Onde está inserido o paciente no sistema de saúde atual?

Onde está inserido o paciente no sistema de saúde atual?

A convite da equipe Seu Cardio, Andréa Bergamini* fala sobre o atendimento ao paciente no sistema de saúde atual. O tema é de extrema relevância, pois o paciente deve ser o objetivo principal de toda a cadeia de cuidado em saúde. Boa leitura!

Ao realizar uma breve pesquisa bibliográfica, é possível identificar inúmeras publicações relacionadas ao sistema de saúde em nosso País. Nelas, predomina o destaque para a importância da interação entre os diferentes players do setor. Estão envolvidos profissionais de saúde, rede prestadora (hospitais, clínicas, laboratórios, entre outros), fornecedores (de insumos, medicamentos e produtos para a saúde) e as fontes pagadoras (pública e privada). No entanto, onde está inserido o paciente neste contexto?

Inúmeros debates realizados entre os players citados convergem no discurso de que “o paciente deve ser colocado em primeiro lugar”. Mas, será que os interesses individuais de cada segmento não estão sobrepondo a real necessidade do paciente? Todos os integrantes estão trazendo uma visão holística para as tomadas de decisão?

Seguindo nesta linha de pensamento, faço aqui algumas ponderações. Para que o paciente realmente seja considerado a “razão da existência” deste setor – lembrando que todos nós somos pacientes –, algumas ações devem ser repensadas e consideradas.

Empoderamento dos Pacientes

Iniciando pelo uso adequado das tecnologias disponíveis atualmente, é fato que os avanços estão cada vez mais presentes na vida de todos (e em diferentes momentos). Na área da saúde, elas vêm contribuindo cada vez mais para a disseminação do conhecimento sobre a saúde e as doenças. Preliminarmente, o foco deste compartilhamento está mais voltado às doenças crônicas. Contribui para que o paciente se informe, se prepare para compreender o problema enfrentado e realize o autocuidado em saúde. Sem dúvida, tais ações contribuem para o seu empoderamento.

O empoderamento é um processo educativo. Ajuda o paciente a adquirir conhecimento, e desenvolver habilidades e atitudes necessárias para participar ativamente das decisões acerca da sua saúde. Pacientes mais informados, envolvidos e responsabilizados interagem de forma mais eficaz com os profissionais de saúde. Assim, podem realizar ações que produzam resultados efetivos e melhoram a qualidade de vida.

No entanto, o empoderamento não deve se restringir apenas às doenças crônicas, mas sim, envolver todo contexto de saúde. Assim, nos casos de intervenções cirúrgicas e/ou necessidade de tratamentos de alta complexidade, os pacientes precisam ter conhecimento de todas as possibilidades terapêuticas e os respectivos resultados, como também a oportunidade da busca de opiniões de outros profissionais da área.

Mas, como transformar o paciente em protagonista, por meio de tecnologias viáveis? Conforme John Halanka, professor da Harvard Medical School, a telemedicina é uma das tecnologias que coloca o paciente no centro. Halanka acrescenta ainda que a telemedicina empodera os pacientes para a tomada de decisão sobre sua saúde e é considerada uma alternativa eficiente e de baixo custo. Trata-se de uma inovação em saúde que contribui no processo de integração e decisão compartilhada entre os agentes envolvidos.

Heart Team

Cabe citar um exemplo já implantado em alguns serviços de saúde e que tem sua importância ratificada pelas sociedades brasileira e internacionais das especialidades, conforme publicações de seus guidelines: o Heart Team.

O Heart Team é composto por equipe multidisciplinar (cirurgia cardíaca, cardiologia intervencionista, cardiologia clínica, enfermagem, nutrição, fisioterapia, entre outros) que tem como objetivo discutir sobre as condutas terapêuticas de pacientes com doença arterial coronariana (DAC). Tais discussões têm por objetivo a tomada de decisão quanto ao tratamento mais adequado, caso a caso. Ou seja, o paciente está no centro dessas discussões.

Neste processo é possível identificar a visão holística do cuidado. O paciente é empoderado por meio de todas as informações recebidas e, assim, o sucesso do tratamento escolhido terá maior chance de ser alcançado. Aspectos nem sempre visíveis – tais como expectativas, anseios e dificuldades – poderão ser alcançados neste modelo. É essencial também considerar esses aspectos, para que sejam desenvolvidas novas soluções tecnológicas em saúde.

