exigirá do coração um trabalho maior para fazer a mesma quantidade de sangue passar pela válvula estreitada. As paredes do coração “fazendo mais exercício” vão ficar mais musculosas, o que chamamos de hipertrofia. Se porventura a válvula torna-se insuficiente, o sangue vai voltar para o local de onde veio. Isso levará à dilatação do coração. Ambas as situações, hipertrofia ou dilatação, poderão ser diagnosticadas pelo eletrocardiograma, ajudando o cardiologista a descobrir que o problema na válvula é importante.

Pressão Alta (Hipertensão Arterial):

Essa é uma situação bem comum na população. Se o paciente tem pressão muito alta e não faz tratamento adequadamente para controlá-la, o coração terá que fazer mais força para mandar o sangue contra essa pressão alta. Isso também exigirá um trabalho maior que, para ser realizado adequadamente, necessitará que o coração aumente a sua massa muscular – a hipertrofia. Como já comentamos acima, essa hipertrofia poderá ser diagnosticada pelo eletrocardiograma.

Assim, o médico poderá saber que a pressão alta está repercutindo sobre o coração e se essa repercussão é importante ou não. Isso alertará o médico para a necessidade de um controle adequado da pressão com um, dois ou mais medicamentos.
Se o paciente apresenta uma hipertensão leve ou moderada, mas bem controlada com os remédios, a hipertrofia não aparecerá no eletrocardiograma. Isso tranquilizará o médico, pois o coração não foi afetado.

De uma maneira geral, essas são as situações mais frequentes na nossa prática diária em que o Eletrocardiograma ajuda o cardiologista no diagnóstico das doenças do coração. Além disso, muitas vezes o orienta quanto à necessidade não só de tratamento, mas também do tipo de tratamento. Por isso na consulta com um cardiologista, o paciente sempre deverá realizar um eletrocardiograma.

*Autor: Prof. Dr. Miguel de Patta (CRM/SC 2276 RQE 3308), Cardiologista na clínica Unicardio, em Florianópolis/SC, e professor de Cardiologia na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).

 

Arritmia Cardíaca: quando é necessário um CDI ou Marcapasso?

Arritmia Cardíaca: quando é necessário um CDI ou Marcapasso?

As arritmias cardíacas são bastante frequentes na população brasileira. Estima-se que um a cada 10 brasileiros sofra com algum tipo de descompasso do coração. Segundo a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas, a doença é responsável por 320 mil mortes súbitas no Brasil. 

Neste post, vamos procurar esclarecer a relação entre taquicardia, arritmia cardíaca e a necessidade de implante de marcapasso ou CDI. Quando a taquicardia deve ser investigada? Quando a taquicardia pode ser uma arritmia cardíaca que requer tratamento? Em quais casos é indicado o implante de um marcapasso ou desfibrilador – CDI? Confira essas e outras informações a seguir.

Taquicardia é um problema cardíaco?

Taquicardia é o termo utilizado para frequência cardíaca aumentada, não necessariamente uma arritmia cardíaca. Ou seja, um corredor chega ao final de uma prova taquicárdico. Da mesma forma, uma pessoa que toma muito estimulantes pode ficar taquicárdica. Assim, não necessariamente é uma arritmia, mas apenas o aumento da frequência cardíaca.

A percepção do paciente com taquicardia pode ser a de uma pulsação rápida, palpitação ou mesmo frequência cardíaca acima do normal, aferida em rotina ambulatorial. 

Contudo, se a pessoa costuma ter taquicardia com frequência, é importante realizar uma investigação médica. Afinal, pode ser a manifestação clínica de alguma doença, tanto do coração quanto de doença sistêmica.

Como é realizada a avaliação de arritmia cardíaca?

No caso de arritmia cardíaca, é importante a investigação cardiológica. Nela, são contemplados alguns exames, a começar pelo eletrocardiograma, que mostrará o ritmo de base. Como o eletrocardiograma avalia um período curto da frequência cardíaca, outros exames podem ser necessários. Entre eles, o Holter, que avalia a frequência cardíaca durante um período 24 horas. 