Modelo Assistencial Centrado no Paciente

Voltando ao parágrafo inicial deste texto, observa-se que todos os players do sistema de saúde devem repensar como o paciente está sendo inserido neste contexto. Dessa forma, será possível construir uma relação que propicie o seu empoderamento, tendo como premissa a ética, a transparência e o respeito à individualidade.

Acrescenta-se que as discussões e compromissos dos gestores de toda cadeia em saúde têm papel fundamental para propiciar esse empoderamento, a partir da integração dos serviços e garantia na qualidade da assistência prestada.

Por fim, para pensar em um novo modelo assistencial em saúde é necessário revisitar os modelos atuais. É preciso, também, qualificar os profissionais envolvidos para atuarem em uma assistência centrada ao paciente. Existem inúmeros modelos em discussão e não há uma “fórmula pronta”. Mas, acredite, deixar o paciente fora deste contexto, ao meu ver, é repetir os modelos já existentes.

Sobre a autora:

Andrea Bergamini
Andréa Bergamini é diretora técnica da empresa Gestão OPME; mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília; integrante do Grupo Técnico de Trabalho de Órteses, Próteses e Materiais Especiais, coordenado pelas Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Agência Nacional de Saúde Suplementar; parte do Comitê Técnico de OPME do Fórum Latino-Americano de Defesa do Consumidor e secretária-geral do Instituto Transparência Saúde (ITS).

Fatores de risco para a saúde do coração

Febre Reumática e Doenças do Coração

Febre Reumática e Doenças do Coração

O termo Febre Reumática está diretamente relacionado a dois sintomas que essa enfermidade pode causar: febre e reumatismo (dor nas articulações). No entanto, essa doença inflamatória, que costuma atingir crianças de 3 a 15 anos de idade, pode afetar, além das articulações, outros órgãos, como a pele, o cérebro e o coração. No caso do coração, pode deixar sequelas por toda a vida e até levar à morte.

 As Válvulas Cardíacas são as únicas estruturas que ficam com sequelas após a Febre Reumática, como insuficiência valvar e/ou estenose valvar, colocando a vida das pessoas em risco. Se não for prevenida ou tratada a tempo, a Febre Reumática pode fazer com que até mesmo crianças tenham que passar por cirurgias de reparo e para troca de válvulas, especialmente nas posições mitral e aórtica” – Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858). 

Abaixo, o Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858), explica como a Febre Reumática é provocada. Aborda, também, quais os riscos e como se proteger da doença.

Como acontece a Febre Reumática?

A Febre Reumática está muito associada às condições sanitárias e de acesso aos serviços de saúde. Ela tem início através de uma infecção respiratória provocada por algumas bactérias do grupo Streptococcus, muito comuns em nosso dia a dia. Tanto as amigdalites como as faringoamigdalites estreptocócicas podem ser o fator desencadeante da febre reumática.

As infecções na garganta têm um início bastante comum. Essa característica pode fazer com que o diagnóstico de Febre Reumática não seja feito de imediato. Clinicamente, as manifestações são:

  • Febre; 
  • Dor de garganta;
  • Caroços no pescoço (gânglios aumentados); 
  • Vermelhidão intensa, pontos vermelhos ou placas de pus na garganta.

Predisposição Genética

Apesar de comum, nem todas as crianças com infecções de garganta provocada por Streptococcus irão desenvolver Febre Reumática. Existem pessoas que sofreram com esse quadro inúmeras vezes ao longo da infância e da vida, e nunca tiveram Febre Reumática. Para desenvolvê-la, então, é necessário ter uma predisposição genética. 

 Para que a infecção na garganta possa evoluir para Febre Reumática, é preciso que a pessoa tenha uma característica particular no próprio organismo, que permita com que ela desenvolva uma reação imunológica anômala e faça com que a doença atinja outros órgão, como o cérebro e o coração. A predisposição necessária para apresentar a doença é herdada dos pais e já nasce com a criança– Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858).

Manifestações da Febre Reumática

Como vimos, nem todas as pessoas com infecções de garganta provocadas por Streptococcus irão desenvolver Febre Reumática. No entanto, aqueles que possuem histórico de doença  na família devem ficar muito atentos.

Em geral, as manifestações da Febre Reumática tendem a surgir entre uma a três semanas após a infecção de garganta. Elas costumam envolver: 

Artrite migratória:

Passa de uma articulação para outra após alguns dias. A dor intensa, o inchaço e o calor provocam dificuldades para caminhar. Joelhos, tornozelos, punhos e cotovelos são as articulações mais acometidas. Já quando a manifestação é cerebral, no caso a Coréia, esta pode levar meses para surgir. 

Cardite:

Inflamação em uma ou mais das três camadas do coração (na membrana que o reveste, no músculo e no tecido que recobre as válvulas). Pode ser diagnosticada clinicamente pelo sopro cardíaco, pelo aumento da freqüência dos batimentos do coração e pelas queixas de cansaço e batedeira aos esforços.

 Trata-se da manifestação mais importante. Pode deixar sequelas nas válvulas, que não conseguem mais abrir ou fechar direito. Dessa forma, limitam a vida do paciente – mesmo os mais jovens” – Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858).

Coréia:

Coréia é o nome de uma manifestação no Sistema Nervoso Central. É caracterizada por mudanças bruscas de humor, fraqueza nos braços e pernas, e por movimentos involuntários que pioram quando a criança fica tensa e que desaparecem durante o sono.

Importante: Nem toda criança com Febre Reumática apresenta febre como sintoma, especialmente após o quadro de infecção na garganta ter cessado. Os problemas articulares e cardíacos se manifestam mais próximo ao episódio de infecção na garganta. Porém, no Sistema Nervoso Central, podem se manifestar muito tempo após o quadro infeccioso ter cessado.

Diagnóstico de Febre Reumática

O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento da febre reumática e para impedir possíveis sequelas no coração. Ele é, por essência, clínico. Não existe, ainda hoje, um teste laboratorial com marcador específico para a doença. Amigdalite e faringite podem indicar contato com a bactéria Streptococcus e devem ser observadas com atenção.

 Os critérios clínicos para diagnóstico da Febre Reumática existem desde 1942. Passaram por revisão em 1992 e, a última, em 2015, incluiu o Ecocardiograma como ferramenta para diagnosticar lesões já existentes antes mesmo da ausculta” –  Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858). 

Tratamento da Febre Reumática

O tratamento da Febre Reumática é feito com penicilina. Trata-se de um antibiótico que deveria ser de fácil acesso, mas que pode não ser para pessoas que vivem em comunidades interioranas, por exemplo. O tratamento deve ser realizado o quanto antes, mesmo que a infecção na garganta tenha acontecido há mais de 3 semanas.

 “A forma mais eficaz de tratamento é a penicilina injetável, que age por vários dias. No tratamento oral, as pessoas podem acabar esquecendo de tomar a medicação e ficarem expostas. A eficácia do tratamento injetável costuma ser bastante alta. Tem por objetivo eliminar as bactérias o mais rápido possível e, assim, impedir a exposição do organismo a ela . Com isso, evita-se o desenvolvimento da reação imunológica que pode atingir as valvas cardíacas, por exemplo” – Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858).

A artrite, dependendo do diagnóstico médico, poderá ser tratada com anti-inflamatórios não hormonais, por algumas semanas. Para o tratamento da Coréia – também de acordo com avaliação médica – o haloperidol ou o ácido valpróico podem ser indicados até os movimentos cessaram.  

Já para o comprometimento do coração, recomenda-se o acompanhamento de um cardiologista. Ele poderá prescrever doses específicas de corticoide para o tratamento. Nos casos mais graves, a cirurgia cardiovascular pode ser necessária. Ela pode reparar as valvas (plastia) ou a substituir a valva nativa danificada por uma prótese biológica ou mecânica pode ser necessário” – Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858).

 

Por quanto tempo tomar a Penicilina?

Ainda não existe uma vacina para prevenir a Febre Reumática. Por isso, aqueles que possuem histórico de doença na família devem ficar muito atentos. Diferente de outras doenças em que o paciente adquire imunidade parcial ou total após o primeiro evento, a Febre Reumática pode ser recorrente diversas vezes ao longo da vida. Assim, pode deteriorar cada vez mais as valvas cardíacas – podendo ser necessária cirurgia para plastia ou troca valvar.