“Seria como comparar uma fotografia (resultado do eletrocardiograma) a um filme (resultado do Holter). Tais exames permitem o diagnóstico correto sobre o tipo de distúrbio de ritmo do coração. Dessa forma, é possível diagnosticar se há ou não uma arritmia mais grave.” – Dr. Portiuncola Gorini (CRM-SC 8296/RQE 5327), cirurgião cardiovascular.

A investigação segue com a realização de exames rotineiros e de uma avaliação cardiológica aprofundada, que considere a história do paciente e seu exame físico. O tratamento final depende não só do tipo de arritmia cardíaca, mas também da sua causa e de possível doença cardíaca associada.

Tratamentos da Arritmia Cardíaca e CDI

Há vários tipos de tratamentos para a arritmia cardíaca de frequência alta. Entre eles, o mais simples é o uso de medicamentos que controlam a frequência cardíaca ou previnem o desencadeamento da arritmia. 

Nos casos mais graves, pode ser necessário o mapeamento da arritmia através de estudos invasivos e do isolamento do foco da arritmia. Essa abordagem pode ser realizada por meio de cateter ou, até mesmo, de uma cirurgia cardíaca, como a revascularização do miocárdio.

Em outros casos, onde há risco de morte pela arritmia cardíaca, é implantado o chamado CDI – cardioversor e desfibrilador implantável. Este aparelho tem a finalidade de monitorar o coração continuamente, detectar as possíveis arritmias e tratá-las de forma adequada. 

“Caso o coração diminua muito a frequência cardíaca, o CDI funcionará como um marcapasso. Em caso de uma arritmia cardíaca que seria fatal, o CDI aplica algumas terapias, ou mesmo um choque, para resgatar o ritmo cardíaco do paciente.” – Dr. Portiuncola Gorini (CRM-SC 8296/RQE 5327).

O CDI é indicado para pessoas que passaram pela terrível experiência de uma parada cardíaca por arritmia e foram recuperadas. Além disso, é também indicado para pacientes que não são passíveis de tratamento efetivo e controle da arritmia de base. Uma vez desencadeada esta arritmia cardíaca, a única forma de tratamento (longe do auxílio médico) é através do CDI.

O Funcionamento do CDI

Os CDIs têm uma longevidade média de 5 a 12 anos. No entanto, os portadores de CDIs devem realizar um acompanhamento médico trimestral ou semestral para avaliar a integridade do sistema e a evolução clínica da sua saúde.

Os CDIs registram o ritmo cardíaco. Assim, se houver algum tipo de arritmia cardíaca, o médico consegue identificá-la. No acompanhamento periódico, o médico também avalia o desempenho do aparelho – se aplicou alguma terapia, que não necessariamente é um choque, ou se foi necessário o choque.

Nas avaliações, o médico realiza, ainda, eventuais ajustes no CDI. A programação do aparelho é feita individualmente para cada paciente e desfecho clínico, podendo ser mudada a cada consulta.

No caso de troca de CDI, substitui-se o aparelho todo. Os eletrodos colocados na primeira vez, se estiverem em boas condições, são mantidos. Geralmente, na ocasião, aproveita-se para trocar por um aparelho mais moderno, com bateria mais durável e melhores recursos. Dessa forma, beneficiando o portador do dispositivo.

Arritmia Cardíaca e Marcapasso

O marcapasso procura ajustar o ritmo do coração. O marcapasso simples é usado para o caso das bradiarritmias (perda do ritmo com frequência cardíaca baixa). Normalmente, as manifestações mais comuns desse tipo de arritmia cardíaca são tonturas e perda de consciência, mas podem ocorrer até convulsões. 

“Devido a esses sintomas, muitas pessoas passam por consultas neurológicas antes de uma avaliação cardiológica. Muitas vezes, porque relacionam problemas cardíacos à idade. No entanto, vale dizer que não há limite de idade para implante de marcapasso. Os implantes de marcapasso para tratamento de arritmias cardíacas são realizados tanto em crianças recém-nascidas quanto em pessoas bem idosas.” – Dr. Portiuncola Gorini (CRM-SC 8296/RQE 5327).