  • Prevenção primária: Envolve desde medidas de higiene básicas, como lavar as mãos corretamente e evitar contato com pessoas doentes, até a adoção de políticas de saneamento e saúde mais complexas, com diagnóstico e tratamento precoces de infecções suspeitas de serem causadas por estreptocócica. O ideal é evitar o contato com a bactéria. Em casos suspeitos, não deixar que as infecções de garganta por Streptococcus possam evoluir – especialmente em pessoas que possuem histórico familiar da doença.
  • Prevenção secundária: Uma vez que a Febre Reumática foi diagnosticada e que pode acontecer várias vezes ao longo da vida, é muito importante que as pessoas que já adquiriram a doença realizem a prevenção secundária. Especialmente quem trabalha e convive com aglomerado de pessoas e/ou pessoas doentes diariamente ou com muita frequência. É o caso de professores, profissionais da saúde e militares, por exemplo.

Se, após o episódio de Febre Reumática, a criança não apresentou comprometimento do coração, ela deverá tomar penicilina até os 21 anos ou por, no mínimo, 5 anos após o diagnóstico, caso seja um adolescente. Já as crianças com comprometimento do coração poderão ter que fazer isso até os 25 anos ou por toda a vida. A conduta depende da gravidade do quadro e do grau de exposição que possuem” – Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858).

Sobre o autor:

Dr. Maurício Laerte Silva, Cardiologista Pediátrico (CRM-SC 2858). Formou-se pela Universidade Federal de Santa Catarina (1974 – 1979), foi Médico do Hospital Universitário (1983 – 2015) e Professor colaborador da UFSC (1988 – 2008). Cursou Residência Médica em Pediatria no Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis,SC, e Especialização em Cardiologia Pediátrica, Ecocardiografia e Aperfeiçoamento em Recuperação Cardíaca em Pós-Operatório Infantil no Instituto do Coração, (INCOR), em São Paulo. Mestrado em Ciências Médicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (1998 – 2000), Mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2013-2016) e Doutorado em Ciências Médicas (2010-2015) pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Diretor geral no Hospital Infantil Joana de Gusmão (2003 a 2011 e 2017-2018), Dr. Maurício Laerte também possui experiências internacionais. No National Institute of Child Health and Human Development, NICHD,Wayne State University Hospital,  em Detroit, Michigan, Estados Unidos, realizou Aperfeiçoamento em Cardiologia Fetal, no programa de Perinatal Research Post Doctoral Fellowship (1993-1994). Na Georgetown University, GU, em Washington DC, Estados Unidos, realizou Aperfeiçoamento em Cardiologia Fetal, no programa de Perinatal Research Post Doctoral Fellowship(1994-1995), complementado em Santiago, Chile , no Hospital Sótero Del Rio(1994-1995).

 

 

prevencao-de-problemas-cardiacos-infancia

Principais Impactos da Doença Coronariana

Principais Impactos da Doença Coronariana

Assim como acontece com todas as células do nosso organismo, as células que fazem parte do músculo cardíaco e das demais estruturas do coração também precisam receber sangue com oxigênio e nutrientes para manterem-se vivas. As artérias coronárias são os principais vasos sanguíneos responsáveis por essa função. E é por isso que a doença coronariana é tão grave.

“Sem oxigênio, as células do coração entram em isquemia e morrem. Esse problema pode ser provocado por diversos fatores, relacionados ou não às artérias coronárias” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

O uso de drogas como a Cocaína, por exemplo, pode provocar espasmos nos vasos sanguíneos coronarianos e prejudicar a oxigenação e funcionamento do músculo cardíaco. Há casos também de formação de coágulos em outras regiões do corpo (até mesmo dentro do coração) que se desprendem e acabam por obstruir as artérias coronárias. 

A frequência cardíaca acelerada (taquicardia) é outro exemplo. Ela pode  cursar com aumento da demanda de oxigênio a um ponto em que a árvore coronariana não consegue sustentar. De forma oposta, quadros infecciosos localizados ou generalizados (Sepse) podem reduzir o aporte de oxigênio e provocar isquemias, que irão cursar com doença coronariana. 