Se você sofre com arritmia cardíaca, acompanhe regularmente com o seu cardiologista. O tratamento pode ser simples, apenas com medicação, ou mesmo passar pela necessidade de implante de marcapasso cardíaco. No entanto, cada caso deve ser avaliado de forma individualizada. Cuide da sua saúde!

Para saber quais são as principais orientações sobre marcapassos, faça o download gratuito da nossa cartilha Marcapassos: orientações aos pacientes:

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*Post publicado em agosto/2026 e atualizado em fevereiro/2020.

Cardiopatias Congênitas no Adulto

Cardiopatias Congênitas no Adulto

As cardiopatias congênitas no adulto são cada vez mais comuns. O problema é caracterizado por toda e qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração, que surge nas primeiras oito semanas de gestação. O Ministério da Saúde estima que no Brasil nascem 30 mil crianças com problemas cardíacos por ano, sendo dez casos a cada mil bebês nascidos vivos

Atualmente, 85% das crianças que têm cardiopatias congênitas chegam à idade adulta devido aos novos tratamentos, cirurgias e medicamentos. Isso criou um índice maior de adultos com cardiopatias congênitas. Nos Estados Unidos, estima-se que este número chegue a um milhão. Hoje, já contabiliza-se mais adultos que crianças com cardiopatias congênitas. 

“Essa população é formada por crianças que foram tratadas e cresceram, mas também por adultos que têm problemas congênitos leves, diagnosticados com idade mais avançada”, esclarece Dr. Luis Enrique Vargas Portugal (CRM-SC 11295/RQE 5389).

Diagnóstico das Cardiopatias Congênitas em Crianças

No caso das crianças, na maioria das vezes, o diagnóstico de uma cardiopatia congênita pode ser feito no pré-natal, através de ultrassom. Em alguns casos, é realizado no primeiro mês de vida, diante de sintomas. Entre eles, quando a criança apresenta a ponta dos dedos e lábios roxos, sudorese, cansaço excessivos durante as mamadas e dificuldade de ganhar peso. Nesta situação, o diagnóstico é feito também pelo ultrassom. 

Das crianças que têm cardiopatias congênitas, 50% devem ser tratadas no primeiro ano de vida. Dependendo do caso, inclusive com algum tipo de intervenção cirúrgica logo na primeira semana de vida.

Diagnóstico das Cardiopatias Congênitas no Adulto

O diagnóstico das cardiopatias congênitas no adulto começa com uma avaliação feita pelo cardiologista. Depois, pode seguir com os exames. Entre eles, eletrocardiograma, radiografia de tórax, ecocardiograma e teste ergométrico (conhecido como teste de esforço ou esteira). 

Já exames como tomografia, ressonância magnética e o cateterismo cardíaco permitem não apenas diagnosticar, mas também apontar como deve ser a cirurgia corretiva. E isso é muito importante para planejar o tratamento da cardiopatia congênita.

Quem tratou quando criança, precisa de novas intervenções quando adulto?

Em alguns casos, sim, conforme explica o cirurgião cardiovascular Dr. Luis Portugal, da equipe Seu Cardio:

“O adulto diagnosticado com cardiopatia quando criança, na maioria das vezes foi tratado com uma cirurgia paliativa, justamente pela questão do crescimento. Mas, com o passar dos anos, as estruturas ampliadas podem ficar pequenas e as próteses valvares (geralmente biológicas) se deterioram com o tempo. Então, uma parte dessas pessoas precisa de acompanhamento. Muitas vezes, de novos procedimentos, por cirurgia aberta ou por cateterismo cardíaco”. – Dr. Luis Enrique Vargas Portugal (CRM-SC 11295/RQE 5389)

Adultos que recém são diagnosticados geralmente precisam ser tratados, mesmo que a lesão seja leve. Isso porque, pela quantidade de anos que ficou sem tratamento, quando começam os sintomas das cardiopatias congênitas no adulto, já pode haver uma deterioração do pulmão e de outros órgãos.

Quais são os tipos mais frequentes de cardiopatias congênitas? 

Os tipos mais frequentes de cardiopatias congênitas incluem:

  • alterações nas válvulas cardíacas, com estreitamentos ou vazamentos;
  • alterações nas paredes entre átrios e ventrículos, provocando a mistura do sangue; 
  • anormalidades no músculo, como má formação dos ventrículos. 

Além disso, pode haver também uma combinação destes problemas. Porém, entre as cardiopatias congênitas, a mais frequente é a Comunicação Interatrial. Trata-se de um defeito na parede que separa o átrio direito e átrio esquerdo. A CIA, como é popularmente conhecida, representa cerca de 40% dos casos tratados. Pode ser corrigida por cirurgia ou por via percutânea. Neste último, através de cateterismo e colocação de um dispositivo para corrigir o problema. 

Outro tipo frequente é a comunicação interventricular, ou seja, entre os ventrículos. Representa cerca de 15% das cardiopatias congênitas. Alguns casos podem ser tratados por cateterismo, mas o mais comum é que necessitem de cirurgia.

Já o estreitamento da aorta geralmente requer tratamento quando criança e, comumente, precisa de uma nova abordagem quando adulto. Atualmente, existem dispositivos que podem ser introduzidos via percutânea (por uma artéria da perna), sem necessidade de uma cirurgia cardíaca aberta. 

Os procedimentos mais realizados relacionados às cardiopatias congênitas no adulto são as trocas de valvas cardíacas. Com o passar dos anos e o crescimento do paciente, as próteses ficam pequenas ou se deterioram. Assim, demandam nova intervenção. 

“Outros procedimentos comuns são o fechamento de CIA ou CIV e a correção de problemas na saída do coração para os vasos da aorta ou para a artéria pulmonar. Seguindo o crescimento do paciente, a correção realizada quando criança pode começar a calcificar e estreitar, necessitando de nova abordagem. Além disso, algumas cardiopatias congênitas precisam ser corrigidas em etapas. Por isso, podem ser necessários procedimentos quando criança e, posteriormente, na vida adulta.” – Dr. Luis Enrique Vargas Portugal (CRM-SC 11295/RQE 5389).

As cardiopatias congênitas no adulto limitam as atividades físicas?

Cardiopatias congênitas nos adultos, como as comunicações interatriais (CIA) e interventriculares (CIV), por exemplo, se tratadas precocemente, não trazem muitos problemas para se ter uma vida normal, com prática de exercícios físicos. 

O problema com o tratamento tardio é que o coração e os pulmões podem estar tão afetados que, mesmo tratada a cardiopatia, ainda persista uma limitação. Por isso, é importante acompanhar com o cardiologista periodicamente.

Avanços da Medicina para o Tratamento da Cardiopatia Congênita

Existem muitos avanços na Medicina para o tratamento das cardiopatias congênitas, Inclusive, novos medicamentos que melhoram a função do coração. Além disso, há os procedimentos endovasculares, que permitem o implante de próteses valvares no coração e stents nas artérias em procedimentos menos invasivos do que uma cirurgia cardiovascular aberta. 

“Nos últimos 10 anos, foi dado um salto muito grande nas técnicas cirúrgicas. Assim, próteses valvares que tinham uma vida útil de seis a oito anos, hoje duram de 25 a 30 anos. Além disso, existem próteses que podem ser inseridas por mini incisão e cujo tempo de colocação é mais rápido. Tudo isso colabora para uma rápida recuperação do paciente.” – Dr. Luis Enrique Vargas Portugal (CRM-SC 11295/RQE 5389).

Há também um grupo crescente de pacientes que precisa de uma assistência à função do coração. Nesses casos, podem ser utilizadas bombas mecânicas externas ou internas. Esses dispositivos são conhecidos como assistência ventricular ou “coração artificial”. São um importante avanço da Medicina, principalmente para aqueles pacientes não elegíveis para transplante cardíaco.

A maioria desses tratamentos pode ser realizada por cirurgiões cardiovasculares. Inclusive, a assistência ventricular, tanto para o ventrículo direito quando para o esquerdo. Tudo isso resultou numa melhoria muito grande na qualidade de vida das pessoas com cardiopatias congênitas e no tratamento das cardiopatias congênitas no adulto.