No entanto, quando falamos de doença coronariana, não podemos deixar de falar da aterosclerose:

“A aterosclerose, doença que causa degeneração e obstrução progressiva dos vasos sanguíneos, é responsável por mais de 90% dos casos de isquemia. Ela tem avanço lento e pode demorar a dar os primeiros sintomas” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).  

A doença coronariana  – como a aterosclerose – pode levar a eventos cardíacos graves, como o surgimento de arritmias, o infarto do coração e a morte súbita

Aterosclerose

Em condições normais, o suprimento de sangue para as células do coração é contínuo. No entanto, os estudos mostram que desde a infância, tanto por características genéticas, como por hábitos de vida nocivos, como o sedentarismo e consumo de alimentos industrializados (ricos em açúcares e gorduras), as pessoas podem vir a acumular placas obstrutivas nas paredes das artérias, conhecidas popularmente por “placas de gordura”.

Tais “placas de gordura” vão aos poucos inflamando, ganhando tamanho e prejudicando o fluxo de sangue oxigenado para os músculos do coração. Além disso, em alguns casos, elas podem vir a se romper e a extravasar todo o conteúdo gorduroso na luz da artéria, obstruindo de forma aguda a passagem de sangue.

“É assim que acontece o infarto agudo do miocárdio. Isso significa que parte do músculo cardíaco (miocárdio) não está mais recebendo o sangue que traz oxigênio para as células. Isso pode acarretar morte de tecido muscular em pouco tempo. O quadro se apresenta, na maior parte das vezes, como dor no peito (angina), com irradiação para os braços e pescoço” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Infarto Agudo do Miocárdio

Quando o infarto acontece, o atendimento deve ser urgente. Com a obstrução total da artéria, a lesão do músculo cardíaco é progressivamente maior com o passar dos minutos. Se o fluxo sanguíneo não for restabelecido rapidamente, instala-se a necrose do músculo daquela região não irrigada. Dependendo da extensão do músculo cardíaco afetado, o caso fica mais grave e a possibilidade de sequelas permanentes, ou mesmo de morte, fica maior.

Vale ressaltar que nem sempre a artéria do coração com a doença coronariana mais severa irá provocar o infarto. Uma lesão moderada ou mesmo pequena em uma coronária pode ser o local de formação de um trombo e provocar o infarto.

“O infarto pode acontecer de diversas formas. Há casos em que a artéria coronária não é completamente obstruída e que uma pequena quantidade de sangue ainda consegue fluir. No entanto, até mesmo as isquemias transitórias podem ter consequências graves. Entre elas, as arritmias, a morte súbita e a Insuficiência Cardíaca” –  Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Arritmias e Morte Súbita

Uma vez sem oxigênio, e caso o paciente sobreviva, a região do músculo cardíaco onde ocorreu a morte de células tenta se regenerar. Nesse processo, pequenas cicatrizes são formadas. No lugar das células saudáveis mortas, formam-se áreas de tecido fibroso.

“O grande problema é que essas novas áreas formadas pelas cicatrizes das células mortas possuem comportamento elétrico diferente das células cardíacas originais. Assim, a eletricidade que faz o coração bater passa por essas novas áreas com velocidade e forma diferentes do normal. Esse fato pode provocar arritmias graves e morte súbita” – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Insuficiência Cardíaca

Outra consequência direta dos quadros de isquemia e de infarto é a Insuficiência Cardíaca, doença caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue suficiente para atender às demandas do organismo.

“Trata-se de uma doença muito limitante. Mais de 50% dos casos de insuficiência cardíaca são causados pela isquemia”Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790). 

Pacientes com Insuficiência cardíaca costumam apresentar falta de ar, grande dificuldade para realizar esforços físicos e baixa qualidade de vida. 

Prevenção da Doença Coronariana

Para reduzir a mortalidade e as sequelas provocadas pela doença coronariana, prevenção é fundamental. A adoção de um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e prática de exercícios físicos pode ajudar a evitar eventos graves e reduzir os seus impactos sobre a qualidade de vida das pessoas.

Além disso, é muito importante realizar o acompanhamento periódico com o médico cardiologista.