Para saber mais sobre cardiopatias congênitas, listamos abaixo outros posts aqui do blog:

Esperamos que aproveite a leitura sobre cardiopatias congênitas!

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Arritmias cardíacas, morte súbita e exercícios físicos

Arritmias cardíacas, morte súbita e exercícios físicos

A ocorrência de morte súbita é uma realidade no esporte. No entanto, não é a prática de exercícios físicos que leva os atletas ao óbito, mas sim a ausência de exames preliminares, que poderiam diagnosticar e prevenir doenças genéticas graves. São elas que tendem a provocar as arritmias cardíacas e a causar a morte súbita – especialmente entre os mais jovens.

Abaixo, o Dr. André Pacheco Silva (CRM/SC 15555,  RQE 13140), Médico Cardiologista e Arritmologista Clínico do Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis/SC, fala da relação do exercício físico com as arritmias cardíacas. Na entrevista, você vai entender como esses problemas acontecem e o que podemos fazer para nos proteger.

Quais os benefícios da atividade física?

Dr. André: O exercício físico já está consagrado na medicina. Ele promove benefícios enormes não só para a saúde do coração, mas para o corpo todo. Hoje, sabemos que o exercício físico auxilia na prevenção de doenças graves, como a demência e até alguns tipos de câncer.

No geral, quanto maior o nível de atividade física, maiores os benefícios para a saúde. No entanto, você não precisa ser atleta. A prática de exercícios físicos, em qualquer nível, ajuda a prevenir infartos do coração e acidentes vasculares cerebrais (AVC). A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, preconiza que com 150 minutos de por semana, já é possível ter benefícios consideráveis.

Qual tipo de exercício é o mais indicado?

Dr. André: Tanto as atividades aeróbias, como correr e pedalar, ou de força, como a musculação, trazem benefícios para o organismo. No geral, exercícios aeróbicos estão relacionados a um maior gasto de calorias e ganhos nos parâmetros cardiovasculares e metabólicos (perda de peso, controle do colesterol e da glicose no sangue). Os exercícios de força também possuem efeitos sobre a circulação sanguínea e sobre o metabolismo, mas destacam-se por preservar e fortalecer a integridade muscular e óssea.

É preciso fazer algum tipo de avaliação antes de praticar exercícios intensos?

Dr. André: Sim. Apesar de todos os benefícios, o exercício físico intenso pode ser bastante perigoso para as pessoas que apresentam determinados problemas cardíacos, como algumas arritmias cardíacas. É preciso lembrar que sempre que realizamos um exercício, o nosso corpo sofre um estresse. Esse estresse, em determinadas situações, pode descompensar algum problema silencioso, que o indivíduo – especialmente os mais jovens – podem não saber que têm. Muitos atletas já sofreram morte súbita dessa maneira, por não saberem que possuíam determinada doença.

Por isso, antes de praticar ou começar a treinar alguma atividade competitiva ou que leve o seu corpo ao limite, é importante consultar o médico cardiologista. A avaliação cardiológica completa é indicada.

Quais os problemas mais comuns que levam à morte súbita?

Dr. André: A morte súbita pode ser desencadeada pelo exercício físico durante a atividade em si ou em até 24 horas depois dela. Em pessoas com menos de 35 anos, a morte súbita costuma estar relacionada à Cardiomiopatia Hipertrófica, uma característica genética que faz com que o músculo cardíaco seja mais espesso (hipertrofiado) do que o normal.

Durante o exercício intenso, com a sobrecarga do coração, esse espessamento do músculo cardíaco pode provocar arritmias cardíacas malignas, como as taquicardias ventriculares e fibrilação ventricular. O risco de morte súbita é real.

A Cardiomiopatia Hipertrófica pode ser silenciosa e não apresentar sintoma algum. No entanto, ela é uma doença de fácil rastreio, que pode apresentar sinais claros no eletrocardiograma. Por isso, tão importante a avaliação cardiológica pré-atividade física.

Em pessoas com mais de 35 anos, a morte súbita está mais relacionada ao infarto do coração. Esse problema é provocado pela inflamação e obstrução das artérias coronárias, que levam sangue para o próprio músculo cardíaco. O infarto, quando não fatal, costuma deixar cicatrizes no coração, que também podem desencadear arritmias cardíacas graves a longo prazo.

Quais os outros problemas relacionados às arritmias cardíacas?

Dr. André: Outra causa de morte súbita relatada em atletas é uma doença chamada Displasia Arritmogênica do Ventrículo Direito.  Essa é uma doença hereditária e muito prevalente entre a população de origem italiana.

De forma resumida, essa doença provoca uma substituição do músculo do coração normal por tecido de fibrose e gordura, predominantemente no ventrículo direito. O grande problema é que essas novas áreas, formadas por células mortas de fibrose e tecido gorduroso, possuem comportamento elétrico diferente das células antigas. A eletricidade que faz o coração bater passa por essas novas estruturas com velocidade e forma diferentes do normal. Durante o exercício físico, quando a atividade elétrica do coração é naturalmente intensa, esse fato pode desencadear arritmias cardíacas graves e morte súbita.

Outras doenças genéticas, como as Canalopatias Cardíacas ou alterações no posicionamento das artérias coronárias, também podem provocar morte súbita, especialmente durante o exercício físico.

O que o doutor aconselharia para quem deseja praticar exercícios físicos?

Dr. André: As arritmias cardíacas são muito diversas. Na maior parte das vezes, o exercício físico moderado é benéfico para os pacientes que possuem arritmias, como as extra-sístoles e a fibrilação atrial, ajudando a suprimi-las. No entanto, caso a arritmia seja provocada por algum problema estrutural do coração, por alguma outra doença, o problema pode ser mais grave e o exercício físico pode ser desaconselhado, por conta do risco de morte súbita.

Por isso, antes de fazer alguma atividade física intensa, é importante realizar a avaliação cardiológica. Assim, é possível identificar possíveis alterações e desfrutar de todos os benefícios do exercício físico com segurança, inclusive na reabilitação após uma cirurgia cardíaca.

Sobre o Autor: Dr. André Pacheco Silva (CRM/SC 15555,  RQE 13140), formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Realizou a residência médica em Clínica Médica no hospital da mesma universidade. É especialista em Cardiologia e Arritmologia Clínica pelo Instituto  do Coração da Universidade de São Paulo (Incor-USP). É membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). É médico Cardiologista e Arritmologista Clínico do Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis/SC.

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Como identificar a Estenose Aórtica

Como identificar a Estenose Aórtica

Trata-se de uma das doenças mais comuns do coração. A Estenose Aórtica ocorre quando a Valva Aórtica,  por um processo degenerativo, torna-se enrijecida, calcificada. Esse processo leva à uma diminuição de seu orifício efetivo e, assim, gera uma obstrução ao sangue que é ejetado pelo coração.

estenose aorticaA doença é caracterizada pela calcificação, enrijecimento e até fusão dos folhetos que compõem a Válvula Aórtica. Os folhetos são as estruturas que determinam a competência da valva e fazem com que o sangue flua somente em um sentido, do coração para a aorta. Eles impedem que o sangue reflua para dentro do coração.No entanto, a Estenose Aórtica impede a válvula de abrir corretamente, reduzindo o espaço por onde o sangue deve passar. Isso faz com que o coração precise trabalhar com maior sobrecarga para bombear a quantidade de sangue necessária para o organismo.

“A Estenose Aórtica é uma doença que tem evolução gradativa e está diretamente associada com a hipertrofia do músculo cardíaco. No início, essas adaptações podem ajudar a bombear sangue com mais força, para vencer a resistência provocada pela estenose. Mas, com o tempo, a tendência é que o quadro evolua para a Insuficiência Cardíaca.”  –  Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardovascular (CRM 4370 / RQE 5893).