“O médico cardiologista poderá realizar uma série de exames e avaliações para determinar qual o risco que o paciente tem de desenvolver doença coronariana no futuro. E, dependendo dos resultados, traçar estratégias de prevenção, que podem envolver inclusive o uso de medicamentos para a pressão e para o controle do colesterol”  – Daniel Medeiros Moreira, Médico Cardiologista (CRM-SC 11708 RQE 7790).

Caso algum evento cardíaco aconteça, é fundamental procurar o atendimento médico o quanto antes. Lembre-se: tempo é músculo. Quanto mais tempo uma pessoa leva para ser atendida durante uma situação de infarto, mais músculo cardíaco morre e pior a situação do paciente.

Sobre o autor:

Daniel Medeiros Moreira (CRM-SC 11708 RQE 7790) é Médico Cardiologista. Concluiu graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2004, com mérito por melhor desempenho acadêmico. É especialista em Medicina Interna pelo Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani São Thiago (HU-UFSC), especialista em Cardiologia pelo Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul (IC-FUC) e em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Mestre e Doutor em Ciências da Saúde: Cardiologia, pelo Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul (IC-FUC). Atualmente, é Cardiologista do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC), professor das disciplinas de Semiologia I, Semiologia II e Sistema Cardiorrespiratório na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Diretor de Qualidade Assistencial da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Seção Santa Catarina (SBC/SC). Atua com pesquisa em diferentes tópicos, dentre os quais, Inflamação, Síndrome Coronariana Aguda, Insuficiência Cardíaca e Música em pacientes com cardiopatias.

 

Banner azul claro com texto em azul-escuro: "7 Dúvidas sobre a Cirurgia de Revascularização do Miocárdio. Ebook Gratuito"

 

Insuficiência Valvar: indicações e tratamentos

Insuficiência Valvar: indicações e tratamentos

Para falarmos de insuficiência valvar, precisamos entender que as válvulas cardíacas funcionam como quatro portas. Localizadas entre as quatro câmaras do coração, elas devem permitir a passagem do sangue apenas no sentido correto da circulação – e se fechar para eventuais refluxos. 

“A insuficiência valvar acontece quando uma das quatro válvulas do coração torna-se incompetente na sua função de fechar, permitindo o refluxo de sangue. Esse refluxo, com o passar do tempo, pode levar à falência de bomba do coração”  – Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular em Florianópolis/SC (CRM 4370 / RQE 5893).

Efeitos Degenerativos

Caso não seja tratada, a insuficiência valvar tende a tornar-se cada vez mais grave. O problema, originado e, até certo ponto, localizado nas válvulas, pode ter impacto direto sobre a bomba cardíaca como um todo.

“A insuficiência valvar provoca uma perda gradual na força contrátil do coração. Isso faz com que a quantidade de sangue ejetado pelo órgão a cada batimento (fração de ejeção) seja cada vez menor, levando a um quadro clínico chamado de insuficiência cardíaca” –  Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular em Florianópolis/SC (CRM 4370 / RQE 5893).

A insuficiência valvar pode provocar sintomas diversos, que variam de acordo com a válvula afetada. A manifestação mais comum da doença, no entanto, é o cansaço excessivo e a falta de ar.

Tratamento da Insuficiência Valvar

Os tratamentos para a insuficiência valvar podem envolver o reparo cirúrgico da válvula (plastia valvar) ou a substituição dessa estrutura por uma prótese valvar mecânica ou biológica – a exemplo das novas próteses com Tecnologia Resilia.

“Além de estarem posicionadas em regiões diferentes dentro do coração, as válvulas cardíacas possuem características particulares que exigem abordagens próprias”  – Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular em Florianópolis/SC (CRM 4370 / RQE 5893).

Válvula Mitral (localizada entre o átrio e o ventrículo esquerdos):

Hoje, existe uma grande variedade de técnicas que fazem com que o reparo cirúrgico, plastia da valva mitral, seja considerado o padrão ouro nos casos de insuficiência valvar mitral degenerativa – que cursa com insuficiência severa da valva mitral.

Válvula Aórtica (localizada entre o ventrículo esquerdo e a artéria aorta):

Apesar do contínuo desenvolvimento e da crescente popularidade, a plastia da válvula aórtica ainda se reserva a casos selecionados. Por isso, em geral, o tratamento mais indicado costuma ser a substituição da válvula original por uma prótese valvar mecânica ou biológica.

Válvula Tricúspide (localizada entre o átrio e ventrículo direito):

A disfunção da válvula tricúspide costuma estar relacionada à insuficiência decorrente da dilatação do coração. No geral, pacientes que apresentam doença valvar no lado esquerdo do coração (mitral ou aórtica) tendem a apresentar insuficiência valvar também no lado direito, na válvula tricúspide.

“A plastia da válvula tricúspide vem mostrando resultados muito bons a curto, médio e longo prazos. É cada vez mais comum a associação do tratamento das válvulas do lado esquerdo do coração (mitral e aórtica) à plastia da válvula tricúspide” –  Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular em Florianópolis/SC (CRM 4370 / RQE 5893).

Válvula pulmonar (localizada entre o ventrículo direito e a artéria pulmonar):

Trata-se de um tipo raro de insuficiência valvar, geralmente relacionado às cardiopatias congênitas. O tratamento costuma ser realizado ainda na infância.

Próteses Valvares Cardíacas

Dependendo das causas que levam à doença, a insuficiência valvar não pode ser tratada com a plastia das válvulas cardíacas. Esse, por exemplo, costuma ser o caso da doença reumática, que provoca uma retração muito grande das válvulas, impossibilitando a plastia. Nesses casos, a alternativa passa a ser o implante valvar, seja de próteses biológicas como de próteses mecânicas.

“A decisão sobre qual modelo de prótese deverá ser implantada leva em consideração a idade do paciente. Isso porque as próteses biológicas têm durabilidade menor em pacientes mais jovens. Outro ponto observado é a aceitação do paciente em tomar ou não a medicação anticoagulante oral – e da realização dos exames para controle de TAP – uma vez que essa é uma exigência para o implante das  próteses mecânicas” – Dr. Sergio Lima de Almeida, Cirurgião Cardiovascular em Florianópolis/SC (CRM 4370 / RQE 5893).

Fique atento à insuficiência valvar. Converse com o seu cardiologista sobre o essa doença e informe-se sobre as possibilidades de tratamento. É importante que você entenda os prós e contras de cada conduta e avalie a melhor opção para você.

 

CTA-valvulas-cardiacas-tudo-o-que-voce-precisa-saber

 

Cardio-oncologia: mais segurança para pacientes com câncer

Cardio-oncologia: mais segurança para pacientes com câncer

Projeções realizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, até 2040, o câncer deve superar as doenças vasculares (Infarto Agudo do Miocárdio e Acidente Vascular Cerebral) como a principal causa de morte no mundo. Nesse cenário, os tratamentos multidisciplinares em cardio-oncologia tornam-se cada vez mais relevantes.

Gráfico de previsão de mortes por ano, a previsão para as mortes causadas por câncer é de 20 milhões em 2060.

Previsão de mortes no mundo, em milhões.

“A oncologia e a cardiologia precisam trabalhar juntas. Os medicamentos e a radiação utilizados na quimioterapia e na radioterapia podem provocar graves efeitos no coração do paciente. É o que conhecemos como cardiotoxicidade do tratamento contra o câncer” – Dr. Antonio Felipe Simão, Médico Cardiologista (CRM-SC 1487).

Uma única sessão de quimioterapia pode reduzir a capacidade do coração do paciente de ejetar sangue em até 30% – comprometendo gravemente a sua qualidade de vida.

Abaixo, o Dr. Antonio Felipe Simão (CRM-SC 1487), Médico Cardiologista, mostra a importância de realizar o acompanhamento cardiológico de forma integrada ao tratamento contra o câncer.

Efeitos sobre o coração

Apesar de extremamente necessários, os medicamentos e radiações utilizados para combater os diferentes tipos de câncer podem provocar a morte das células do coração. Com isso, muitas mudanças bioquímicas, fisiológicas e na morfologia do músculo cardíaco acontecem. Doenças como Insuficiência Cardíaca, Arritmias e Infartos Agudos são algumas da consequências – e podem ser prevenidas com o auxílio da cardio-oncologia.

“Nem todos os pacientes em tratamento contra o câncer sofrem com problemas cardíacos. Estudos mostram que esses efeitos atingem entre 5% a 30% dos pacientes oncológicos” – Dr. Antonio Felipe Simão, Médico Cardiologista (CRM-SC 1487).