Causas da Estenose Aórtica

No geral, a Estenose Aórtica é provocada por:

  • Doenças degenerativas: Especialmente em pacientes idosos, pelo acúmulo de cálcio na válvula aórtica ao longo dos anos.
  • Doença reumática: Doença que costuma acometer o aparelho locomotor (ossos, cartilagens, articulações, músculos e etc), mas que também podem comprometer órgãos como rins, pulmões, intestino e coração. A doença reumática costumavam ser a principal causa de estenose aórtica em pacientes jovens. O fator causal inicial esteve muito relacionado a amigdalites de repetição, que levam ao aparecimento da doença reumática. No entanto, o número desses casos tem caído consideravelmente.
  • Anomalias congênitas: Tratam-se de variações anatômicas que não são, por si só, consideradas doenças. Estudos identificaram que pessoas que nascem com apenas 2 folhetos na Válvula Aórtica (o mais comum são 3), estão mais suscetíveis à doença.

Sintomas da Estenose Aórtica

Os pacientes com Estenose Aórtica podem passar por longos períodos sem perceber os sintomas da doença. Porém, isso pode ser muito perigoso, já que pode acarretar em risco de morte súbita.

Normalmente, um dos sintomas mais comuns é a tolerância cada vez menor ao exercício. Os pacientes com Estenose Aórtica passam a tolerar menos a prática de atividades físicas a que estavam habituados. No entanto, muitas pessoas atribuem essa perda de capacidade à idade ou ao sedentarismo. Por isso, as consultas médicas periódicas são tão importantes.

“O médico precisa conhecer o histórico do paciente. A primeira vista, uma pessoa com 68 anos e que caminha 2km por dia pode ser considerada assintomática. No entanto, se essa pessoa costumava, até pouco tempo atrás, caminhar 4 ou 5 km, a redução pode significar alguma irregularidade e precisa ser investigada.” Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular (CRM 4370 / RQE 5893).

Além da intolerância à exercícios habituais, a Estenose Aórtica costuma provocar os seguintes sintomas::

  • Dor no peito (angina);
  • Falta de ar (dispnéia);
  • Desmaios (síncopes);

Riscos da Estenose Aórtica

A ocorrência de um ou mais dos sintomas vistos acima pode indicar que a doença está em estado avançado. Como oferece risco de morte súbita, a Estenose Aórtica precisa ser investigada imediatamente.

“A  Estenose Aórtica sintomática costuma ter uma evolução muito ruim. No geral, os pacientes que têm os sintomas e não são tratados possuem uma expectativa de vida de apenas 2 a 3 anos. No entanto, dependendo do caso, mesmo na Estenose Aórtica sem sintomas o risco de morte súbita pode ser alto.”  – Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular (CRM 4370 / RQE 5893).

Diagnóstico

O Ecocardiograma é o exame mais adequado para o diagnóstico da Estenose Aórtica e deve fazer parte dos cuidados de rotina com o seu coração. No entanto, alguns outros métodos, como eletrocardiograma, testes ergométricos, ressonância magnética e até radiografia de tórax podem indicar a doença.

Muitos pacientes sem sintomas identificam a Estenose Aórtica em exames de rotina, como o check up cardiológico. Para identificar a doença ainda nas fases iniciais, e ter maiores possibilidades de tratamento, é importante consultar o seu cardiologista de forma periódica. Caso algum dos sintomas citados acima venha aparecer, procure ajuda imediatamente.

Tratamento da Estenose Aórtica

O tratamento da Estenose Aórtica é uma das áreas em maior desenvolvimento na Cardiologia. Através da cirurgia cardíaca, é possível realizar troca da válvula aórtica por uma prótese – mecânica ou biológica. Atualmente, existem várias técnicas cirúrgicas, inclusive com mini-incisão. Temos um post aqui sobre o tema

“A plastia representa o reparo da válvula do paciente, sendo rarissimamente indicada nos casos de Estenose Aórtica reumática ou degenerativa. A abordagem é definida caso a caso, de acordo com as necessidades e características de cada pessoa.” – Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular (CRM 4370 / RQE 5893).

Priorize a sua saúde. Consulte seu cardiologista com frequência e fique atento aos sintomas da Estenose Aórtica.

CTA do ebook gratuito sobre causas, sintomas e opções de tratamento para estenose aórtica, produzido pela equipe Seu Cardio, de cirurgia cardiovascular.