Cardiotoxicidade

Conforme o tipo de tratamento contra o câncer, a cardiotoxicidade dos fármacos utilizados pode acontecer de duas formas:

  • Cardiotoxicidade Tipo 1: Atinge o coração de forma irreversível. Assim, mesmo que a pessoa seja curada do câncer, o seu coração ficará debilitado de forma permanente.
  • Cardiotoxicidade Tipo 2: Nesses casos, os transtornos provocados ao coração podem ser revertidos.

“Muitas vezes, a única opção para o tratamento de um câncer é o uso de medicamentos com cardiotoxicidade irreversível. Em outras, é possível utilizar medicamentos que não provocam danos permanentes ao miocárdio. Existem também as relações entre dose e velocidade de infusão” – Dr. Antonio Felipe Simão, Médico Cardiologista (CRM-SC 1487).

Para calcular os riscos, no entanto, é muito importante conhecer o real estado de saúde cardíaca do paciente.

Fatores de Risco

Durante o tratamento oncológico, as pessoas que já apresentam problemas cardíacos correm o risco de ter a sua doença agravada. Já os pacientes que não apresentam doença estabelecida, mas que possuem fatores de risco como Hipertensão e Diabetes, têm maiores chances de desenvolver alguma doença no coração. Em ambos os casos, o acompanhamento em cardio-oncologia é indispensável

Acompanhamento em cardio-oncologia

Para prevenir problemas ao coração, o ideal é que os pacientes oncológicos façam uma avaliação cardiológica completa antes mesmo de iniciarem a quimioterapia ou a radioterapia.

Nessa avaliação, além dos exames clínicos, o médico cardiologista poderá solicitar exames de sangue específicos, para avaliar os marcadores de saúde cardiovascular como as Troponinas e o BNP (Peptídeo Natriurético). Além desses, o cardiologista também poderá solicitar exames de imagens, como o Ecocardiograma, para uma avaliação estrutural do coração.

“Uma vez feitos esses exames, o médico cardiologista deverá repassar as informações obtidas ao médico oncologista. Assim, ele poderá avaliar com maior precisão os risco de administrar determinadas drogas ou tratamentos” – Dr. Antonio Felipe Simão, Médico Cardiologista (CRM-SC 1487).

Prevenção

O acompanhamento com o médico cardiologista deve continuar ao longo de todo tratamento oncológico. O objetivo principal é acompanhar como o coração do paciente está respondendo à quimioterapia ou radioterapia, e prevenir complicações.

Para isso, os médicos cardiologistas podem repetir periodicamente os exames já realizados, para comparar os resultados.

“É importante também que o médico oncologista repasse ao médico cardiologista informações sobre o tratamento do paciente, como quais fármacos estão sendo administrados e em que dose. Isso é importante para uma avaliação cardiológica mais segura. A comunicação entre as duas especialidades pode ser decisiva para a sobrevida dos pacientes” – Dr. Antonio Felipe Simão, Médico Cardiologista (CRM-SC 1487).

Segurança

Uma vez diagnosticada alguma complicação cardíaca decorrente do tratamento oncológico, os médicos poderão avaliar com maior segurança a melhor conduta a ser tomada em cardio-oncologia.

Em alguns casos, os problemas cardíacos podem ser evitados com a administração de remédios específicos. Em outros, mais avançados, é necessária a realização de procedimentos cirúrgicos. Até mesmo mudanças na conduta do tratamento contra o câncer podem ser necessárias. Quanto antes o problema cardíaco for diagnosticado, maiores as chances de cura.

“As chances de que um paciente com câncer venha a falecer por problemas cardíacos é real. A intenção da cardio-oncologia é prevenir esse tipo de desfecho, garantindo uma melhor qualidade de vida durante e após o tratamento oncológico” – Dr. Antonio Felipe Simão, Médico Cardiologista (CRM-SC 1487).

Cuide da sua saúde. Converse com o seu médico sobre a cardio-oncologia e faça o seu tratamento contra o câncer com mais segurança!

Banner verde água, com o desenho de coração com uma placa em forma de losango e um ponto de exclamação dentro. Ao lado, está escrito: "fatores de risco para a saúde do coração, ebook gratuito."